Condições de trabalho na Cenibra são tema de audiência na Assembléia

As condições de trabalho na Cenibra S.A. foram o tema da reunião, nesta quarta-feira (30/3/05), da Comissão de Direit...

30/03/2005 - 00:00
 

Condições de trabalho na Cenibra são tema de audiência na Assembléia

As condições de trabalho na Cenibra S.A. foram o tema da reunião, nesta quarta-feira (30/3/05), da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, que reuniu, de um lado, o sindicato dos trabalhadores da empresa, e de outro, o advogado da companhia. Participaram também da audiência pública representantes de outras entidades de trabalhadores e de empresas do setor, da Delegacia Regional do Trabalho (DRT-MG) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Guanhães e Região (Sitiextra), José Maria Soares, informou que desde outubro do ano passado a entidade vem negociando com a empresa, sem chegar a um acordo. Segundo ele, os trabalhadores, em assembléia, rejeitaram a proposta da Cenibra, devido a três cláusulas consideradas abusivas pela categoria: turno ininterrupto de oito horas (o que estaria contrariando a Constituição da República, que prevê turnos de, no máximo, seis horas); o banco de horas, considerado lesivo; e o pagamento de apenas uma hora de trânsito (sendo que muitos trabalhadores gastam, segundo ele, até três horas para chegar à empresa). Como as duas partes não chegaram a um acordo, a negociação está sendo feita em audiências na DRT-MG, sendo que a próxima está marcada para o dia 6 de abril.

Pressão - José Soares afirmou ainda que, diante do impasse, a empresa teria pressionado os funcionários para assinarem o acordo, promovendo "tortura psicológica". Por sua vez, o sindicato denunciou essa prática ao escritório da OIT no Brasil e ao Ministério Público do Trabalho. O dirigente considerou "terrível" a terceirização na Cenibra, por promover discriminação salarial contra os terceirizados. De acordo com ele, atualmente, dos quase 9 mil trabalhadores, apenas 20% - 1.800 - são da própria empresa (recebendo salários na faixa de R$ 1.600); enquanto os 80% restantes (aproximadamente 7 mil), terceirizados, receberiam em sua maioria apenas R$ 277. Soares denunciou também casos de trabalhadores com doenças adquiridas no trabalho e sem assistência da empresa, e de outros contaminados por água tóxica. Foi também apresentado um vídeo mostrando um trabalhador aposentado da Cenibra que mora numa casa da empresa em péssimas condições.

Empresa convida comissão para visita

Rebatendo as acusações da categoria, o advogado da Cenibra, Ricardo Cunha e Silva, afirmou que a empresa tem total e irrestrita disposição para negociar com os trabalhadores. Ele considerou, ainda, que a discussão fugia do âmbito da Comissão de Direitos Humanos, uma vez que já estava sendo tratada em outras duas frentes, a DRT e o MPT, há meses. Sobre o acordo, o advogado disse que, apesar da negativa do Sitiextra, 99% dos trabalhadores concordaram com as cláusulas. Por isso, a Cenibra fechou o acordo com outro sindicato representativo da categoria, o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sintro).

Ricardo Cunha registrou que o próprio Sitiextra, em anos anteriores, assinou acordo com o mesmo teor do atual. Quanto às condições de vida de trabalhadores citadas pelo sindicalista, ele respondeu que a Cenibra tem um Departamento de Assistência Social atuante, com "portas abertas para assistir empregados e ex-empregados". Para apurar as acusações de "tortura psicológica", o advogado convidou a comissão para uma visita à empresa, juntamente com representantes do sindicato, para saber dos próprios trabalhadores se concordavam ou não com o acordo. O convite foi aceito pelo presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), que submeteu à aprovação, na reunião, requerimento com esse teor.

Acordo - O auditor Fiscal do Trabalho da DRT-MG, Mário Parreiras de Faria, esclareceu que o órgão havia cancelado o acordo firmado entre a Cenibra e o Sintro, em Ipatinga, por considerá-lo inadequado. Ele anunciou, também, que a DRT determinou que a empresa seja fiscalizada quanto às denúncias apresentadas pelo Sitiextra.

