Especialistas debatem com prefeitos e vereadores gestão da RMBH

Como garantir que os cidadãos possam, de fato, participar da elaboração do Plano Diretor Metropolitano e da gestão da...

11/04/2005 - 00:00
 

Especialistas debatem com prefeitos e vereadores gestão da RMBH

Como garantir que os cidadãos possam, de fato, participar da elaboração do Plano Diretor Metropolitano e da gestão da Região Metropolitana de Belo Horizonte? Que mecanismos podem ser adotados para mobilizar associações de moradores, técnicas e empresariais, a fim de que o Plano Diretor reflita os desejos dos habitantes dos 34 municípios que compõem a RMBH? Questões como essas foram destacadas na manhã desta segunda-feira (11/4/05), primeiro dia do evento "Desafios da Agenda Municipal 2005", que a Assembléia promove até esta terça (12) em Plenário, reunindo administradores e funcionários de prefeituras e câmaras da Região Central. Além dos municípios da RMBH, 22 cidades dessa região terão que fazer seus planos diretores por terem mais de 20 mil habitantes. Outras 66 estão na mesma situação, pois integram o circuito turístico da Estrada Real.

O secretário de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Manoel Costa, que participou da abertura do evento, lembrou que o fato de o País ter deixado de investir em planejamento trouxe reflexos negativos para a administração pública - e regiões metropolitanas como a de Belo Horizonte não fogem à regra. De acordo com ele, não existe hoje forma de gerir os problemas comuns. Na opinião do secretário, a RMBH precisa "urgentemente" de um Plano Diretor. Ele citou que, além de problemas como os de habitação, esgotamento sanitário, abastecimento de água e de acesso, a RMBH tem de encarar desafios como os investimentos da iniciativa privada para aumento da produção de ouro e as conseqüências dessa expansão; o aumento do fluxo migratório; e o incremento das atividades do Aeroporto de Confins, entre outros.

O secretário Manoel Costa e o 2º-vice-presidente da Assembléia de Minas, deputado Rogério Correia (PT), ressaltaram que o momento atual é de oportunidade. Correia lembrou que 80% dos prefeitos são de primeiro mandato e mais de 80% dos vereadores também. Por isso, é importante fornecer subsídios para que os administradores consigam encarar desafios como a elaboração do Plano Diretor e do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPA). O evento "Desafios da Agenda Municipal 2005", que tem esse objetivo, é o nono de 12 debates regionais que o Legislativo realiza com Governo e entidades, para discutir temas como Plano Diretor, PPA, Lei de Responsabilidade Fiscal e fontes de financiamentos.

Levar informação por meio dos encontros regionais que a Assembléia está promovendo é uma forma de ajudar aqueles que, na visão de Correia, são a principal referência dos deputados nos municípios. "São os prefeitos e vereadores que nos dão a radiografia das demandas e das dificuldades dos municípios, fornecendo subsídios para a atuação parlamentar", destacou o 2º-vice-presidente da ALMG, que abriu o evento em nome do presidente Mauri Torres (PSDB). O deputado Rogério Correia fez ainda um histórico das iniciativas implementadas pela Assembléia em prol das administrações municipais, como o lançamento da Frente Parlamentar Municipalista, a interiorização de ações e os eventos que buscaram discutir alternativas para fazer frente à escassez de recursos.

A intenção do Governo estadual, de acordo com o secretário Manoel Costa, também é aproveitar esse momento de renovação para informar administradores e estimular a participação dos cidadãos. "Não basta contratar uma equipe de consultoria para elaborar um plano que é de desenvolvimento estratégico das cidades. Estamos falando de um plano de mais de dez anos de vida, por isso é preciso garantir a participação social", ressaltou. Na opinião do secretário, há um "espírito propositivo" nesse momento e é preciso aproveitá-lo.

Prefeitos relatam dificuldades - A importância da formulação dos Planos Diretores também foi destacada pelo vice-prefeito de Belo Horizonte, Ronaldo Vasconcellos; pelo presidente da Câmara Municipal, Silvinho Rezende; e pelo prefeito de Pedro Leopoldo e presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Granbel), Marcelo Gonçalves.

Silvinho Rezende relembrou as dificuldades financeiras das prefeituras, afirmando que elas poderão acabar "fechando as portas". De acordo com ele, a Constituição Federal de 1988 determinou a ampliação das atribuições das administrações municipais sem o conseqüente aumento dos recursos para implementação das políticas públicas e sem autonomia nas decisões. Essa ampliação das atribuições municipais desacompanhada dos investimentos necessários também foi citada por Marcelo Gonçalves. Ele destacou os conhecidos problemas enfrentados na área da saúde e o crescimento da violência na RMBH.

Dezesseis municípios com menos de 20 mil habitantes precisam de Plano Diretor

O superintendente da Assuntos Metropolitanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru), Gustavo Gomes Machado, explicou o processo de elaboração do Plano Diretor, obrigatório para municípios com mais de 20 mil habitantes, com atividades de grande impacto ambiental, com potencial turístico ou pertencentes a regiões metropolitanas. Atualmente, existem em Minas Gerais 16 municípios com menos de 20 mil habitantes que precisam de plano diretor, sendo que 15 deles estão na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e um na Região Metropolitana do Vale do Aço.

