Governo explica empréstimo junto ao Bird; oposição quer
mudanças
O subsecretário de Assuntos Internacionais da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Athayde,
garantiu que o empréstimo a ser contraído pelo governo junto ao Bird
não será usado como reforço de caixa para fazer frente a gastos
correntes, como pagamento de pessoal, nem exclusivamente para
contratação de consultorias. Convidado à reunião da Comissão de
Fiscalização Financeira e Orçamentária desta quarta-feira (20/4/05),
ele disse que os recursos de até US$ 170 milhões serão aplicados nos
Projetos Estruturadores do Executivo, citando o aumento da
capacidade da Receita Estadual e a melhoria da gestão dos gastos
públicos. Outra destinação será o Fundo de Parcerias
Público-Privadas. Para o líder do Bloco PT/PCdoB, deputado André
Quintão (PT), no entanto, o projeto original "não é um cheque em
branco, mas um talonário em branco".
Autor do requerimento que solicitou o debate sobre
o PL 2.004/04, que autoriza o empréstimo, o deputado André Quintão
reafirmou que o projeto precisa ser aprimorado, pois tem uma
justificativa genérica e não explicita que os recursos a serem
contraídos junto ao Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird) serão aplicados nos Projetos Estruturadores.
Outra preocupação é com a possibilidade de uso dos recursos para
contratação de consultorias, serviços de divulgação e despesas com
viagens. Na opinião dele, o ajuste estrutural do Estado deve passar
pela valorização do servidor, com a implantação de novas tabelas
salariais; pela melhoria da saúde e por investimentos na área
social.
Nova reunião à tarde -
Após ouvirem Athayde e o assessor-chefe da Assessoria Econômica da
Secretaria da Fazenda, Iran Almeida Pordeus, os deputados discutiram
por quase uma hora possíveis mudanças no parecer do relator,
deputado Márcio Kangussu (PPS). A reunião foi encerrada e convocada
uma extraordinária para as 15h30, quando poderá ser votado o
parecer.
Governo terá liberdade na destinação dos
recursos
Athayde destacou que, pela primeira vez, um Estado
brasileiro poderá contratar um empréstimo programático junto a uma
agência multilateral de crédito. Geralmente os empréstimos são
setoriais. Isso significa que não haverá contrapartida financeira,
mas sim a contrapartida da "excelência da gestão". Respondendo aos
deputados, Athayde informou que o financiamento não será inferior a
15 anos, com carência mínima de cinco anos e máxima de sete. O dólar
de referência para conversão do empréstimo em reais será aquele
vigente na data da contratação e os juros serão os mesmos adotados
em empréstimos internacionais. Em resposta ao deputado Antônio Júlio
(PMDB), o governo disse que não haverá valores estipulados para cada
projeto beneficiado, por isso o governo terá mobilidade para
destinação dos recursos.
PPPs - Entre os projetos citados pelo Executivo
como beneficiados, estão os de consolidação da capacidade da Receita
Estadual; melhoria da gestão dos gastos públicos; investimentos na
integração das forças policiais; melhoria da gestão nas áreas
ambiental e de saúde e no Programa Estrada Real. Parte dos recursos
- não revelada pelo subsecretário - será usada também para compor as
garantias do Fundo de Parcerias Público-Privadas, que dará
sustentação financeira às Parcerias Público-Privadas (PPPs). Outras
garantias são ações da Cemig e royalties da Codemig.
Respondendo à deputada Elisa Costa (PT), Athayde
negou que os recursos do empréstimo poderiam ser destinados à
iniciativa privada como meio de pagamento para as PPPs. "O fundo não
é para ser gasto; só será gasto, em condições excepcionais, caso o
Estado não possa honrar seus compromissos", acrescentou. São cinco
os projetos-piloto de PPPs: obras da MG-050; oferta de 3 mil vagas
prisionais para o setor privado; projeto de saneamento; construção
do Centro Administrativo e o novo campus da Universidade do
Estado de Minas Gerais (Uemg).
Oposição faz questionamentos sobre possibilidade de
gastos com serviços de terceiros
O líder do Bloco PT/PCdoB, deputado André Quintão
(PT), considerou "perigosa" a possibilidade de destinação de um
grande volume de recursos para pagamento, por exemplo, de
consultorias. O deputado questionou se os gastos com investimentos
não poderiam ser direcionados apenas para o elemento de despesa 39 -
"Outros serviços de terceiros" -, previsto no orçamento da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Esse item, além de
pagamento de consultorias, poderia incluir ainda, segundo Quintão,
gastos com serviços de divulgação, despesas com viagens e
congressos, telefonia fixa e móvel.
A hipótese foi negada pelo assessor Iran Almeida,
da Secretaria da Fazenda. Segundo ele, o empréstimo a ser contraído
junto ao Bird é vocacionado para o aprimoramento da gestão - o que
abrange, por exemplo, aquisição de equipamentos e de software
e também pagamento de consultorias, desde que direcionadas ao
aprimoramento da gestão. Respondendo ao presidente da comissão,
deputado Domingos Sávio (PSDB), o subsecretário Athayde afirmou que
o governo será "parcimonioso" para atender às determinações do
Orçamento e do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), que
lista os Projetos Estruturadores.
"O fato de ter mobilidade para destinação dos
recursos, ao buscar um empréstimo para investimentos, não significa
que o governo aplicará o dinheiro da maneira que quiser", opinou
Sávio, reafirmando que é preciso seguir o que dizem Orçamento e
PPAG. Já o relator do projeto pela Comissão de Fiscalização
Financeira e Orçamentária, deputado Márcio Kangussu (PPS), sinalizou
que o projeto será aprimorado, mas destacou que a reunião era uma
oportunidade para o Executivo reafirmar a transparência do governo
Aécio Neves.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB), que a presidiu; Jayro
Lessa (PL), vice-presidente; Elisa Costa (PT), Ermano Batista
(PSDB), Márcio Kangussu (PPS), Dilzon Melo (PTB), Gustavo Corrêa
(PFL), Antônio Júlio (PMDB), André Quintão (PT), José Henrique
(PMDB), Olinto Godinho (PSDB), Adalclever Lopes (PMDB) e Dinis
Pinheiro (PL).
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