Defensoria da Água denuncia situação dos lixões e das águas minerais

O Brasil possui 15.237 áreas contaminadas, com sérios riscos de exposição humana, sendo cerca de 7 mil representadas ...

26/04/2005 - 00:00
 

Defensoria da Água denuncia situação dos lixões e das águas minerais

O Brasil possui 15.237 áreas contaminadas, com sérios riscos de exposição humana, sendo cerca de 7 mil representadas por lixões. Em Minas, há mais de mil lixões nos 853 municípios, que deveriam ter sido substituídos por aterros sanitários desde o final de 2004. Essas informações foram repassadas à Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, nesta terça-feira (26/4/05), pela secretária-geral da Defensoria da Água, Maria Helena Batista Murta. Ela divulgou o relatório "O estado real das águas no Brasil - 2003/04", que aponta como problemas no Estado a contaminação do lençol freático por diesel e a poluição siderúrgica e mineradora, entre outros.

O número de áreas contaminadas é apenas "a ponta do iceberg", para o diretor-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Paulo Teodoro de Carvalho. Segundo ele, na França - país menor que o estado de Minas - o registro é de 140 mil áreas. Algumas áreas contaminadas em Minas foram listadas por Maria Helena, constantes de outro relatório, do Ministério da Saúde: os aterros industriais da Cenibra, em Belo Oriente, e da Tecsid, em Betim; o antigo lixão de Contagem e o lixão de Coronel Fabriciano; o pátio da Acesita, em Timóteo; e o depósito de areia de fundição de uma empresa do grupo Fiat, em Betim. O presidente da comissão, deputado Laudelino Augusto (PT), apresentou requerimento para que os deputados conheçam alguns desses locais.

Circuito das Águas - O relatório da Defensoria da Água estima ainda que, em 10 anos, a situação de escassez de água para consumo humano se agravará nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, atingindo mais de 40 milhões de pessoas. Com relação às águas minerais, o relatório destaca "a total omissão do governo do Estado de Minas Gerais no controle das atividades de superexploração das águas da Nestlé na região de São Lourenço". O resultado é a degradação de um dos mais ricos parques de águas minerais e termais, antes acessíveis à população.

Inquérito civil e criminal - Quanto aos lixões, Maria Helena informou que a Procuradoria Regional da República vai acionar os 853 municípios pelo não-cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado em 2003, que previa o fim dos lixões até dezembro de 2004. "Este é um crime ambiental que dá cadeia", enfatizou ela, que citou como situação crítica a do lixão de Itaúna - "um antro de doenças", com crianças e pessoas expostas, lençol freático contaminado e mistura de lixo doméstico, industrial e hospitalar.

O mapeamento que gerou o relatório "O estado real das águas no Brasil - 2003/04" foi feito pela Defensoria da Água com base em estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dados do Ministério da Saúde e em mais de 30 mil denúncias colhidas pela entidade, que foi criada no ano passado como resultado da Campanha da Fraternidade - cujo tema foi "Água, fonte de vida".

Situação do Circuito das Águas é avaliada

A situação do Circuito das Águas também ocupou parte da reunião. De acordo com Maria Helena, os problemas de exploração das águas minerais no Sul de Minas envolvem não apenas os aspectos de contaminação, desmineralização e comercialização das águas. "Essa é uma questão maior, que extrapola o tema ambiental. É um assunto de soberania e segurança nacional", opinou, cobrando o aprofundamento dos debates. Ela também fez críticas à Nestlé, que explora as águas minerais de São Lourenço, afirmando que o interesse da empresa é a privatização das águas. Na opinião da Defensoria da Água, os governos estadual e federal são omissos nessa questão.

O diretor-geral do Igam rebateu as críticas de que o governo estadual teria sido omisso no controle das atividades de superexploração das águas. Segundo ele, o próprio secretário do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, fez retirar da pauta de várias reuniões do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) a concessão de licenciamento para exploração de água pela Nestlé. Um TAC foi firmado pela empresa com a participação do governo do Estado, acrescentou Paulo Teodoro.

Cambuquira - Os deputados Laudelino Augusto (PT) e João Leite (PSB) comentaram reportagem publicada pelo jornal Estado de Minas, que abordou problemas vivenciados pelo Circuito das Águas, como a crise no turismo e a licitação para decidir quem vai engarrafar água mineral direto das fontes de Caxambu, Cambuquira e Lambari. O presidente Laudelino Augusto informou que, no dia 23 de maio, a comissão estará em Cambuquira, para discutir a licitação para exploração das águas e seu uso para fins medicinais, entre outros temas. O deputado João Leite defendeu que a comissão acompanhe todo esse processo.

A matéria do jornal cita que a superexploração das águas de São Lourenço pela Nestlé teria sido responsável pela alteração do sabor de uma das fontes e o esgotamento de outra, hoje recuperada. Essa hipótese é defendida pelo geólogo Gabriel Junqueira, que assessora o Ministério Público na ação que move contra a empresa. Segundo a reportagem, além dos danos ecológicos, o MP averiguou que a documentação da empresa estava irregular no quesito licença ambiental para engarrafar água mineral. O jornal também informa que a Nestlé firmou um acordo com os órgãos ambientais do Estado para regularizar sua situação.

Seminário - Outro requerimento aprovado, de autoria do deputado Laudelino Augusto(PT), solicita a realização de um seminário que discutirá o gerenciamento de resíduos sólidos e a temática lixo e cidadania. Ele convida representantes das comissões de acompanhamento dos seminários "Águas de Minas" I e II e do seminário "Saneamento Ambiental" para formatar o evento com a Comissão de Meio Ambiente.

Também participou dos debates o delegado da Polícia Federal em Minas, Hélbio Afonso Dias Leite, que falou sobre a iniciativa da Polícia Federal de criar delegacias de combate a crimes ambientais em cada estado da federação.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; Doutor Ronaldo (PDT), vice; João Leite (PSB) e Carlos Gomes (PT).

 

 

 

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