O superintendente da Sedru lembrou que esses municípios, além dos 166 com mais de 20 mil habitantes, têm até outubro de 2006 para elaborarem seu Plano Diretor. Segundo Gustavo Gomes Machado, os municípios que já possuem o plano devem atualizá-lo de acordo com os novos instrumentos do Estatuto da Cidade, voltados para a chamada reforma urbana. "A reforma urbana está para as cidades assim com a reforma agrária está para o meio rural", afirmou. Ele alertou ainda que é uma reforma cara, mas que deve ser feita já que mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas e questões como a especulação imobiliária precisam ser controladas.

Gustavo também destacou que o grande desafio na elaboração do Plano Diretor é conciliar os estudos técnicos e a participação popular. De acordo com ele, os estudos técnicos devem ter uma linguagem acessível que permitam a participação da comunidade. Esse aspecto também foi levantado pelo representante do Conselho Regional de Engenharia (Crea/MG), José Abílio Belo Pereira. Para ele, é necessário e possível desmistificar a linguagem técnica para que haja participação da sociedade. "Participar significa dar condições às pessoas de compreender os estudos para ter completa condição de decidir. É capacitar as pessoas para que elas possam participar", opinou José Abílio.

O representante do Crea/MG ressaltou ainda outros desafios na elaboração do Plano Diretor, como a de criar uma função social da cidade e da propriedade, "revolucionando o pensamento de território"; e a idéia da sustentabilidade, do plano diretor voltado para a ótica do desenvolvimento econômico, social e ambiental. José Abílio informou ainda sobre o grupo organizado pelo Crea/MG, formado por várias entidades e instituições, entre elas Assembléia Legislativa e Sedru, para subsidiar os municípios na elaboração do Plano Diretor.

Professora destaca importância da participação social

Também na manhã do primeiro dia do evento, a coordenadora do Centro de Estudos Legislativos da UFMG, Maria de Fátima Anastasia, destacou que a lei que regulamenta a elaboração do Plano Diretor institui a participação popular não só como direito do cidadão, mas como dever dos governantes. "Os governantes devem dar as condições para a participação institucionalizada. E, no que diz respeito à Região Metropolitana de Belo Horizonte, há uma administração metropolitana, mas não um poder político metropolitano", enfatizou, lembrando que esse é mais um desafio a enfrentar.

Como exemplos de mecanismos institucionalizados de participação continuada dos cidadãos, organizados no âmbito do Legislativo e do Executivo, a professora destacou os conselhos setoriais de políticas públicas, os orçamentos participativos, as audiências públicas de comissões e as comissões de participação popular. "A elaboração do Plano Diretor é um momento importantíssimo para que nós, cidadãos, ocupemos esse espaço que a democracia oferece", acrescentou Maria de Fátima, ressaltando que o cidadão poderá sinalizar para seus representantes eleitos quais as preferências sobre a organização dos municípios e a convivência nas cidades. Vale lembrar que o Plano Diretor é um dos principais instrumentos de planejamento municipal, pois define a ocupação do território, além de ser fonte importante de planejamento do IPTU, entre outros fatores.

Na avaliação da professora, uma das conseqüências da participação social institucionalizada na elaboração do Plano Diretor poderá ser, inclusive, a diminuição da assimetria informacional, presente nas democracias modernas. Essa assimetria, explicou, caracteriza-se por uma situação em que representantes não são informados do que querem seus governados e representados desconhecem ações, omissões e escolhas de seus governantes.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea/MG), Marco Túlio de Melo, também lembrou, na abertura do evento, que essa participação deve abranger representantes de universidades, de entidades de classe, empresários e técnicos, além das associações de moradores. "É preciso garantir que o resultado do planejamento reflita o desejo dos que habitam as cidades. Caso contrário, a cada mudança da composição da Câmara e da Prefeitura, haverá mudança também do Plano Diretor", alertou.

Também pela manhã, o gerente de mercado de Estados e Municípios do Escritório de Negócios BH/Norte, da Caixa Econômica Federal, Gilberto Nonato Ferreira da Costa, apresentou um produto da Caixa que, segundo ele, seria um facilitador para os administradores municipais. O produto apresentado foi o PNAFM - Programa Nacional de Apoio ao Financiamento Municipal.

No início dos debates, o gerente-geral da Escola do Legislativo, Alaôr Messias Marques Júnior, lembrou aos participantes que ainda estão abertas as inscrições para os cursos do Programa de Capacitação dos Agentes Públicos Municipais, promovido pela Escola. Os cursos são destinados a vereadores mineiros eleitos em 2004 e servidores públicos municipais e propõe um aprofundamento dos temas abordados nos encontros regionais.

Presenças - Compuseram a Mesa dos trabalhos, além das pessoas citadas, os prefeitos de Carandaí, Moacir Tostes de Oliveira; de Morro da Garça, José Maria de Castro Matos; e de Itabira, João Izael Querino Coelho. Os debates da manhã foram coordenados pelos deputados João Leite (PSB) e Jô Moraes (PCdoB) e contaram também com a presença do 3º-vice-presidente, deputado Fábio Avelar (PTB).

 

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