Debate sobre agenda municipal em JF mobiliza 43 municípios

Sete deputados estaduais, além de prefeitos, vereadores, técnicos, professores e pesquisadores de 43 municípios da Zo...

18/03/2005 - 00:00
 

Debate sobre agenda municipal em JF mobiliza 43 municípios

Sete deputados estaduais, além de prefeitos, vereadores, técnicos, professores e pesquisadores de 43 municípios da Zona da Mata, interessados em debater os processos de elaboração dos Planos Diretor e Plurianual (PPA), a aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e linhas de crédito para financiamento de programas municipais, lotaram o auditório onde foi realizado, nesta sexta-feira (18/3/05), o encontro regional "Desafios da Agenda Municipal 2005". O evento, em Juiz de Fora, foi o terceiro de uma série de encontros que serão realizados nas cidades-pólo do Estado, pela Assembléia Legislativa e diversas entidades parceiras, nos meses de março e abril. Dois novos municípios foram acrescentados aos dez previstos inicialmente para sediar os debates - Três Corações, no dia 19 de abril e Diamantina, no dia 26 de abril.

Na abertura do evento, o 3º-vice-presidente da Assembléia, deputado Fábio Avelar (PTB), que representou o presidente Mauri Torres (PSDB), lembrou a trajetória de pioneirismo da cidade de Juiz de Fora nos setores elétrico e fabril, tendo sido referência em empreendedorismo. No entanto, segundo ele, Juiz de Fora, como os demais municípios brasileiros, tem enfrentado dificuldades de gestão em virtude do atual contexto econômico e político do País. O deputado salientou que o encontro regional é uma iniciativa de cooperação do Legislativo mineiro com os prefeitos e vereadores, sobretudo os de primeiro mandato - cerca de 80%. "Para que dêem conta de tantos desafios, os prefeitos e vereadores precisam não apenas de empenho e competência, mas também de cooperação, sobretudo numa conjuntura de recursos financeiros escassos e de cobranças crescentes de probidade e eficiência, por parte órgãos fiscalizadores e da sociedade", declarou.

Para o deputado Biel Rocha (PT), que juntamente com o deputado Sebastião Helvécio (PDT) coordenou os debates da parte da manhã, os encontros regionais revelam a importância do debate com a sociedade civil sobre a gestão das cidades. Ele destacou a importância do Plano Diretor como instrumento de organização e planejamento do espaço urbano e rural.

O prefeito de Juiz de Fora, Carlos Alberto Bejani, afirmou que o município, que conta com um orçamento anual de R$ 600 milhões, passa pelas mesmas dificuldades enfrentadas pelas pequenas prefeituras. Ele reivindicou a recuperação da MG-267, que está prejudicando o desenvolvimento da região, e pediu apoio dos deputados para que intervenham junto aos governos estadual e federal para a liberação de recursos para a Zona da Mata.

Pacto federativo - A concentração de recursos na União, cerca de 60%, foi apontada pelo representante da Subsecretaria de Assuntos Municipais da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional de Política Urbana (Sedru), Lafayette Andrada, como dificultadora do desenvolvimento municipal. "As obrigações ficam com os municípios, mas os recursos não", argumentou. Para o deputado Sebastião Helvécio (PDT), o fortalecimento dos municípios estabelecido pela Constituição de 88 foi se perdendo nos últimos 15 anos. "Os municípios deixaram de ser o ente mais importante da federação", sentenciou.

Segundo ele, existe hoje uma desproporção entre a competência de arrecadação dos municípios e da União. "Em 2004, os 5.553 municípios brasileiros arrecadaram R$ 4,2 bilhões com o IPTU e o ISS, enquanto a União arrecadou, só com a CPMF, R$ 21 bilhões no mesmo período. Enquanto isso, o prefeito de Juiz de Fora tem menos de R$ 3 para gastar por dia com cada habitante da cidade", afirmou. "A carga tributária precisa ser discutida amplamente, não só em nível técnico, para que os gestores municipais não fiquem de pires na mão", concluiu.

"É justo o brasileiro ter que trabalhar quase cinco meses só para pagar os impostos?", questionou o deputado Sebastião Costa (PPS), que coordenou os debates da tarde. Sobre a necessidade de planejar o crescimento das cidades, o deputado afirmou: "Os municípios precisam pensar o Estado; e o Estado, pensar o País". O deputado Jésus Lima (PT) defendeu o governo federal alegando que o presidente Lula tem recebido os prefeitos, tem sido sensível às suas reivindicações e buscado atendê-los. Citou repasses para a merenda escolar e outros implementados pelo governo federal.

