Promotor aponta falhas em licenciamento da Mina Capão Xavier

Falhas e omissões no parecer da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que ...

26/04/2005 - 00:01
 

Promotor aponta falhas em licenciamento da Mina Capão Xavier

Falhas e omissões no parecer da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que balizaram o licenciamento para operação da Mina Capão Xavier foram apontados pelo promotor Fernando Galvão, da Curadoria de Proteção ao Meio Ambiente, nesta terça-feira (26/4/05), na reunião da CPI da Mina Capão Xavier. Ele é um dos autores da ação judicial que tramita na 5ª Vara da Fazenda Pública Ambiental de Mina Gerais, contra a exploração da mina. "O licenciamento foi precipitado porque os estudos foram parciais", afirmou o promotor.

Entre os problemas citados está a falta de um plano de gestão hídrica que demonstre a garantia de abastecimento de água para os moradores do bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. Segundo Fernando Galvão, o estudo mostra que a água hoje utilizada para consumo será utilizada para alagar a cava, quando terminar a exploração da mina, prevista para o ano de 2025. A projeção é de que a população na área triplique no período, chegando a 12.500 moradores. Além disso, a água, que hoje tem classificação de qualidade como "especial", vai passar para "classe dois", o que implica decréscimo de pureza. "Concretamente corremos risco de ter racionamento de água ou de deixar o buraco", afirmou. A cava terá 60 milhões de metros cúbicos, 1 quilômetro quadrado de superfície e profundidade de 140 metros.

O parecer 127/03, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), segundo Fernando Galvão, tem várias contradições. Entre elas, a informação de que, em determinado ponto, a exploração vai atingir o lençol freático, que terá de ser rebaixado. Contudo, os impactos não estão detalhados pela empresa MDGel, contratada pela MBR para fazer o estudo de impacto ambiental. O estudo não tem certeza da conformação hidrogeológica da área, e afirma que só terão dados reais após o início da atividade.

O promotor citou, ainda, problemas como a eutrofização - processo natural de concentração de material orgânico na água do lago -; e a falta de previsão da área de reserva legal no terreno de propriedade do município de Belo Horizonte. Nesse terreno, com autorização da prefeitura da Capital, foi construída uma estrada para escoamento da produção da mina e o licenciamento para essa estrada foi concedido pelo Instituo Estadual de Florestas. Na ação judicial, o Ministério Público questiona, ainda, a cessão de benefício de uso de um terreno público para uma empresa privada, sem autorização da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Promotor defende criação de seguro ambiental

Fernando Galvão defendeu que a Assembléia assuma o papel de buscar um termo de ajustamento de conduta com a MBR, pelo menos sobre alguns pontos. "Seria um grande ganho em relação à demora do processo judicial", comentou. Segundo ele, o Ministério Público buscou esse entendimento, mas não houve acordo, porque o ponto de divergência foi a criação de um seguro ambiental. O objetivo seria garantir recursos para o Estado, que sempre arca com as despesas de ações emergenciais, como aconteceu com o acidente de rompimento de uma barragem no município de Cataguases.

O promotor também destacou a estrutura deficitária do sistema ambiental do Estado, afirmando que isso coloca o poder público "refém do ponto de vista do empreendedor". Ele defendeu a formação de um corpo de funcionários independentes, nos órgãos ambientais, e que o Estado passasse a cobrar para fazer o estudo de impacto ambiental. "O sistema é gravemente deficiente, não tem condições de analisar nem de fiscalizar o que autorizou", destacou Fernando Galvão.

Deputado afirma que licenciamento contraria lei estadual

Questionado pelo deputado Domingos Sávio (PSDB), relator da CPI, Galvão afirmou, ainda, que não tem prova e nem sequer indício de corrupção no processo de licenciamento da Mina Capão, mas está pessoalmente convicto da existência de irregularidades. O deputado Antônio Júlio (PMDB), que ao lado do deputado Adalclever Lopes (PMDB) entrou com ação popular contra a operação da mina, lembrou que a Lei Estadual 10.793/92, no seu artigo 4º, proíbe a instalação de atividade extrativa mineral nas bacias de mananciais. O promotor concordou e afirmou que essa questão deveria ter sido enfrentada no parecer jurídico da Feam que, no entanto, tinha apenas nove linhas.

O deputado Adalclever Lopes observou que, se o estudo de impacto ambiental não foi conclusivo, não há certeza dos danos ambientais que poderão ser provocados e, portanto, a licença não deveria ter sido concedida. Já a deputada Lúcia Pacífico (PTB), questionou a qualidade e a quantidade da água para consumo. Segundo o promotor, estão economizando em medidas de preservação e, embora a legislação preveja a compensação pelo dano ambiental, isso é muito difícil de ser quantificado. O deputado Leonardo Quintão (PMDB) perguntou quem ficaria responsável pelo passivo ambiental e Galvão esclareceu que a proposta é de que a área, após a exploração, seja transferida para domínio público.

Secretário será convidado

Durante a reunião foi aprovado requerimento do deputado Biel Rocha (PT) - vice-presidente da CPI - para que o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e presidente do Copam, José Carlos Carvalho, seja convidado a prestar esclarecimentos sobre o processo de licenciamento da Mina Capão Xavier. Do deputado Antônio Júlio (PMDB), foi aprovado requerimento para que o ex-diretor da MBR, Juarez Rabelo, seja convidado para esclarecer acerca das tentativas de acordo entre o Ministério Público e a MBR. A requerimento do deputado Leonardo Quintão (PMDB), será convidado o promotor César Raimundo da Cunha.

Presenças: Márcio Kangussu (PPS) - presidente; Biel Rocha (PT) - vice-presidente; Domingos Sávio (PSDB) - relator; Leonardo Moreira (PL), Antônio Júlio (PMDB); Adalclever Lopes (PMDB); Leonardo Quintão (PMDB); Rêmolo Aloise (PSDB) e a deputada Lúcia Pacífico (PTB).

 

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