Debate marca comemoração do Dia Mundial da Saúde

A defesa veemente do Sistema Único de Saúde (SUS) e críticas contundentes ao governo do Estado pelo não cumprimento d...

07/04/2005 - 00:00
 

Debate marca comemoração do Dia Mundial da Saúde

A defesa veemente do Sistema Único de Saúde (SUS) e críticas contundentes ao governo do Estado pelo não cumprimento da Emenda Constitucional 29, que determina a aplicação de pelo menos 12% dos recursos orçamentários em ações e serviços de saúde, e pela entrega do gerenciamento do Hospital de Pronto Socorro de Venda Nova, em Belo Horizonte, a uma Oscip - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Essas foram as tônicas dos pronunciamentos de parlamentares e especialistas que participaram, nesta quinta-feira (7/4/05), no Plenário da Assembléia Legislativa, de reunião em comemoração do Dia Mundial em Defesa da Saúde.

Ao abrir o debate, o deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento que deu origem à reunião, afirmou que o SUS, instituído pela Constituição da República de 1988 e regulamentado em 1990, estabeleceu uma base sólida para a saúde como direito de todo cidadão, e criticou o governo estadual por não cumprir a Emenda 29. Ele lembrou que tanto o Ministério Público Estadual quanto o Ministério Público Federal já ajuizaram ações públicas civis denunciando esse desrespeito à Constituição Federal, mas as ações ainda não foram julgadas.

De acordo com Rogério Correia, de 2000 a 2002 o governo deixou de repassar cerca de R$ 665 milhões para a saúde, e em 2004 o déficit foi superior a R$ 300 milhões. "Em 2005, a situação é ainda pior, pois o orçamento aprovado pela Assembléia deixa um déficit de R$ 70 milhões por mês nas verbas para a saúde", disse, ressalvando que o Bloco PT/PCdoB votou contra esse item do orçamento. O deputado finalizou seu pronunciamento aventando a possibilidade da instalação de uma CPI para investigar o descumprimento da Emenda 29 pelo Estado.

Programas estruturantes - A defesa do governo coube ao secretário adjunto de Estado da Saúde, Hely Tarquínio, para quem o debate sobre a regra constitucional tem que levar em conta a realidade prática dos municípios e a Emenda 29 carece de melhor interpretação. "Dos 853 municípios mineiros, 700 não têm condições de manejar o Direito; há um imenso oceano entre o Estado de Direito democrático e o Estado de fato", analisou.

A seguir, Hely Tarquínio listou os seis projetos estruturantes do governo para a área de saúde: o Plano Diretor de Regionalização (PDR), que consiste no mapeamento do Estado para montagem de uma rede de atendimento à saúde; o programa "Viva a Vida", que busca redução da mortalidade infantil mediante ações como a instalação de UTIs neonatais e infantis; o "Prohosp", que repassa recursos para melhorar a qualidade e o sistema de gerenciamento de hospitais; o Programa de Saúde da Família (PSF); o projeto "Farmácia de Minas", que prevê a construção de mais uma fábrica de medicamentos no Estado; e investimento no transporte sanitário, com a distribuição de ambulâncias.

Falta de fiscalização - O governo estadual voltou a ser alvo de duras críticas na palestra da promotora de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes, que denunciou a existência de fraudes na aplicação dos recursos da saúde em todo o Estado, sem que haja auditorias no setor. "Isso é um problema seríssimo. O Estado não audita a fraude, o TCE e o TCU não auditam para onde vai o dinheiro federal que vai para os municípios. Quem diz que sabe para onde vai o dinheiro da saúde está mentindo", advertiu. A representante do Ministério Público condenou, ainda, o "descumprimento reiterado", por parte do secretário de Saúde, de determinações judiciais sobre o suprimento de medicamentos essenciais, e o sucateamento de hospitais da rede pública. "É de estarrecer o resultado de vistoria feita na rede Fhemig", declarou.

Josely Pontes discordou, também, da entrega de hospitais públicos para Oscips, dizendo que há "interesses escusos permeando a área de saúde". "O que está por detrás da entrega do Pronto Socorro de Venda Nova à iniciativa privada? O que virá depois?", indagou.

