MST denuncia que Felisburgo poderá ter novo massacre
A Comissão de Direitos Humanos irá a Felisburgo no
final deste mês ou em maio acompanhar in loco a situação dos
conflitos agrários naquele município. A decisão foi tomada depois
que o presidente, deputado Durval Ângelo (PT), ouviu representantes
da Vara de Conflitos Agrários de Belo Horizonte, do MST e da
Comissão Pastoral da Terra, nesta segunda-feira (25/4/05). Eles
disseram que novas mortes poderão ocorrer, pois há uma situação de
conflito iminente. "Há o temor de um novo massacre", testemunhou
Ademar Paulo Ludwig Suptitz, do MST. Em 20/11/04, cinco
trabalhadores do acampamento "Terra prometida" foram assassinados e
13 ficaram feridos. A comissão reivindicará da Polícia Federal a
presença de agentes na região e a instauração de inquérito sobre o
crime. Uma visita ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não
está descartada.
Novo pedido de prisão para Chafik - A concessão de liberdade provisória para o principal
protagonista da chacina, Adriano Chafik, está por trás do conflito
iminente. Sua família é proprietária da Fazenda Nova Alegria, onde
fica o acampamento, e desde que o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
concedeu a liberdade ao acusado do crime, têm sido relatadas
situações de ameaça aos trabalhadores rurais. De acordo com o
deputado Durval Ângelo, o irmão de Adriano estaria circulando
ostensivamente no acampamento e ameaçando as pessoas, assim como
três dos 10 pistoleiros contratados para executar o massacre. O
promotor Luís Carlos Martins Costa, da Vara de Conflitos Agrários,
já encaminhou ao juiz da Comarca de Jequitinhonha, Armando Chedini
Neto, novo pedido de prisão preventiva de Chafik, que precisa ser
analisado até o final deste mês.
"Se a quadrilha permanecer em liberdade, novas
mortes ocorrerão. É apenas uma questão de tempo", ressaltou o
promotor, que pediu a interferência da Comissão de Direitos Humanos
no trabalho de sensibilização do juiz. O pedido de prisão se estende
aos pistoleiros Admilson Rodrigues Lima, o "Bila"; Francisco de
Assis Rodrigues Oliveira, o "Quitinha"; e Milton Francisco de Souza,
o "Milton-Pé-de-Foice", soltos na região. Como resposta, o
presidente encaminhou ao juiz, nesta segunda, um pedido para que
sejam implementadas "medidas capazes de coibir a ocorrência de fatos
semelhantes aos ocorridos no passado", em referência à chacina. No
ofício, o deputado Durval Ângelo lamenta, ainda, a concessão de
habeas corpus por parte do STJ aos autores da chacina.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos também
faz referência ao clima de extrema tensão e ao temor de um novo
ataque, termos utilizados em auto de visita da Vara de Conflitos
Agrários, datado de 6 de abril, e assinado pelo juiz Renato Luís
Dresch. Em ofício encaminhado à comissão, o juiz informa que
comunicou o problema ao secretário de Defesa Social e ao
comandante-geral da Polícia Militar, pedindo a adoção de "urgentes
medidas de reforço na segurança preventiva" em Felisburgo. Medidas
administrativas para resolver a questão fundiária no Vale do
Jequitinhonha também foram solicitadas ao Ministério do
Desenvolvimento Agrário, ao Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) e à Ouvidoria Agrária Nacional.
Promotor quer julgamento em BH por temer
parcialidade em Felisburgo
"A tragédia está sendo novamente anunciada",
reafirmou o deputado Durval Ângelo, que lembrou as limitações da
atuação da Comissão de Direitos Humanos. "Nosso papel é alertar as
autoridades e denunciar", disse. O deputado também sugeriu uma ampla
campanha em defesa do julgamento dos réus em Belo Horizonte, depois
de o promotor Luís Carlos Martins Costa ter informado que solicitará
a mudança. "Temos um acervo de provas que justificam essa medida",
disse Costa. Ele acredita que, se o julgamento ocorrer em
Jequitinhonha, os réus serão absolvidos por unanimidade. O pedido
será feito depois que for concluída a fase de pronunciamento dos
réus.
Segundo informações da Promotoria, foram
identificadas 15 pessoas que efetivamente atuaram na chacina. Desse
total de acusados, 10 seriam pistoleiros contratados por Carlixto,
primo de Chafik, que se alojaram na fazenda de Adriano para
arquitetar o crime. Deles, apenas um pistoleiro está preso hoje:
Washington Agostinho da Silva, que já tem pedido de liberdade
provisória solicitado.
Plano - Durante a reunião,
o promotor também relatou a existência de um plano para assassinar
um dos pistoleiros que estão soltos, atribuindo-se a
responsabilidade aos integrantes do MST. O assassinato de "Milton
Pé-de-Foice" seria cometido por "Bila" e "Quitinha" - todos eles
soltos.
MST e CPT fazem críticas ao governo estadual
O representante da coordenação estadual do MST,
Ademar Paulo Ludwig Suptitz, e Marcilene Aparecida Ferreira, da CPT,
fizeram várias críticas às autoridades, durante a reunião. "É
preciso posição política por parte do governo do Estado", ressaltou
Ademar, afirmando ser necessária agilidade na retomada da área onde
estão os trabalhadores sem-terra. "O Estado de Minas Gerais
mostrou-se impotente em preservar as vidas das pessoas nos
acampamentos", ratificou Marcilene, referindo-se também aos demais
36 acampamentos existentes em Minas, onde estão 10 mil famílias.
Segundo ela, o poder público se preocupa, sim, no momento em que
ocorre a violência no campo, a fim de dar uma satisfação à opinião
pública. "Depois de um mês, não se fala mais no assunto",
denunciou.
A milícia armada por parte dos latifúndios também
foi denunciada por Ademar, principalmente no Vale do Rio Doce.
Relatos de violência são registrados ainda, diariamente, no
Triângulo e no Norte, segundo o MST. Outro problema diz respeito à
destinação das terras devolutas de Minas Gerais. De acordo com o
MST, haveria 500 mil hectares nessas condições, mas o temor é de que
o governo licite essas terras para reflorestamento por eucalipto. De
acordo com o deputado Durval Ângelo, já existe um parecer nesse
sentido por parte da Advocacia-Geral do Estado. Os trabalhadores
rurais sem-terra ocupam uma área de 568 hectares na Fazenda Nova
Alegria, classificada como devoluta.
Presenças - Participaram
da reunião todos os convidados acima e o presidente, deputado Durval
Ângelo (PT).
|