Índios querem ampliação de áreas demarcadas e políticas públicas

Ampliação dos limites das áreas demarcadas, fim da violência no campo e das invasões das terras indígenas por fazende...

19/04/2005 - 00:02
 

Índios querem ampliação de áreas demarcadas e políticas públicas

Ampliação dos limites das áreas demarcadas, fim da violência no campo e das invasões das terras indígenas por fazendeiros e implementação de políticas públicas que respeitem aspectos culturais. Essas foram reivindicações feitas por cerca de 170 representantes dos oito povos indígenas mineiros, durante reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia, nesta terça-feira (19/4/05), quando foi lançada a Frente Parlamentar de Apoio às Populações Indígenas. "Para ter saúde, educação e uma vida melhor, precisamos de terra, um direito há muitos anos negado", destacou o cacique Domingos Xakriabá, que falou para um Plenário lotado e pediu o apoio dos deputados para estruturar e fortalecer o Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais.

Os Xakriabás são a maior comunidade indígena do Estado, com 7 mil pessoas espalhadas em 51 mil hectares no Norte de Minas, em São João das Missões. Os índios totalizam 11,5 mil pessoas no Estado, mas a área total demarcada é inferior a 70 mil hectares - o que, segundo as comunidades, é insuficiente para abrigar todos e garantir a sobrevivência das famílias. A realidade de Minas reproduz o cenário nacional. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), os cerca de 410 mil índios brasileiros ocupam 107,2 milhões de hectares, ou 12% do território nacional, mas a área homologada é bem menor: 16 milhões de hectares. Em todo o País, 85% das terras indígenas encontram-se invadidas. São, no total, 240 povos que habitam 842 áreas e falam 185 línguas.

O vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente e presidente da frente parlamentar, deputado Doutor Ronaldo (PDT), ressaltou que o objetivo do grupo é justamente ser "um fórum permanente de debates a respeito das principais demandas dos povos indígenas em Minas, de modo a contribuir para a formulação de legislação e programas que mantenham ou ampliem os direitos desses povos". Lembrando que os índios representam 2% da população brasileira, o deputado afirmou que a perda dos direitos desse segmento é crescente, apesar da proteção constitucional. O secretário de Estado do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, destacou a dívida histórica que o País tem com os índios, confirmando que há uma desproporção entre o número de comunidades e as terras demarcadas - equívoco que se repete também em Minas.

Povos lançam manifesto; primeiro prefeito índio da história de Minas fala aos deputados

Integrada por 21 parlamentares, a frente pretende enfrentar desafios como os apresentados em manifesto encaminhado à ALMG, resultante dos debates na 2ª Assembléia do Conselho dos Povos Indígenas, que termina nesta quinta (21), em Belo Horizonte. Os povos cobram: recuperação da área degradada das terras do povo Pataxó, em Carmésia; melhor assistência à saúde nas aldeias, com instalação de postos e atuação continuada de equipes de saúde, bem como atendimento aos índios que moram nas cidades; e punição dos que cometem violência contra os povos. Eles também cobram que os recursos recebidos pelos municípios, destinados às comunidades, sejam efetivamente aplicados; e que o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) devolva o Parque Peruaçu ao povo Xakriabá, bem como o Parque Sete Salões ao povo Krenak.

O prefeito de São João das Missões, José Nunes de Oliveira (PT), também encaminhou os pedidos das comunidades mineiras. Eleito em 2004 o primeiro prefeito índio da história de Minas, ele pediu empenho dos parlamentares na defesa da causa indígena. Cobrou uma audiência com a secretária de Estado da Educação para discutir as reivindicações das lideranças, afirmando que até agora não conseguiram marcar a reunião. Representante do povo Xakriabá, José Nunes de Oliveira governa um município onde, dos 11 mil habitantes, 7 mil são índios. Além dele, foram eleitos cinco vereadores representantes dos povos indígenas, num total de nove. Também vereador, mas em Carmésia, o índio Manuel Ferreira da Silva, da tribo Pataxó, afirmou que a ausência de políticas públicas é um problema histórico que aflige as comunidades em Minas.