Defesa do SUS - A secretária adjunta de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte, Maria do Carmo, defendeu os princípios de integralidade e de universalidade que fundamentam o SUS e disse que o sistema, apesar de apresentar problemas de fiscalização e gestão, foi um enorme avanço na questão da saúde pública. Para ela, uma das maiores lacunas é a falta de uma política para o atendimento de média complexidade. Maria do Carmo alertou, também para a ameaça que a questão do pagamento complementar significa para o sistema. Em Belo Horizonte, segundo ela, há aplicação de 19% do orçamento na saúde pública, e nos últimos dez anos a mortalidade infantil caiu de 34 para 13,3 óbitos para cada mil nascimentos. "Ainda há problemas, mas temos muito o que comemorar no Dia Mundial da Saúde", avaliou.

Conceição Aparecida Rezende, membro da Comissão de Recursos Humanos do Conselho Nacional de Saúde, fez um histórico do surgimento do SUS - "que substituiu o antigo modelo médico-centrado que só atendia as pessoas quando estavam morrendo" e também criticou a saúde no Estado, dizendo que a unificação do sistema ainda não aconteceu em Minas Gerais e que o controle social público está comprometido, pois nem o Conselho Estadual de Saúde tem acesso aos recursos do Fundo Estadual de Saúde.

Falta de recursos para investimentos - Rilke Novato Públio, diretor da Federação Nacional dos Farmacêuticos, apontou o baixo nível de investimentos em saúde no Brasil, cujos índices são inferiores até mesmo aos de outros países do Terceiro Mundo. Ele informou que a soma de todos os recursos investidos na saúde pela União, estados e municípios é da ordem de R$ 0,70/habitante/dia. Ele chamou a atenção, ainda, para o enfrentamento que os defensores do sistema público de saúde têm que fazer com a indústria farmacêutica internacional e citou lema de sua categoria, que diz que "a informação é o melhor remédio".

Outro participante do debate foi o presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, Cristiano Gonzaga da Mata Machado, que focou seu pronunciamento na denúncia dos baixos salários dos profissionais que trabalham na saúde pública e na falta de condições materiais adequadas. Ele também denunciou a continuidade da existência de contratos administrativos na rede da Fhemig, o que seria inconstitucional, e disse que o "déficit zero", anunciado pelo governo estadual, acontece às custas da saúde pública.

Frente parlamentar - Renato Barros, diretor do Sind-Saúde, criticou a desatenção da Assembléia Legislativa para com a questão do descumprimento da Emenda Constitucional 29, os baixos salários dos trabalhadores estaduais da saúde e a possibilidade de privatização do Pronto Socorro de Venda Nova, com seu gerenciamento passando às mãos de uma Oscip. Ele também cobrou, dos deputados estaduais, uma participação mais ativa da Frente Parlamentar da Saúde. A última expositora foi Maria da Glória Silva, vice-presidente da Mesa Diretora do Conselho Distrital de Saúde de Venda Nova, que manifestou a frustração da comunidade ao ver, depois de anos de luta pela construção do hospital, a possibilidade de sua gestão passar à iniciativa privada.

Mesa - Participaram da mesa dos trabalhos os deputados Rêmolo Aloise (PSDB) - 1º-vice-presidente da Assembléia, Rogério Correia (PT) - autor do requerimento que deu origem à reunião - e Adelmo Carneiro Leão (PT) - presidente da Comissão de Saúde. Também compuseram a mesa o secretário adjunto de Estado de Saúde, Hely Tarquínio; a secretária adjunta de Saúde de Belo Horizonte, Maria do Carmo; a promotora de Justiça de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes; Conceição Aparecida Rezende, membro da Comissão de Recursos Humanos do Conselho Nacional de Saúde; Rilke Novato Públio, diretor da Federação Nacional dos Farmacêuticos; Cristiano Gonzaga da Mata Machado, presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais; Renato Barros, diretor do Sind-Saúde; e Maria da Glória Silva, vice-presidente da Mesa Diretora do Conselho Distrital de Saúde de Venda Nova.

 

 

 

 

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