Críticas ao crescimento desordenado marcam encontro em Uberlândia

Críticas ao crescimento desordenado de Uberlândia marcaram a primeira parte do encontro regional "Desafios da Agenda ...

29/03/2005 - 00:01
 

Críticas ao crescimento desordenado marcam encontro em Uberlândia

Críticas ao crescimento desordenado de Uberlândia marcaram a primeira parte do encontro regional "Desafios da Agenda Municipal 2005", promovido pela Assembléia Legislativa na cidade do Triângulo Mineiro nesta terça-feira (29/3/05). O urbanista e representante do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG) em Uberlândia, Hermilon Miranda Mota, denunciou as sucessivas alterações no perímetro urbano uberlandense, que serviram para favorecer a especulação imobiliária no município.

Segundo Hermilon, o perímetro urbano de Uberlândia foi estabelecido pela primeira vez em 1950 e alterado quatro vezes. Na última alteração, de acordo com ele, o perímetro urbano foi reduzido na zona leste da cidade, para conter a especulação imobiliária na região. Por outro lado, no entanto, a prefeitura expandiu o perímetro na zona oeste, para regularizar a situação dos loteamentos irregulares que proliferavam no entorno do aeroporto.

Como exemplo de planejamento urbano desastroso, ele citou a construção do bairro Luizote de Freitas nos anos 70, que foi considerado na época o maior conjunto habitacional da América do Sul, com 5.836 casas. O conjunto foi construído a oito quilômetros do bairro mais próximo, e o grande espaço vazio hoje é uma área valorizada, ocupada por um residencial de alto nível e pela sede de uma grande empresa. "Isso tem um custo para todos: para o poder público, que tem levar infra-estrutura para regiões cada vez mais distantes da área central; e para os cidadãos, que têm que percorrer distâncias cada vez maiores para ter acesso aos serviços urbanos", explicou.

O resultado do crescimento desordenado é a grande quantidade espaços vazios na cidade, que tem 500 mil habitantes. "Uberlândia comporta duas uberlândias dentro desses espaços", criticou. Além da criação de bairros distantes que favorece a especulação imobiliária, a cidade também tem que lidar com elevadas taxas de crescimento populacional, que gira em torno de 3,75% ao ano, segundo o especialista. Para resolver o problema, Hermilon defende a elaboração de políticas urbanas integradas das cidades das regiões polarizadas por Uberlândia: Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste de Minas e Sudoeste Goiano.

A elaboração do plano diretor foi o tema da palestra do diretor de programas e projetos metropolitanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru), Paulo Henrique Rocha Leão. "O plano define como cada área da cidade vai ser ocupada, garante a função social da propriedade e é traduzido formalmente em um conjunto de leis aprovadas pela Câmara Municipal", explicou. Segundo ele, o plano deve conter a delimitação do perímetro urbano, a previsão da preservação do patrimônio cultural e do meio ambiente e a regularização fundiária das cidades.

O plano diretor é uma exigência do Estatuto das Cidades, que estabelece os parâmetros para sua elaboração: participação popular, gestão democrática, publicidade e linguagem acessível. A lei que o institui tem que ser revista a cada dez anos. Os prefeitos que não elaborarem o plano dentro do prazo previsto ou restringirem a participação popular no seu processo de elaboração podem ser processados por improbidade administrativa.

O plano diretor deve ser aprovado até outubro de 2006 nas cidades com mais de 20 mil habitantes e nos municípios turísticos, com atividades de grande impacto ambiental ou pertencentes a regiões metropolitanas. Enquadram-se nessa situação 166 dos 853 municípios mineiros. No Triângulo, apenas oito dos 35 municípios que compõem a região estão obrigados a elaborar plano diretor.

O professor Carlos Ranulfo, do Departamento de Ciência Política da UFMG, abordou a importância da participação popular na elaboração do plano diretor. Para o professor, o ato de votar, embora seja um importante instrumento democrático, não é suficiente para permitir a participação do cidadão nas decisões políticas. "Dificilmente vamos encontrar um vereador que teve a oportunidade de discutir o plano diretor com seus eleitores. Se esse plano representa a chance de crescimento harmônico da cidade, faz sentido que os representantes eleitos se voltem para o cidadão para discuti-lo", afirmou.

Ranulfo alertou para a possibilidade de fracasso da tentativa de discussão democrática na hora da elaboração do plano. Para evitar o esvaziamento desse debate, segundo ele, as pessoas precisam reconhecer a importância do plano diretor para a cidade e têm que se informar sobre os aspectos técnicos a serem abordados. "Os cidadãos também precisam perceber a possibilidade de participação efetiva no destino da cidade, e também é necessário prever garantias de que as propostas discutidas serão executadas", completou.

