Deputados querem comitê para acompanhar negociações com Mercedes

A Assembléia Legislativa poderá criar uma comitê de acompanhamento das negociações entre poder público, trabalhadores...

08/04/2005 - 00:00
 

Deputados querem comitê para acompanhar negociações com Mercedes

A Assembléia Legislativa poderá criar uma comitê de acompanhamento das negociações entre poder público, trabalhadores e dirigentes da Mercedes-Benz, na tentativa de impedir o fechamento da fábrica de Juiz de Fora. Essa foi uma das medidas sugeridas durante a audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais e de Regionalização da Assembléia Legislativa que se reuniu na cidade da Zona da Mata nesta sexta-feira (8/4/05), a requerimento dos deputados Edson Rezende e Biel Rocha, ambos do PT. Entre os trabalhos que esse comitê realizaria está a coleta de dados e documentos para um diagnóstico real e de perspectiva da empresa, bem como de relatórios de prestação de contas.

O comitê também poderá apurar a existência de um novo protocolo de entendimento que teria sido assinado recentemente pelo Estado e a empresa. A dúvida sobre a existência desse novo acordo, renovando o que havia sido estabelecido em 1996, foi trazida à audiência por um líder sindical. A criação desse comitê depende de que um requerimento seja aprovado na Assembléia, já que não havia quorum de deputados da comissão para aprová-lo na audiência pública.

Nota não convence - A nota divulgada pela imprensa na quinta-feira (3), afirmando que não fecharia a unidade de Juiz de Fora, não convenceu as autoridades nem as dezenas de metalúrgicos que lotaram o Plenário da Câmara Municipal, onde aconteceu a reunião. O prefeito de Juiz de Fora, Alberto Bejani, considerou a nota "vaga e arrogante". Ele disse que teve apenas a confirmação de que Classe A, cuja fabricação será encerrada em agosto, e o Smart não serão produzidos na cidade. O prefeito disse que fará de tudo para manter a fábrica em Juiz de Fora e, assim, garantir os 1.160 empregos diretos que ela gera hoje. Entre as medidas que poderá adotar está, inclusive, a prorrogação do prazo de isenção do IPTU e do ISS. Pelo contrato, a isenção valeria por dez anos a partir do início das atividades da unidade.

O deputado federal e prefeito de Juiz de Fora responsável pelas negociações que garantiram a instalação da empresa na cidade, Custódio Mattos (PSDB-MG), disse que a implantação da Mercedes-Benz em Minas Gerais foi uma vitória, já que Juiz de Fora disputou com mais de 40 cidades para conseguir sediar a empresa. Segundo ele, a prefeitura gastou, na época, R$ 7,2 milhões com a desapropriação do terreno que abrigaria a unidade e com a construção de uma estação de tratamento de água. "Só com a obra da Mercedes-Benz, a prefeitura arrecadou R$ 3 milhões em ISS e, depois disso, conseguiu não só recuperar o restante do investimento como ganhar R$ 69 milhões somente em impostos diretos gerados com a vinda da empresa para a cidade", afirmou o ex-prefeito. Ele informou que as isenções foram aplicadas exclusivamente para a Mercedes e não para seus fornecedores.

Custódio Mattos concordou, no entanto, com o prefeito Alberto Bejani sobre o conteúdo da nota divulgada pela empresa e se solidarizou com a luta contra o fechamento da unidade.

Trabalhadores afirmam que prefeitura é credora da fábrica

O representante do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Mercedes-Benz, Walter Sanchez, também comentou a nota da empresa e disse querer saber qual o novo "conceito empresarial" que ela pretende adotar em Juiz de Fora. "O que será produzido, para quem, qual o volume de produção, quantos empregos serão gerados?", questionou Sanchez. Segundo ele, a prefeitura de Juiz de Fora e o governo do Estado são credores da empresa, já que investiram tanto nela.

