Defesa do Consumidor questiona empréstimos para aposentados

Contratação de empréstimos bancários por telefone, sem assinatura de contrato; discrepâncias, no empréstimo, entre o ...

28/04/2005 - 00:01
 

Defesa do Consumidor questiona empréstimos para aposentados

Contratação de empréstimos bancários por telefone, sem assinatura de contrato; discrepâncias, no empréstimo, entre o que é anunciado e o cumprido, principalmente em relação a valor, prestação e taxas de juros. Esses foram os principais problemas levantados pela Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte, nesta quinta-feira (28/4/05), na reunião que discutiu as dificuldades enfrentadas pelos aposentados e pensionistas com a contratação de empréstimos bancários. Aproveitando a ocasião e afinidade do assunto, foram também abordados os empréstimos destinados a servidores públicos com desconto em folha de pagamento.

O coordenador do Procon-Assembléia, Marcelo Barbosa, que resumiu essas dificuldades no início da reunião, denunciou que mais de 50% dos anúncios de empréstimos para idosos nos meios de comunicação seriam "picaretagem pura". Esses anúncios com artistas globais estariam induzindo o aposentado a contratar financiamentos com desconto em contracheque. Barbosa reclamou da ausência de representante do Banco Shahin, convidado para a reunião. Na opinião dele, essa instituição e as outras que oferecem esse tipo de empréstimo deveriam explicações aos consumidores.

A vice-presidente da comissão, deputada Lúcia Pacífico (PTB), e o deputado João Leite (sem partido) também lamentaram a ausência de representantes dos bancos e defenderam nova reunião com a participação desse segmento. A deputada engrossou as críticas, dizendo que "os anúncios são propaganda enganosa; o que é crime!" Para ela, muitas pessoas estão sendo lesadas por essa propaganda maciça em horários nobres da televisão.

Aposentado paga quase o dobro do valor emprestado

O presidente da comissão, deputado Chico Rafael (PMDB), disse que ligou para o Banco BGN e fez uma simulação de empréstimo como se fosse para um aposentado. Com um ganho de R$1.000,00, ele teria direito a um empréstimo de R$5.572,00, que seriam pagos em 36 parcelas de R$293,44, o que representa um taxa real de juros de 3,72% ao mês. Ao final, o aposentado pagaria R$9.700,00, quase o dobro do valor contratado. O deputado concluiu que os bancos, ao oferecerem empréstimos nessas condições, equiparavam-se a "um bando de abutres, atacando o que resta do miserável aposentado".

O presidente do Conselho Estadual do Idoso, Felipe Willer de Araújo Abreu Júnior, questionou o aparente benefício dos empréstimos para aposentados. De acordo com ele, com as inúmeras taxas cobradas (inclusive por empresas que intermediam o financiamento) a prestação sobe consideravelmente, tornando o financiamento desvantajoso para os idosos. Como agravante, Willer destacou que os aposentados e pensionistas, em sua grande maioria, recebem benefícios baixos e são arrimo de cerca de 40% das famílias brasileiras. Felipe Willer relatou também casos de idosos que tiveram descontos em seus benefícios, referentes a empréstimos não contratados por eles.

Também o presidente da Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais, Hermélio Soares Campos, considerou que os empréstimos para a categoria, com taxas entre 1,75% e 2,80% ao mês, não são um benefício. Ele avaliou que o governo quis mostrar que o Brasil estava crescendo às custas do endividamento dos aposentados. "Se tivessem recuperado nossas perdas salariais, não precisaríamos de empréstimos", denunciou.

INSS e Seplag esclarecem regras para empréstimo

O gerente executivo do INSS em Minas Gerais, Pitágoras Tadeu Miranda, fez algumas ponderações com relação aos empréstimos com desconto no benefício de aposentados. Ele declarou que qualquer irregularidade é apurada pelo INSS junto ao banco responsável, sendo que todas as instituições que realizam essas operações tem que ser necessariamente conveniadas pelo órgão. Informou ainda que o INSS só permite essa operação para aposentadorias por tempo de serviço ou invalidez, excluídas aquelas por doença. Além disso, a prestação do financiamento não pode ultrapassar 30% do benefício, depois de deduzidos todos os descontos.

Pitágoras disse também que o grande interesse dos bancos em conceder empréstimo aos aposentados se deve ao baixo risco da operação e a possibilidade mínima de inadimplência. Ele apresentou também alguns números: em Minas Gerais, há 1,940 milhão de segurados do instituto, que recebem um montante de R$ 50 milhões por mês. Em 65% dos municípios do Estado, o valor que circula em benefícios do INSS é maior que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Estado - O superintendente de Gestão de Recursos Humanos da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Antônio Luiz Musa de Noronha, fez esclarecimentos quanto a empréstimos concedidos a servidores públicos estaduais. Ele disse que só é permitido desconto na folha do servidor com autorização por escrito, em documento próprio do Estado. Noronha declarou que todos os problemas com descontos em folha foram encaminhados à Polícia para investigação e os servidores não tiverem nenhum prejuízo. Isso porque as instituições envolvidas tiveram que restituir os prejuízos aos servidores lesados, condição para permanecerem conveniadas no Estado. Atualmente, o índice de inadimplência nesse tipo de empréstimo está em torno de 7%, informou ele.

Requerimentos aprovados:

* Da deputada Lúcia Pacífico, três requerimentos solicitando: ofício pedindo providências ao Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) visando corrigir as distorções verificadas nos comerciais dos bancos que oferecem empréstimos ao aposentado, levando-o ao engano; apelo ao presidente da Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), para que autorize a edição do Código de Defesa do Consumidor e do Manual do Consumidor; e audiência pública para discutir as circunstâncias em que se efetivou o aumento nas contas de água, com a participação do presidente da Copasa e de representantes do Procon e da Agência Nacional das Águas (ANA);

* Do deputado Chico Rafael, solicitando apelo ao Ministério da Previdência para que suspenda o convênio com os bancos até que sejam estabelecidos melhores critérios para a concessão de empréstimos aos aposentados, tendo em vista as diversas irregularidades verificadas.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Chico Rafael (PMDB), presidente da comissão; Lúcia Pacífico (PTB), vice; e João Leite (sem partido). Participou também da reunião a assessora da Seplag, Isabel Cristina Lage.

 

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