Discussão sobre plano diretor da RMBH encerra último dia de encontro

O desafio de elaborar um plano diretor para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi o tema que dominou a ...

12/04/2005 - 00:00
 

Discussão sobre plano diretor da RMBH encerra último dia de encontro

O desafio de elaborar um plano diretor para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi o tema que dominou a manhã desta terça-feira (12/4/05), último dia do evento "Desafios da Agenda Municipal 2005", no Plenário, promovido pela Assembléia, governo e entidades e já realizado em várias regiões do Estado. Para especialistas e governo, o momento político atual é propício à retomada desse planejamento conjunto. "Na ausência de eleições metropolitanas, a elaboração do plano diretor é a oportunidade de os cidadãos participarem das decisões relativas à gestão da RMBH", complementou o superintendente de Assuntos Metropolitanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru), Gustavo Gomes Machado.

O consenso é que, na grande cidade administrada por vários governos, para a abordagem dos problemas comuns é preciso um pacto contínuo. "A região metropolitana não possui autonomia política, financeira ou administrativa. Ela não é um ente de governo autônomo, por isso é necessário um pacto metropolitano para que possa funcionar", explicou Machado, que compartilha a opinião geral de que os 34 municípios da RMBH e o governo do Estado estão hoje empenhados em viabilizar a gestão metropolitana. Para o prefeito de Pedro Leopoldo e presidente da Associação dos Municípios da RMBH (Granbel), Marcelo Gonçalves, a elaboração do plano diretor contribuirá para minorar problemas comuns às cidades. Ele reafirmou o que foi destacado pelos participantes no primeiro dia do evento: que é preciso garantir a participação da sociedade na feitura do plano.

E um exemplo de adoção de plano metropolitano foi apresentado por um dos coordenadores do Plano de Desenvolvimento da Metrópole de Recife, Ricardo Roberto de Araújo Lima. Ele falou sobre a experiência em Pernambuco, composta por 14 municípios, denominada de "Metrópole Estratégica". O coordenador do plano falou sobre os erros e acertos do projeto, que está em andamento, com previsão de custo de R$ 14,3 bilhões ao longo de 15 anos. Destacou também a necessidade de haver viabilidade política e financeira para criar um pacto metropolitano. E explicou: "O pacto metropolitano é um pacto político, que precisa ter o envolvimento da sociedade, do Estado e municípios em torno das prioridades da região metropolitana".

Brasil tem 30 regiões metropolitanas

Para o vice-reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense e consultor ad hoc do Ministério das Cidades e da Prefeitura de Belo Horizonte, Sérgio de Azevedo, os problemas e dilemas da RMBH são muito parecidos com aqueles enfrentados por outras cidades e regiões metropolitanas do País, que totalizam o número de 30 e abrigam 50% da população brasileira. Ele destacou que, apesar dos municípios de regiões metropolitanas terem o Produto Interno Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) altos, existem, por outro lado, problemas crônicos como bolsões de pobreza, carência de saneamento básico e transporte.

Esses problemas sempre foram tratados como pontuais, municipais. Nesse sentido, Sérgio de Azevedo lembrou que a questão metropolitana não foi um tema relevante na Constituição brasileira e que, só a partir de meados dos anos 90 se percebeu, de acordo com ele, que "não se pode enfrentar problemas analisando apenas o ponto de vista municipal". E foi além: "A questão da disputa fiscal no federalismo brasileiro está acima da cooperação. Não adianta União, Estado e município fazerem uma coisa cada um. As ações devem ser feitas de modo entrelaçado entre os três níveis federativos". Ele acredita que essa visão municipal está cedendo lugar ao plano metropolitano, que, segundo ele, é fundamental. "Estamos vivendo um momento histórico importante de revisão desse quadro", opinou Sérgio de Azevedo.

Desafios para a Região Metropolitana de Belo Horizonte

Desafios não faltam para a RMBH. A Assembléia Metropolitana (Ambel), por exemplo, não tem hoje presidente. Antes, reunia-se para deliberar sobre tarifas de transporte, mas agora essa função está sendo exercida pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Desde o final da década de 80, governo estadual e grandes municípios afastaram-se da Ambel, ao mesmo tempo em que foi sucateada a gestão metropolitana, com a extinção da autarquia Plambel - detentora de um dos maiores orçamentos do Estado e cujo auge se deu entre 1975 e 1982. Na avaliação do deputado Roberto Carvalho (PT), Minas tem a legislação mais atrasada sobre regiões metropolitanas. Já o vice-prefeito da Capital, Ronaldo Vasconcellos, testemunhou que, historicamente, problemas políticos tornaram inviável a gestão metropolitana e prejudicaram o avanço da legislação.

Se essas questões continuam a emperrar o processo, outras iniciativas foram destacadas como positivas, entre elas a promulgação da Emenda 65/04, que trata do assunto. Fruto de proposição dos deputados Roberto Carvalho, que coordenou os debates desta terça, e Chico Simões (PT), a Emenda determina que a Assembléia Metropolitana é o órgão colegiado de decisão superior e de representação do Estado e dos municípios na região metropolitana. Suas competências são definir as macrodiretrizes do planejamento global da região e vetar, por deliberação de pelo menos dois terços (2/3) de seus membros, resolução emitida pelo Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano. É este conselho que tem, por sua vez, entre outras atribuições, a de aprovar o plano diretor.

Mais um desafio - A Emenda precisa agora ser regulamentada pela Assembléia de Minas, por meio do Projeto de Lei Complementar (PLC) 57/04. O deputado Roberto Carvalho enfatizou, no evento, que o Legislativo promoverá debates para colher sugestões, a fim de aperfeiçoar o projeto. A idéia, segundo o parlamentar, é promover audiências públicas para receber as contribuições da sociedade, e acertar o projeto antes de ir ao Plenário, com o objetivo é colocá-lo em prática a partir do segundo semestre deste ano.

O deputado Fábio Avelar (PTB), 3o-vice-presidente da Assembléia Legislativa, agradeceu o colega Roberto Carvalho por ter reintegrado, em seu PLC, os 34 municípios que compõem a RMBH. Ele apresentou outras ponderações em relação ao projeto, que serão analisadas por seu autor, e destacou a importância do Encontro Regional "Desafios da Agenda Municipal 2005", com a participação dos agentes políticos das cidades.

Já o deputado Leonardo Quintão (PMDB) informou que protocolou, há um mês, um pedido de instalação de comissão especial para iniciar um debate sobre o plano diretor das regiões metropolitanas de Belo Horizonte e do Vale do Aço.

Presenças - Compuseram a Mesa dos trabalhos, além dos deputados Fábio Avelar (PTB) e Roberto Carvalho (PT), o presidente da Granbel, Marcelo Gonçalves; o superintendente de Assuntos Metropolitanos da Sedru, Gustavo Gomes Machado; o consultor do Ministério das Cidades Sérgio de Azevedo; o professor Ricardo Roberto de Araújo Lima, membro da Coordenação do Plano de Desenvolvimento da Metrópole de Recife; e o vice-prefeito de Belo Horizonte, Ronaldo Vasconcellos.

 

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