Walter Sanchez também apresentou dados que apontam para o crescimento da indústria metalúrgica. Segundo ele, 2004 foi o melhor ano em uma década e teve um efeito positivo no crescimento do emprego metalúrgico - mais 157.709 postos de trabalho, ou seja, um acréscimo de 11,6%, enquanto para o conjunto da indústria, ainda de acordo com dados apresentados por ele, esse aumento foi de 9,4%. "Apesar do intenso uso de horas-extras, o emprego metalúrgico cresce pelo segundo ano consecutivo, uma série inédita nos últimos 17 anos", comemorou. "Enquanto isso, a Mercedes-Benz está fechando suas portas", comparou.

O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, João César da Silva, cobrou dos dirigentes da empresa respostas claras para os trabalhadores sobre o futuro de seus empregos. "Dizer que a solução está próxima é conversa fiada", desabafou. A mesma opinião tem o presidente do sindicato, Geraldo Werneck, que afirmou que a nota divulgada pela empresa não acalma os trabalhadores, porque eles não sabem se serão contemplados no novo modelo que deverá ser adotado pela Mercedes em Juiz de Fora.

Representante da Mercedes-Benz não fala em prazo

O diretor de Relações Governamentais da Mercedes-Benz, Sérgio Kacas, que representou a empresa na audiência, afirmou não poder detalhar os planos da montadora para Juiz de Fora por se tratar de uma estratégia empresarial. Segundo ele, não é possível ainda falar em prazos para a solução do problema ou para o anúncio de qualquer decisão. Ele foi vaiado pela platéia quando buscou comparar o posicionamento da empresa com o sigilo do técnico da seleção brasileira quanto à escalação do time.

Kacas também defendeu a responsabilidade social da empresa para a qual trabalha há 18 anos. "Quando percebemos que o projeto Smart não seria viável, não pensamos em fechar a fábrica, ma em buscar alternativas", argumentou. Questionado pelos funcionários sobre a segurança de seus empregos, ele respondeu que o acordo de estabilidade é válido até fevereiro de 2006.

Deputados incentivam mobilização de trabalhadores

Os deputados presentes à reunião, Edson Rezende, que a presidiu, Biel Rocha e Jésus Lima, todos do PT, se solidarizaram com os empregados da fábrica e se colocaram à disposição na luta pela permanência da unidade em Juiz de Fora. Eles foram unânimes em dizer aos participantes da audiência que se mantenham mobilizados. Biel Rocha lembrou Karl Marx quando disse: "Trabalhadores do mundo, uni-vos!" e conclamou os funcionários a não se dispersarem mediante notícias otimistas. Edson Rezende destacou a importância da fábrica para o desenvolvimento do Estado, mas ponderou: "Estamos buscando uma saída para a Mercedes, mas, antes de tudo, uma saída que atenda os trabalhadores". Jésus Lima destacou que a organização dos funcionários é fundamental para tentar reverter o quadro atual.

O diretor do Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi), Eduardo Lery Vieira, que representou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Wilson Brumer, confirmou a informação recebida pelo governo de que a fábrica não será fechada e ressaltou que o governo de Minas está atento à questão, ciente da importância da unidade para a economia mineira. O delegado regional do Trabalho, Carlos Calazans, representando o governo federal na audiência, afirmou que nenhuma empresa vem para o Brasil por caridade e colocou a DRT, com seus fiscais e auditores do trabalho, à disposição para o acompanhamento das negociações entre empresa e trabalhadores. Vários vereadores de Juiz de Fora e Santos Dumont - cidade que tem cerca de 400 empregados na Mercedes - se manifestaram em defesa da permanência da fábrica em Juiz de Fora.

Presenças - Deputados Edson Rezende, que presidiu a reunião; Biel Rocha e Jésus Lima, todos do PT. Além das autoridades citadas na matéria, o presidente da Câmara Municipal de Juiz de Fora, Vicente de Paula Oliveira; o presidente do Centro Industrial de Juiz de Fora e da Fiemg regional da Zona da Mata, Francisco Campolina; o assessor parlamentar da Fiemg, Pedro Parisi, vários vereadores e líderes sindicais.

 

 

 

 

 

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