Dúvidas sobre a LRF dominam encontro em São Sebastião do
Paraíso
Depois de ouvirem uma detalhada exposição sobre os
aspectos mais importantes, os mais polêmicos e as punições previstas
por má gestão na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), vereadores e
prefeitos presentes ao encontro regional "Desafios da Agenda
Municipal 2005", realizado nesta terça-feira (22/3/05) na Câmara
Municipal de São Sebastião do Paraíso, encaminharam cerca de 15
perguntas ao assessor do Tribunal de Contas do Estado de Minas
Gerais (TCE), Marco Antônio Teixeira.
Grande parte dessas perguntas versavam em torno dos
restos a pagar que uma administração deixa para a sucessora.
Teixeira explicou que o cancelamento de empenhos para adequar uma
prestação de contas aos limites da LRF pode levar a situações ainda
mais graves de fraude em documentos públicos e procedimentos
criminosos que podem resultar em até 16 anos de reclusão do chefe do
Executivo. Ele sugeriu que se o atual prefeito tiver razões para
acreditar que houve desvio na gestão anterior, deve encaminhar a
denúncia ao TCE para uma devassa contábil.
O vereador José David, de São Sebastião do Paraíso,
que acompanhou todo o encontro, declarou-se perplexo ao perceber as
dificuldades e os riscos da contabilidade municipal. "Um prefeito
precisa cercar-se de assessoria muito profissional e competente para
não descumprir as leis e ir parar na cadeia por algum descuido dos
funcionários", avaliou ele.
Grande presença de prefeitos, vices e
lideranças
O encontro regional "Desafios da Agenda Municipal
2005" em São Sebastião do Paraíso foi aberto às 9 horas pelo
deputado Rêmolo Aloise (PSDB), 1º vice-presidente da Assembléia e
representante político da cidade. Compuseram a mesa os deputados
Rogério Correia (PT), 2º secretário, Gustavo Corrêa (PFL) e a
deputada Elisa Costa (PT), o prefeito de São Sebastião do Paraíso e
o presidente da Câmara, Mário Lúcio Zanin e Antonino Amorim,
respectivamente.
Aloise convidou ainda para a mesa o suplente de
deputado Antônio Carlos Arantes (PFL), o subsecretário de Assuntos
Municipais da Sedru, Aristides Vieira, e os prefeitos que presidem
as associações microrregionais da Baixa Mogiana, Ivelson da Costa;
Alto Rio Pardo, Milton Campos de Carvalho; Baixo Sapucaí, José
Roberto Gomes; e Médio Rio Grande, Norival Francisco de Lima.
Presente também o representante da União dos Vereadores de Minas
gerais, Waldemar Lemos Filho. A organização do evento anotou a
presença de 12 prefeitos e vice-prefeitos, além de 29 vereadores e
dezenas de assessores de prefeituras da região.
Rogério Correia traçou um quadro da prosperidade da
região polarizada por São Sebastião do Paraíso, que detém o 2º PIB
do Estado, o 2º lugar em população, o 1º em pecuária, grande
potencial turístico e os melhores índices de desenvolvimento humano
do Estado, medidos pela média de renda, pela escolaridade e pela
expectativa de vida. Lembrou que 60% dos prefeitos estão exercendo
pela primeira vez o mandato, e que necessitam de cooperação.
Informou que a Escola do Legislativo está oferecendo, a partir do
final de março, cursos de três dias para vereadores e de cinco dias
para assessores das prefeituras.
O prefeito Mauro Zanin revelou que São Sebastião do
Paraíso já tem um Plano Diretor e mostrou conhecimento sobre os
conteúdos do encontro, ao dizer que o planejamento é para dez anos,
excede o prazo dos mandatos e depende do envolvimento das
comunidades na elaboração e na execução, para dar certo. Listou como
prioridades da sua administração a construção de novo aterro
sanitário, recuperação do antigo aterro, tratamento de esgotos e
separação das águas pluviais.
Aristides Vieira alertou que vários municípios
estão prescindindo do processo de participação da comunidade,
evitando os debates e copiando os planos diretores de outras
cidades. A deputada Elisa Costa anunciou que a Assembléia está
aberta à participação popular e se aproxima das câmaras municipais e
das comunidades. "A agenda consiste em discutir o momento presente e
preparar as cidades para as futuras gerações. A cidade deve ser o
espaço de realização dos desejos e sonhos de todos que moram nela",
afirmou.
