Comissão vai acompanhar processo de PMs envolvidos em
roubo
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa vai solicitar um parecer jurídico sobre o caso que
envolve processo judicial de dois policiais militares em um assalto
a mão armada em Uberlândia, afirmou o presidente da comissão,
deputado Durval Ângelo (PT), nesta quarta-feira (20/4/05). Em
reunião realizada na Câmara Municipal de Uberlândia, o deputado
manifestou preocupação com a possibilidade de condenação injusta dos
policiais, e garantiu à platéia formada por parentes e amigos dos
dois acusados que a comissão vai continuar acompanhando o caso.
O soldado Marcelo Caixeta Coelho e o sargento José
Augusto da Cunha são acusados de envolvimento em dois assaltos à
mesma vítima ocorridos nos dias 19 de abril e 2 de julho do ano
passado. Os assaltantes levaram da vítima, cuja identidade não foi
revelada durante a reunião, jóias, um laptop e uma quantia em
dinheiro, num prejuízo total estimado em cerca de R$ 300 mil. O
mentor e participante do crime, Maxwell Alexander Rodrigues
Teixeira, foi quem acusou o envolvimento dos dois PMs nos assaltos.
Durante uma acareação, a vítima também reconheceu um dos policiais.
Durante o julgamento, Maxwell confessou sua participação no crime e
descreveu os dois assaltos detalhadamente.
O caso teve uma reviravolta quando o principal
acusado quis voltar atrás em suas declarações. Ao ser ouvido pela
sindicância da PM que apura o caso, ele disse ter sido torturado e
ameaçado para assumir sua culpa. Pediu ao juiz a anulação de suas
declarações, mas este não concordou com a alegação do réu e concluiu
pela culpa dos três acusados. Há oito meses os dois policiais estão
presos no 17o Batalhão da Polícia Militar de Uberlândia.
Maxwell atualmente cumpre pena em Unaí. A sentença determinou a
prisão dos três em regime fechado por sete anos e um mês, mas a
defesa recorreu e o caso agora está nas mãos do Tribunal de Justiça.
Parentes acusam falta de provas
O pai do soldado Marcelo Caixeta Coelho, o tenente
Ailton Coelho (também da PM), indignado com a prisão do filho,
reiterou que os réus foram presos sem provas contundentes e que a
confissão de Maxwell foi sob tortura. "A prisão deles é injusta,
absurda, sem nenhum propósito. Foi uma armação de policiais civis e
militares e pessoas influentes da cidade", acusou. Parentes e
advogados de defesa dos réus também reclamaram do julgamento injusto
e reivindicaram nova audiência da comissão com a presença de
Maxwell. O vereador Cabo Garcia e o vice-presidente da Associação
dos Praças da PM, subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, também disseram
acreditar na inocência dos policiais.
Após a reunião, os deputados foram ao
17o Batalhão da PM conversar com os dois policiais
presos. Emocionados, ambos alegaram que estavam trabalhando no
momento dos assaltos e reclamaram que a acareação foi feita de forma
errada. Eles disseram que as jóias apreendidas pela Polícia Civil
não tinham a marca "Art Design" relatada pela vítima, que também não
teria nota fiscal dos artigos roubados.
O deputado Durval Ângelo manifestou preocupação com
os indícios que podem culminar com uma eventual condenação
equivocada dos policiais. "As provas contra os PMs são robustas. Mas
se elas foram montadas, temos que derrubá-las. Não queremos cometer
injustiças. Até a decisão judicial conclusiva, todos são inocentes",
afirmou o deputado. Segundo ele, a comissão pretende ouvir Maxwell e
vai encomendar um parecer jurídico sobre o caso ao Movimento de
Juízes pela Democracia. O deputado Roberto Ramos (PL) também
garantiu que a comissão vai lutar para corrigir injustiças.
Já o deputado Weliton Prado (PT) disse que vai
apresentar à comissão um requerimento solicitando audiência pública
para discutir o assassinato da soldado da PM Kátia Carolina Henrique
e seu namorado José Ricardo Rafael Ramos. De acordo com o deputado,
o casal foi assassinado por policiais há 19 anos e seus familiares
reclamam que até hoje nunca receberam nenhuma indenização.
Delegado e promotor rebatem acusações
O delegado responsável pelo caso, Cândido Martins
da Cunha, rebateu as críticas à prisão dos três acusados. Segundo
ele, Maxwell Alexander Rodrigues Teixeira é um bandido perigoso, com
várias passagens pela polícia por assalto a mão armada e
encontrava-se foragido da Justiça quando foi preso. Ele negou
veementemente que a confissão tenha sido extraída sob tortura e
explicou o porquê dos ferimentos de Maxwell. "Ele estava há três
dias bebendo e se drogando na zona boêmia de Uberlândia e resistiu à
prisão", informou.
O promotor Adriano Arantes Bozola, encarregado da
acusação, garantiu que a sentença judicial se deu com base em provas
convincentes e que o depoimento de Maxwell em juízo é contundente.
"Não há provas de que ele tenha sofrido tortura durante o processo.
Ele deve ter sofrido alguma ameaça de morte para pedir que mudassem
seu depoimento. Mas o juiz não concordou com essa manobra
protelatória", explicou.
Para o comandante da 9a Região da
Polícia Militar de Uberlândia, coronel Márcio Martins Santana, a
Justiça atuou de forma isenta no caso. De acordo com ele, o processo
administrativo aberto para investigar a participação do soldado
Coelho e do sargento Cunha pode concluir pela expulsão de ambos da
corporação. O mesmo acontece se eles forem condenados em última
instância. Se eles ficarem dois anos presos, mesmo que inocentes,
são automaticamente excluídos da PM.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; e Weliton
Prado.
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