Defesa do São Francisco reunirá deputados e governador em
Pirapora
Deputados dos cinco estados banhados pela bacia do
Rio São Francisco - Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas e
Pernambuco -, além do governador Aécio Neves, são presenças
confirmadas em Pirapora, na próxima sexta-feira (29/4/05), quando
serão realizados dois eventos: um ato público em defesa da
revitalização do São Francisco, às 10 horas; e uma audiência
pública, às 15 horas, para debater o projeto do governo federal de
transposição das águas do rio para perenizar rios do Nordeste. Os
eventos são uma iniciativa da Assembléia Legislativa de Minas Gerais
e da Comissão Interestadual Parlamentar de Estudos para o
Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Rio São Francisco (Cipe São
Francisco). O local é a avenida São Francisco, 1.014.
Nos eventos, será lançada uma cartilha e
apresentado um vídeo visando esclarecer a população barranqueira
sobre os aspectos técnicos e políticos da transposição. O relator da
Cipe e coordenador da comissão na ALMG, deputado Gil Pereira (PP),
informou que deputados federais e senadores mineiros também foram
convidados a participar, assim como representantes do Ministério
Público Federal e de órgãos federais envolvidos no projeto. Além da
presença de Aécio Neves, já confirmada, são aguardados os
governadores Paulo Souto (BA), Ronaldo Lessa (AL) e João Alves (SE).
O presidente da Assembléia Legislativa de Sergipe e da Cipe,
deputado Antônio Passos (SE), é presença também confirmada em
Pirapora.
O ato público e a audiência fazem parte de uma
série de encontros e eventos com o objetivo de debater o projeto
federal de transposição. Exemplos disso foram a reunião da Cipe em
Aracaju (SE), no último dia 30 de março, e contatos feitos com
deputados federais e senadores, no dia 6 de abril, em Brasília. A
estratégia adotada pela Cipe é realizar audiências nas principais
cidades localizadas ao longo do rio. Em Minas Gerais, o roteiro
inclui Lagoa da Prata, Três Marias, Ubaí, São Romão, Januária, São
Francisco, Itacarambi, Manga e Montes Claros. Uma reunião da
Comissão de Meio Ambiente da Assembléia também debaterá a
transposição, em Jaíba, no próximo dia 6 de maio.
Pressão política - Os
estados mais prejudicados pelo projeto de transposição seriam
Alagoas e Sergipe, onde o rio corre o risco de secar, mas também
Minas e Bahia não poderiam dar mais outorgas a projetos de
irrigação. "Decidimos fazer pressão política e realizar as
audiências públicas que os órgãos ambientais deveriam promover ao
longo da bacia, antes de dar a licença para início da obra", disse o
deputado Gil Pereira. Ele esclarece que sua posição não é de simples
oposição à obra, mas de exigir que sejam feitos previamente os
investimentos em revitalização.
Governo federal foi voz isolada em evento na ALMG
em 2004
A recuperação da bacia vem sendo debatida pela
Assembléia de Minas e pela Cipe São Francisco desde 1991 e não há
consenso sobre a necessidade da obra nem sobre as conseqüências do
desvio das águas do rio para as populações ribeirinhas. Em 23 de
novembro de 2004, a Assembléia promoveu o Ciclo de Debates "Em
defesa do Rio São Francisco", quando o governo federal foi voz
isolada na defesa da transposição das águas. O evento, que reuniu
autoridades e ambientalistas, discutiu o projeto de integração de
bacias e a realidade ambiental do rio, com seus impactos sociais,
econômicos e ambientais. Para a maioria dos participantes, o projeto
precisa ser melhor debatido pela sociedade, principalmente os
aspectos técnicos, e a União deveria investir prioritariamente na
revitalização da bacia.
Nesse encontro, foi aprovada a "Carta de Minas",
documento que convoca a sociedade a se engajar no debate do tema e
propõe ao governo federal a suspensão do projeto até que se realizem
estudos confiáveis, por empresas ou instituições independentes e de
reconhecida capacidade técnica, englobando toda a bacia. O documento
pede, ainda, a abertura de diálogo amplo e transparente sobre a
transposição, tendo por base estudos técnicos, elaborados e
divulgados previamente, bem como a implantação de um programa de
revitalização que considere não apenas a garantia de água para
transposição, mas também os pontos de vista ambiental, social e
econômico.
Dados sobre a transposição
Os críticos lembram que é preciso considerar três
pontos quando se fala em transposição: a evapo-transpiração intensa
no Nordeste semi-árido; o consumo de energia necessário para
implantar o projeto, equivalente àquela gerada em Sobradinho; e a
garantia da vazão do rio, que assegure a geração de energia elétrica
e a irrigação em suas áreas potenciais. Aqueles que questionam a
transposição afirmam que é um negócio de bilhões para favorecer
empreiteiros e grandes empresários, e afirmam que a revitalização
começa com o saneamento básico dos municípios banhados pelo São
Francisco.
Já o governo federal informa que a vazão
regularizada do rio é de 2.060 m3/segundo no vertedouro
da barragem de Sobradinho e que em sua foz é ainda maior, de 2,8 mil
m3/segundo. No entanto, a vazão oscila de 10 mil m³ nas
chuvas para 600 m3 na estiagem. O projeto de transposição
pretende retirar apenas 3% da vazão regularizada de acordo com o
governo, ou seja, 63 m³/segundo. A obra está orçada em US$ 6,5
bilhões.
Integrantes da Cipe -
Integram a Cipe os seguintes deputados mineiros: presidente da ALMG,
deputado Mauri Torres (PSDB); Gil Pereira (PP), relator da Cipe e
coordenador da comissão em Minas; Doutor Viana (PFL), Ana Maria
Resende (PSDB) e André Quintão (PT), como membros efetivos; e, como
suplentes, os deputados Doutor Ronaldo (PDT), Carlos Pimenta (PDT),
Fábio Avelar (PTB), Domingos Sávio (PSDB) e Maria Olívia
(PSDB).
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