Falando em nome dos demais presidentes de
associações microrregionais, Norival Lima agradeceu o deslocamento
da Assembléia para a região, querendo ajudá-los a resolver seus
problemas, e queixou-se da questão da municipalização da saúde.
"Estão nos enchendo de siglas e não mandam recursos", afirmou. O
deputado Rêmolo Aloise disse que vai informar-se sobre as razões
pelas quais o Estado não repassa o total de 15% devidos à
assistência de saúde.
Antonino Amorim elogiou o prestígio do deputado
Rêmolo em tornar a cidade um pólo regional, Antônio Carlos Arantes
disse que aguarda oportunidade para ingressar na Assembléia e falou
sobre o apoio do deputado federal Carlos Melles. Waldemar Lemos
Filho protestou contra a redução do número de vereadores nas últimas
eleições, por resolução do TSE que considera arbitrária.
Duas palestras completaram a parte da manhã
Após a abertura política, o deputado Rêmolo Aloise
compôs a mesa técnica dos trabalhos e passou a presidência ao
deputado Gustavo Corrêa, que convocou a professora da Unimontes e
pesquisadora do Centro de Estudos Legislativos da UFMG, Magna
Inácio, para sua palestra. Ela disse que o mecanismo do voto
periódico, típico da democracia representativa, é insuficiente e
limitado para referendar todo o processo de decisões sobre políticas
públicas. "Isso torna menos legítimas as ações dos representantes e
agrava o descompromisso do cidadão com relação às políticas
executadas", afirmou.
No entanto, ela percebe que a sociedade ruma para a
democracia participativa através de instrumentos como os
plebiscitos, os referendos, a elaboração de orçamentos
participativos, e a instalação de conselhos setores, em que o
cidadão se reconheça na política pública e dê apoio à sua execução.
Magna Inácio acredita que a elaboração do plano diretor pode
deflagrar um processo de tomada de decisões que seja estratégico
para as cidades.
Os palestrantes seguintes foram Paulo Henrique
Rocha Leão, da Sedru, Cíntia Gonçalves, do Crea-MG, e Tarcísio
Antônio Lopes, da Caixa Econômica Federal. Paulo Henrique mostrou a
estrutura da Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política
Urbana e delineou como deve ser o plano diretor. "Deve definir como
cada área da cidade será ocupada para o seu melhor desenvolvimento:
áreas residenciais, comerciais, industriais, equipamentos urbanos,
parques, etc", disse ele. Rocha Leão também discorreu sobre a função
social da propriedade, informando que o Estatuto da Cidade criou
três mecanismos para combater a especulação imobiliária: intimação à
edificação compulsória, IPTU progressivo e desapropriação.
Na parte da tarde, o deputado Rêmolo Aloise
presidiu a reunião com a presença, na mesa, do assessor-chefe da
Seplag, Helger Marra Lopes, que explicou a elaboração do Plano
Mineiro de Desenvolvimento Integrado e as estratégias de elaboração
dos planos plurianuais de ação das prefeituras. Em seguida, Mário
José Ferreira, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, informou
sobre as linhas de financiamento do banco para micro e médios
empresários, e para as prefeituras. "Financiamos até o intangível,
como a realização de feiras", esclareceu.
A palestra que mais interessou a platéia foi do
assessor do Tribunal de Contas, Marco Antônio Teixeira, que explicou
a natureza da Lei de Responsabilidade Fiscal. "Ela veio para
equilibrar, e não para diminuir a despesa. Não foi criada para
garantir caixa para o Fundo Monetário Internacional, mas para
observar os limites e não gastar mais do que se arrecada", explicou.
Para ela, essa lei se articula com o Plano Plurianual de Ação
Governamental, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o
Orçamento. "Renúncia de receita tem que ser precedida por medida
compensatória, e ambas precisam ser previstas na LDO", informou.
Um dos pontos polêmicos de sua exposição foi a
previsão de prestação de contas quadrimestral da execução
orçamentária, que o prefeito deve fazer diante da Câmara Municipal.
"Trata-se de um dever e de um direito do prefeito, e também de um
dever e um direito dos vereadores", esclareceu. Para ele, infrações
à LRF são crime de mera conduta e consideradas dolosas. A soma das
penas para o prefeito pode chegar a 16 anos de reclusão.
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