O superintendente em exercício da Caixa Econômica Federal no Triângulo, Luís Carlos Alves, explicou para a platéia de prefeitos, vereadores e servidores de prefeituras e câmaras municipais como funciona o Programa Nacional de Apoio à Gestão Administrativa e Fiscal dos Municípios Brasileiros. Trata-se de uma linha de financiamento com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que prevê a liberação de US$ 300 milhões só na primeira fase. O limite de crédito varia entre R$ 200 mil e R$ 35 milhões (de acordo com o tamanho do município) e o prazo de amortização da dívida é de 20 anos.

Deputados da região falam sobre os problemas do Triângulo

O encontro foi aberto pelo deputado uberlandense Luiz Humberto Carneiro (PSDB), que representou o presidente da Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB). O parlamentar chamou a atenção para a importância econômica do Triângulo Mineiro, que detém a segunda maior renda per capita entre as regiões mineiras e cujas cidades apresentam alto índice de desenvolvimento humano. "Mas nós sabemos das dificuldades enfrentadas pelos prefeitos diante da atual conjuntura econômica. Gerir um município exige atenção permanente. Prefeitos e vereadores precisam de cooperação nesta situação de recursos escassos e cobrança crescente da sociedade", analisou.

Para o também uberlandense deputado Weliton Prado (PT), o maior desafio do Triângulo Mineiro é superar o preconceito por parte do governo do Estado contra a região. "Nossos governantes acham que o Triângulo não faz parte de Minas Gerais por ser uma região rica. Na hora de dividir o bolo tributário, nós ficamos com as migalhas", reclamou. O deputado Ricardo Duarte (PT), que é de Ituiutaba, reforçou as palavras de seu colega de partido, mas lembrou que a criação da bancada do Triângulo na Assembléia representa maior visibilidade política para a região no Poder Legislativo.

Na opinião do deputado Leonídio Bouças (PTB), também uberlandense, parte da culpa do distanciamento da região é das lideranças locais, pois o Triângulo tradicionalmente tem laços políticos e econômicos mais estreitos com São Paulo e Goiás. Mas ele acredita que o isolamento da região tem diminuído com o crescimento de sua representação política em Belo Horizonte. Já o deputado Marlos Fernandes (PPS), que é de Araguari, defendeu a união de esforços para se obter mais recursos para a região, independentemente de onde vierem.

O deputado João Bittar (PL), também de Uberlândia, lembrou que a administração pública passa por um momento de profissionalização. "Os recursos são poucos, e podem ser obtidos via órgãos de fomento, que esperam um salto na qualidade da gestão da administração pública", afirmou.

Aspectos técnicos da gestão municipal foram enfocados à tarde

A segunda parte do encontro regional "Desafios da Agenda Municipal 2005", em Uberlândia, serviu para apresentar a prefeitos e vereadores aspectos técnicos da administração municipal. O assessor-chefe da Subsecretaria de Estado de Planejamento e Orçamento, Helger Marra Lopes, abordou a importância do plano plurianual para os municípios.

Usando como exemplo a elaboração do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) no âmbito estadual, ele detalhou as diversas etapas do planejamento estratégico na administração pública. Ele deu sugestões para a elaboração do plano plurianual e lembrou a importância da participação popular nesse processo.

Já o assessor do Tribunal de Contas de Minas Gerais, Marco Antônio Teixeira, explicou o funcionamento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Ele defendeu a tese de que a lei, em vigor desde o ano 2000, não veio para limitar os gastos públicos, mas sim para equilibrá-los. Explicou conceitos contábeis da lei e o rigor das punições previstas para os prefeitos que a descumprirem.

Por último, os prefeitos presentes receberam informações sobre linhas de crédito disponíveis para os municípios através do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e Banco do Brasil. Os palestrantes foram o gerente de infra-estrutura do BDMG, Mário José Ferreira, e o gerente do Banco do Brasil em Araguari, José Caetano de Andrade.

Os trabalhos da parte da tarde foram coordenados pelo deputado João Bittar (PL). Cerca de cem pessoas de uma dezena de municípios da região participaram do evento.

Presenças - Além dos deputados e convidados citados, participaram do evento o prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão Carneiro; o presidente da Câmara Municipal de Uberlândia, vereador Tenente Lúcio; os prefeitos de Monte Alegre de Minas, Último Bitencourt de Oliveira, e de Conquista, Gumercindo Mazeto, e de Araguari, Marcos Alvim; e o presidente do Crea-MG, Marcos Túlio.

 

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