Fundeb recebe elogios e ressalvas em reunião de duas
comissões
Reunidas conjuntamente, as Comissões de Educação,
Cultura, Ciência e Tecnologia e de Participação Popular da
Assembléia Legislativa debateram nesta quinta-feira (28/4/05), a
proposta de criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica (Fundeb), especialmente quanto ao financiamento da
educação infantil (de 0 a 6 anos). O Fundeb deverá substituir o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
(Fundef), de acordo com teor da proposta de emenda constitucional
(PEC), que vai ser encaminhada ao Congresso, pela Casa Civil da
Presidência da República, até o final de maio.
Representantes do Ministério da Educação (MEC), da
Secretaria de Estado da Educação, de movimentos civis, entidades da
área e deputados presentes reconheceram que o novo fundo vai
representar um avanço em relação ao Fundef, por representar uma
política nacional para toda a educação básica e não apenas para o
ensino fundamental, além de ampliar a base de atendimento. Contudo,
discordaram quanto ao percentual de financiamento da educação
infantil. Enquanto o MEC fala em um financiamento menor para esta
modalidade da educação, em relação ao ensino fundamental, entidades
como o Fórum Mineiro de Educação Infantil querem tratamento igual
para os dois segmentos.
Para o coordenador-geral do Fundeb, Wander Oliveira
Borges, a diferenciação explica-se porque os recursos do fundo têm
um limite , "por isso é preciso estabelecer prioridades e a educação
infantil, mesmo sendo importante, prioritária, não tem o sentido da
universalização de atendimento como e ensino fundamental e médio".
Ele destacou como um dos avanços do novo fundo, seu caráter
redistributivo: "pega os recursos que já existem, com as fontes
correspondentes e redistribui com outro caráter", enfatiza. E
destacou também a ampliação da abrangência do Fundeb, que atenderá o
ensino infantil, fundamental e médio.
Diferenças entre os dois fundos merece elogios de
todos
Dirigindo a reunião, o deputado Doutor Viana (PFL),
presidente da Comissão de Educação, fez um apanhado da proposta do
novo fundo, que foi discutida ao longo de 2004, com a sociedade
civil, até chegar no anteprojeto que está em poder da Casa Civil
desde dezembro do ano passado. O representante do MEC resumiu os
principais pontos do Fundeb e suas diferenças em relação ao
Fundef.
O Fundeb, assim como o Fundef, teria duração de 10
anos. A abrangência do novo fundo seria o ensino infantil,
fundamental e médio (em todas as modalidades, como ensino rural,
urbano, de índios, profissionalizante, educação especial). O Fundef
atende somente o ensino fundamental (1ª a 8ª série).
Além da elevação do percentual de 15% para 20%, as
fontes de financiamento do Fundeb também são ampliadas, passam a
incluir impostos dos estados e municípios, como Fundo de
Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), ICMS, Lei Kandir, Imposto sobre Transmissão Causa Mortis
(ITCM), IPVA, quota parte de 50% do Imposto Territorial Rural
(ITR) devida aos municípios, Imposto sobre Renda e Proventos
incidentes sobre rendimentos pagos pelos municípios e estados. O
Fundef tem financiamento de 15% e três impostos a menos. Impostos
como o IPTU, ITBI e ISS deixam de entrar na composição do fundo.
A complementação da União ao Fundeb também mudaria,
segundo o representante do MEC, passando de R$ 737 milhões para R$
4,5 bilhões, recursos oriundos de desvinculação de receitas da
União, como IR e IPI, a qual seria integralizada ao final do quarto
ano de implantação do fundo. Outra diferença seria assegurar na
Constituição esta participação, o que não existe em relação ao
Fundef, participação que chegaria a 10% do total do fundo, no quarto
ano da implantação. A utilização dos recursos seria outro
diferencial, com destinação mínima de 60% para a remuneração dos
profissionais da educação. Wander Borges lembrou que enquanto o
Fundef atende a 30 milhões de alunos em todo o País, o novo fundo
deverá atingir 48 milhões de alunos.
Minas Gerais não seria beneficiado com novo
fundo
Mesmo enfatizando que não é contra o Fundeb, que
apóia sua implantação, o subsecretário do Sistema de Educação de
Minas Gerais, Gilberto Resende, disse que o novo fundo não trará
qualquer benefício para o Estado, "por que não tem recursos novos".
Resende destacou que o Fundeb beneficiará estados e municípios que
ainda não aplicam percentuais próximos dos 25% constitucionais na
Educação.
Isto porque ao passar a composição de 15% para 20%,
o Fundeb estará liberando 5% para investimento no setor, "mas Minas
Gerais já aplica mais do que isso de seus impostos na educação". Por
isso, ele disse que o Estado pretende brigar para que o Fundeb
defina recursos adicionais; que também especifique os índices
destinados a cada modalidade do ensino; e que a contribuição da
União seja compulsória, como é a dos estados e municípios. E que
haja respeito ao artigo 211 da Constituição Federal, que define as
competências de atendimento da educação entre os entes
federados.
Um índice igual ao do ensino fundamental para a
educação infantil foi defendido pela representante do Fórum Mineiro
de Educação Infantil, Rita de Cássia Freitas Coelho. Ela disse que
esta modalidade não pode ser considerada menos importante na nova
política, apesar de constitucionalmente não ser obrigatória. Ela
lembrou que a modalidade tem grande importância na situação
sócio-econômica da população e considerou um retrocesso essa
diferenciação entre as modalidades. Rita de Cássia pediu que a nova
proposta venha acompanhada dos termos de sua regulamentação, a fim
de que sejam conhecidos todos os aspectos práticos da questão, como
os índices de financiamento destinados a cada modalidade da
educação.
Já a representante do Sindi-Ute, Adriana do Carmo
Ferreira, mesmo reconhecendo também os avanços do Fundeb, apresentou
uma lista de reivindicações, com ênfase no aumento de 60% para 80%
como percentual do fundo a ser utilizado na remuneração dos
profissionais da educação. A representante da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e secretária de educação
de Pará de Minas, Cristina Miranda Pereira, concordou com as análise
sobre os avanços do Fundeb, mas afirmou que a exclusão dos impostos
municipais (IPVA, ISSQN), da composição do fundo não vai garantir
mais recursos para a educação.
Os deputados elogiaram o novo fundo, enfatizando,
como fez André Quintão, que trata-se de uma política pública
nacional. Já a deputada Ana Maria Resende (PSDB) pediu que o Fundeb
não onere mais os municípios. A deputada Elisa Costa (PT) destacou
que o fundo é uma seqüência da democratização das discussões sobre a
educação que vêm acontecendo em todo País, enquanto a sua
companheira de partido e presidente da Comissão de Participação
Popular, Maria Tereza Lara, destacou a ampliação da abrangência, com
a inclusão do ensino infantil e do médio.
Presenças - Deputados
Doutor Viana (PFL), presidente da Comissão de Educação; André
Quintão, Rogério Correia e Ricardo Duarte, do PT; Leonídio Bouças
(PTB), Paulo Piau (PP); e as deputadas Maria Tereza Lara (PT),
presidente da Comissão de Participação Popular; Elisa Costa (PT) e
Ana Maria Resende (PSDB), vice-presidente da Comissão de Educação.
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