Cipe-São Francisco luta por revitalização em Pirapora
A senadora Heloísa Helena, do PSol, foi uma dentre
os sete senadores que confirmaram presença no ato público pela
revitalização do rio São Francisco, que mobiliza políticos,
lideranças ribeirinhas e ambientalistas nesta sexta-feira (29/4/05),
em Pirapora. Além dela, vêm a Minas também os senadores Teotônio
Vilela (AL), Rodolpho Tourinho (BA), Antônio Carlos Valadares (SE),
Almeida Lima (SE) e Maria do Carmo Alves (SE). De Minas, confirmou o
senador Aelton Freitas. Eduardo Azeredo e Hélio Costa têm
compromisso marcado em Foz do Iguaçu, mas ainda podem mudar a
agenda.
A manifestação em defesa do São Francisco acontece
a partir das 10 horas, no espaço de eventos Egnaldo, com uma reunião
de autoridades dos cinco estados do Vale do São Francisco,
senadores, deputados federais e estaduais da Frente de Defesa das
Águas e da Cipe-São Francisco. Até agora confirmaram presença os
governadores Paulo Souto, da Bahia, e João Alves, de Sergipe. O
governador Aécio Neves e o secretário de Meio Ambiente, José Carlos
Carvalho, vão defender no encontro amplos investimentos num programa
de revitalização da bacia do São Francisco, para garantir a oferta
de água. Minas contribui com 74% das águas do rio.
Além do evento com as autoridades - que vão almoçar
a bordo do lendário vapor "Benjamin Guimarães" - eventos múltiplos
estão programados para Pirapora, como uma reunião técnica da
Comissão Interestadual Parlamentar de Estudos sobre a Bacia
Hidrográfica do São Francisco, palestras de ambientalistas em
escolas, procissão de canoeiros ao pôr do sol pelo rio, e velhos
barranqueiros contando suas experiências, etc. Grande parte da
organização do evento ficou por conta do deputado Gil Pereira (PP),
relator da Cipe-São Francisco. Participam do evento também os
deputados Fábio Avelar (PTB), Doutor Viana (PFL), Doutor Ronaldo
(PDT) e a deputada Ana Maria Resende (PSDB), que representam a
população ribeirinha.
O projeto de transposição
. O projeto de transposição das águas do rio
São Francisco para perenizar rios do Nordeste Setentrional foi
anunciado como prioridade de governo pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. O Ministério da Integração Nacional foi incumbido de
viabilizar o projeto.
. O projeto consta de dois eixos. O eixo
Norte, com 402 km de extensão, orçado em US$ 1,3 bilhão, e o eixo
Leste, com 220 km, orçado em US$ 473 milhões.
° O projeto conseguiu outorga para bombear 27 m³
por segundo, mas a estrutura projetada é para bombear 126 m³ por
segundo.
° O custo anunciado de R$ 4,5 bilhões refere-se
apenas à construção de duas estações elevatórias principais e sete
intermediárias, dos canais de concreto, túneis e tubulações para
levar água até os grandes açudes do Nordeste Setentrional.
° O dispêndio de energia elétrica para o
bombeamento será entre 350 megawatts (produção total da usina de
Três Marias) e 600 megawatts (produção total da usina de
Itaparica).
. O eixo Norte pretende captar água em
Cabrobó (PE) e perenizar os rios Brígida, Jaguaribe, Apodi e
Piranhas-Açu, beneficiando Pernambuco, Ceará e Rio Grande do
Norte.
. O eixo Leste começaria na barragem de
Itaparica, atingindo as bacias dos rios Moxotó (PE) e Paraíba
(PB).
. Há intenção manifestada de aumentar o
fornecimento de água a importantes cidades do Nordeste Setentrional,
como Caruaru, no agreste pernambucano, e Campina Grande, na Paraíba,
mas as adutoras não constam do projeto. Ficariam por conta dos
governos estaduais.
. A primeira proposta de transposição do rio
São Francisco para o Nordeste data de 1818, e foi apresentada à
Coroa Portuguesa pelo cearense José Raimundo de Passos Barbosa, da
cidade do Crato.
. Dom Pedro II chegou a incluir a
proposta em seu programa de governo, impressionado por uma longa
estiagem que vitimou milhares de nordestinos na segunda metade do
século 19.
. Ao longo do século 20, optou-se pela
construção de poços e açudes, sob a pressão do clamor popular e das
barganhas políticas. Essa prática chegou a implantar 70 mil açudes,
poços e reservatórios.
. Durante o período militar, o coronel e
ministro Mário Andreazza ressuscitou o projeto de transposição como
prioridade de governo, mas felizmente não teve oportunidade de
implantá-lo.
. Em 1993, o ministro da Integração
Regional, Aluísio Alves, tentou iniciar o projeto de transposição,
como obra emergencial. Isso eliminaria a necessidade de
licitação.