Formas de violência - A violência também foi denunciada pelas lideranças Kaxixós, que vivem nos municípios de Martinho Campos e Pompéu, no Alto São Francisco, e ainda não têm suas terras demarcadas. No manifesto divulgado na reunião, os Kaxixós relatam que, no último dia 15, o índio José Divino teve sua residência invadida por policiais militares e foi agredido. Eles pediram a apuração imediata do fato e a punição dos agressores, além de relatarem que trabalham nas terras invadidas por fazendeiros, mas não recebem o quanto deveriam. O drama das comunidades foi ilustrado pelo cacique Djalma Kaxixó, que pediu "socorro" às autoridades e disse que os povos querem respeito e não conflitos entre famílias ou entre índios e brancos. "Falar sobre pobreza é um assunto, mas viver a pobreza, como nós, é outro", disse.

As dificuldades dos Maxakalis, que vivem no Vale do Mucuri, também foi relatada em Plenário. No manifesto divulgado pelo Conselho dos Povos Indígenas, a situação da saúde do povo é considerada "alarmante", sendo apontadas inúmeras mortes por desnutrição. Eles vivem em terras devastadas, rodeadas por latifúndios. Outra realidade difícil é a dos Pataxós, que residem na região do município de Carmésia. No requerimento de criação da frente, o deputado Doutor Ronaldo informa que reservas indígenas já demarcadas vêm sendo alvo de invasões e atos de vandalismo, como ocorreu recentemente na aldeia Pataxó, incendiada por fazendeiros vizinhos.

O representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), Valdemar Krenak, classificou de "calamidade" a situação das comunidades mineiras. No momento em que se tenta criar no Estado uma "força parlamentar", segundo Krenak, é preciso ouvir o que os índios têm a dizer. "Estamos cansados de receber ordens de cima", afirmou. Carlos Henrique de Melo, da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), criticada no evento, afirmou estar no Plenário para ouvir os convidados. A dívida histórica do Estado para com os índios foi, ainda, reafirmada por Wilson Mário Farias Santana, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), e por Romildo Alves da Conceição, do Conselho dos Povos Indígenas. A importância de somar competências dos três Poderes foi apontada pela coordenadora de Saúde Indígena da Secretaria de Estado da Saúde, Simone Faria de Abreu.

Emenda à Constituição - Vários deputados também defenderam a causa indígena e ações para cobrar a implementação de políticas públicas por todas as esferas de governo: João Leite (PSB), Fábio Avelar (PTB), 3º-vice-presidente; Ana Maria Resende (PSDB), Carlos Gomes (PT), André Quintão (PT), Padre João (PT) e Rogério Correia (PT), 2º-vice-presidente. É dele e do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), inclusive, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 60/03, que prevê obrigações do Estado e dos municípios para com os índios em áreas como saúde, educação e cultura. Os deputados Jésus Lima (PT), Márcio Kangussu (PPS) e José Henrique (PMDB) também participaram dos debates.

Após a reunião em Plenário, os índios iriam seguir, em passeata, ao Palácio da Liberdade e encerrar o dia na Igreja São José numa vigília que teria início às 17 horas.

Povos indígenas - São oito os povos indígenas em Minas: Krenak (vivem na região do município de Resplendor, no Rio Doce); Xakriabá (São João das Missões, no Norte de Minas); Pataxó (Carmésia, entre os Vales do Aço e do Rio Doce); Pankararu (Coronel Murta, no Jequitinhonha); Xukuru-Kariri (Caldas, no Sul de Minas); Kaxixó (Martinho Campos e Pompéu, no Alto São Francisco); Aranã (Araçuaí, no Jequitinhonha); e Maxakali (Santa Helena de Minas e Bertópolis, no Vale do Mucuri).

Integrantes da frente parlamentar - Integram a frente os deputados Doutor Ronaldo (PDT), André Quintão, Durval Ângelo, Weliton Prado, Laudelino Augusto, Padre João, Biel Rocha, Ricardo Duarte, Carlos Gomes e Jésus Lima, todos do PT; Domingos Sávio, Maria Olívia e Olinto Godinho, do PSDB; João Leite (PSB), Jô Moraes (PCdoB), Fábio Avelar (PTB), Marlos Fernandes e Sebastião Costa, do PPS; Paulo Piau (PP), Sargento Rodrigues (PDT), Elmiro Nascimento (PFL).

Presenças - Participaram da reunião todos os convidados citados na matéria.

 

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