O advogado da Federação Extrativa, Luciano Ricardo de Magalhães, disse que o processo de terceirização verificado na Cenibra e em outras empresas é perverso. Para ele, esse fato tem levado à precarização das relações de trabalho, ao adoecimento dos trabalhadores e, por fim, à violação de direitos humanos. Já o diretor do escritório da OIT no Brasil, José Carlos Ferreira, opinou que, no embate entre a empresa e a categoria, parecia-lhe que se descumpria a Convenção 87 da entidade, que previa o direito à liberdade sindical e à negociação coletiva. O diretor da CUT do Vale do Aço, João Paulo Vasconcelos, fez várias críticas à Cenibra. "Uma empresa que paga salários de R$ 277 não respeita direitos humanos; isso é uma escravidão!", indignou-se.

Camelôs transferidos para Shopping Tupinambás reclamam

Vendedores ambulantes transferidos para o Shopping Tupinambás estiveram novamente na comissão para reclamar da maneira autoritária como estariam sendo tratados pela Prefeitura de Belo Horizonte. Segundo Cleiton dos Santos, a PBH "simplesmente tirou o pessoal da rua e jogou lá", sem dar condições deles trabalharem. Santos afirmou que vários companheiros seus estão com aluguéis atrasados porque não têm vendido quase nada: "não dá para vier num shopping que não tem público". Já Hélio Pereira reclamou do "terrorismo fiscal" da prefeitura, em que fiscais e também policiais estariam fazendo apreensões de produtos dos camelôs sem oficializar esse ato em documentação. Em resposta aos ambulantes, o deputado Durval Ângelo disse que iria solicitar o envio das notas taquigráficas da reunião ao Ministério Público, para apuração das denúncias, e pediu ao deputado Roberto Ramos (PT) que acompanhasse de perto o caso.

Precatório - O advogado Giovani Peixoto pediu à comissão providências no sentido de agilizar o pagamento de precatório de R$ 23 milhões à família Lamounier Vilela, a qual representa. Segundo ele, o valor refere-se a uma causa ganha pela família há quase 20 anos, numa ação de indenização pela condenação injusta de Aparício Lamounier Vilela. Em 1927, ele foi preso sob a acusação de ter matado seu tio, em Cristais, Centro-Oeste de Minas. Todos os seus bens foram leiloados pela Justiça, incluindo cinco fazendas, deixando a sua família em situação de penúria.

Requerimentos aprovados

Foram aprovados requerimentos do deputado Durval Ângelo em que solicita: audiência pública em Taiobeiras para debater a construção do açude público Berizal e obter esclarecimentos sobre os beneficiários da obra; informações à Secretaria Especial de Direitos Humanos sobre pedido de análise de documentação de reintegração ao Exército, protocolada pelo ex-2º-sargento Marcelo Campos de Figueiredo; envio de ofício à DRT-MG, pedindo a apuração de ocorrência de doenças profissionais em trabalhadores da Cenibra, inclusive por intoxicação com produtos químicos; pedido, ao chefe da Polícia Civil, de exumação do corpo de Paulo Augusto Moreira, morto no dia 24 de fevereiro; pedido, ao CAO Criminal, do Ministério Público, de instauração de investigação para averiguar as circunstâncias dessa morte; visita da comissão às dependências da Cenibra.

Também foram aprovados requerimentos conjuntos de Durval Ângelo e da deputada Jô Moraes (PCdoB) solicitando moção de repúdio ao ato do prefeito de Xambioá (TO), que destruiu um monumento em memória do ex-presidente nacional do PCdoB, João Amazonas; e encaminhando ofício às autoridades pedindo a adoção de medidas para reconstruir o monumento.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT) - presidente da comissão, Roberto Ramos (PL), José Milton (PSDB), Paulo Cesar (PFL), Paulo Piau (PP), João Leite (PSB), Weliton Prado (PT) e José Henrique (PMDB).

 

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