. A iniciativa apressada do ministro Alves
recebeu vetos nas áreas técnicas e ambientais e foi impedida por uma
ação política coordenada dos deputados estaduais dos cinco estados
da bacia, unidos na recém-criada Cipe-São Francisco.
Pontos polêmicos da transposição
. O volume outorgado à transposição pelo
Comitê da Bacia Hidrográfica foi de 27 m³ por segundo, para
abastecimento humano e dessedentação animal. Só seria permitido
bombear maior volume quando a represa de Sobradinho estiver com mais
de 95% de sua capacidade. Pela história hidrológica de Sobradinho,
isso só acontece durante quatro anos em dez.
. A estrutura de bombeamento projetada, no
entanto, teria capacidade para 127 m³ por segundo. A lógica
econômica mostra que um investimento desse vulto não poderia ficar
ocioso por seis anos em cada década. Receia-se que o bombeamento
máximo seja feito contra o princípio de prudência da outorga.
. O custo do projeto anunciado pelo Governo
é de R$ 4,5 bilhões, mas estima-se que serão necessários mais R$ 15
bilhões para construção das redes de distribuição a partir desses
açudes. Este custo adicional não será assumido pelo Governo Federal,
mas será considerado como da responsabilidade dos estados
beneficiários.
. O argumento de que o projeto de
transposição se destina a matar a sede das populações sertanejas
serve apenas para captar simpatia da sociedade para o projeto.
Apenas 27% da água teria a finalidade de abastecimento público.
Áreas quase desérticas, como o sertão do Seridó, não serão
atendidas.
. O vale do São Francisco conta com apenas
340 mil hectares irrigados, mas ainda existem mais de três milhões
de hectares de terras planas de boa qualidade que podem ser
irrigadas a baixo custo.
Ações necessárias para a revitalização
. Programa de saneamento ambiental e
controle de poluição nos 504 núcleos urbanos que, em sua maioria,
lançam esgotos sem tratamento no rio São Francisco ou em seus
afluentes e têm depósitos irregulares de lixo em locais inadequados
(margens de cursos d'água e brejos).
. Revegetação de topos de morros e das
margens dos cursos d'água e no entorno de nascentes existentes na
bacia do São Francisco.
. Proteção da fauna, especialmente dos
peixes, por meio do estabelecimento de sistema de proteção das
lagoas marginais dos rios da bacia.
. Construção de pequenos barramentos em
zonas de cabeceiras dos cursos d'água, para sustentar a oferta de
água nos períodos de estiagem e preservar o regime dos rios.
. Implantação de sistema de manejo de solos,
considerando a integralidade das microbacias hidrográficas (bacias
de tributários do afluente), como forma de prevenção da instalação
de focos erosivos, fontes de sedimentos que assoreiam as calhas dos
rios.
. Planejamento e gestão integrada dos
recursos naturais da bacia do São Francisco, tendo como diretrizes
as inter-relações entre a cobertura vegetal, o manejo dos solos
agrícolas e a preservação das condições de infiltração das águas de
chuva para realimentar os aqüíferos.
. Implementação de programa de educação
ambiental, com ênfase nas ações de convívio do homem com as secas,
mas sem negligenciar a educação contra a pesca predatória e contra o
hábito de lançar aos rios lixo, rejeitos e detritos.
O rio São Francisco
. O rio nasce no Parque Nacional da Serra da
Canastra, em Minas Gerais, e percorre mais de 2.700 km até sua foz,
no Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe. Sua vazão regularizada
a partir da represa de Sobradinho é de 2.800 m³ por segundo.
. O vale do São Francisco ocupa uma
área de 640 mil km², onde vivem mais de 13 milhões de pessoas em 504
municípios.
. A primeira cidade do São Francisco é São
Roque de Minas. A última é Penedo (AL). A povoação mais próxima da
foz é Piaçabuçu.
. É chamado "rio da integração nacional"
porque tem longo trecho navegável e banha cinco estados (Minas
Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Tem também afluentes
que nascem em Goiás e no Distrito Federal.
. A bacia do São Francisco é composta por 80
rios perenes e 27 intermitentes. Cerca de 75% das águas são
coletadas em Minas. O rio abre sua calha, mas perde volume quando
atravessa as regiões mais secas da Bahia.
. As represas de nove usinas hidrelétricas
interrompem o curso do rio. A primeira é Três Marias, pertencente à
Cemig, com capacidade para gerar 350 megawatts.
. Oito hidrelétricas pertencem à Cia.
Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), e estão instaladas em quatro
estados. São elas: Sobradinho, Itaparica, Moxotó, Xingó, e as quatro
do complexo Paulo Afonso.
. Sobradinho é a maior das nove represas,
acumulando 34 bilhões de m³ de água. Xingó é a de maior potencial
hidrelétrico. Gera atualmente 3 mil megawatts, mas pode chegar a
mais de 5 mil quando receber as últimas turbinas.
. O potencial hidrelétrico instalado no São
Francisco é de 10,5 mil megawatts, quase suficiente para atender às
necessidades da população e das atividades econômicas instaladas em
seu vale.
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