Novos mecanismos de participação popular

A professora do Departamento de Ciência Política e pesquisadora do Centro de Estudos Legislativos da UFMG, Marlise Matos, destacou que o grande desafio da democracia brasileira hoje é criar mecanismos para que os cidadãos possam participar da decisão sobre a alocação de recursos. Ela listou alguns canais contínuos de manifestação de preferências dos cidadãos criados pela Constituição de 88, como os conselhos setoriais de políticas públicas.

Marlise Matos destacou também a posição vanguardista da Assembléia de Minas, com a criação da Comissão de Participação Popular e a realização dos seminários legislativos, fóruns técnicos, audiências públicas e outros eventos institucionais que permitem a participação direta da população. Uma dificuldade que, segundo a pesquisadora, precisa ser enfrentada para que a participação política seja mais efetiva, é a assimetria informacional. "As pessoas precisam entender o que está sendo discutido e também expressar suas demandas, para que não fiquem apenas com o papel de ratificar decisões já tomadas", explicou. Ela sugeriu ainda que as casas legislativas, em todos os níveis, se organizem para oferecer as informações de que a população precisa por meio de comissões permanentes e consistentes e da elaboração e revisão participativa dos PPAs.

Plano Diretor deve priorizar interesse coletivo

O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG), Marcos Túlio Mello, explicou que o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257, de 2001) estabeleceu a priorização do interesse coletivo sobre o individual na ocupação do território dos municípios, a responsabilização de cada cidadão pela sua cidade e a valorização do que está previsto no Plano Diretor. "O Plano Diretor é uma lei que dá direção para a cidade crescer da melhor maneira possível", definiu. Segundo ele, no entanto, até início de 2001, apenas 35 municípios de Minas Gerais tinham o Plano Diretor, que já era exigido pela Constituição. Marcos Túlio alertou para que o Plano Diretor não seja visto como uma obrigação, mas como um instrumento norteador do crescimento da cidade.

O presidente do Crea alertou ainda para a necessidade de garantir a participação da população na elaboração do Plano, citando o artigo 52 do Estatuto da Cidade, que prevê penalidades para os prefeitos que não elaborarem o plano dentro do que estabelece a lei, ou seja, de forma participativa e nos prazos já estabelecidos.

Reforma urbana - O superintendente de Assuntos Metropolitanos da Sedru, Gustavo Gomes Machado, afirmou que o grande diferencial estabelecido pelo Estatuto para o Plano Diretor é que agora ele precisa ser resultado de uma construção coletiva. "Não se encomenda Plano Diretor", afirmou. Gustavo Machado também comentou que o Estatuto da Cidade pretende fazer a reforma urbana, estabelecendo instrumentos de democratização da ocupação do território. "Considero a reforma urbana mais importante que a rural, já que 82% da população vive nas cidades", justificou.

Na fase de debates, prefeitos, vereadores, professores e técnicos questionaram o prazo para aprovação do Plano Diretor - outubro de 2006. Os atuais prefeitos consideram injusto serem punidos caso não consigam aprovar o Plano nesse prazo. Entre as reivindicações apresentadas, a necessidade de recuperação das estradas foi recorrente. Um vereador de Simão Pereira também informou que está recolhendo assinaturas para uma solicitação de passe-livre para os moradores da cidade, que são obrigados a pagar pedágio para irem a Juiz de Fora, utilizando um trecho da BR-040 que está sob concessão da Concer.

A experiência do Estado na formulação do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) foi apresentada aos participantes do evento na exposição feita pela diretora da Central de Planejamento, Avaliação e Políticas Públicas da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Maria de Fátima Rodrigues Nascimbene. Ela falou sobre os desafios, a definição de estratégias e, mais uma vez, a importância da participação popular no processo de elaboração do Plano - iniciativa inédita ocorrida no Estado em 2004. "O PPA precisa ainda estar integrado à Lei Orçamentária, para que seja uma peça de gestão viva para a administração pública", afirmou.

LRF - O assessor do Tribunal de Contas do Estado (TCMG), Marco Antônio Teixeira, afirmou que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) visa regular a atividade financeira do setor público que, em ultima análise, proporcionaria maior confiabilidade do País frente aos atores econômicos nacionais e internacionais. Ele informou que a lei determina que, a cada quadrimestre, seja feita uma avaliação do cumprimento das metas fiscais pelas câmaras municipais, em audiência pública.

O assessor chamou a atenção dos participantes do encontro ao afirmar que, pela LRF, a terceirização de mão-de-obra só é considerada irregular quando utilizada para a atividade-fim. No caso de atividade-meio, a lei admite a terceirização, portanto não reconhece a despesa como "despesa de pessoal", ficando fora do limite legal.

Descompasso - Após a exposição de Marco Antônio Teixeira, a responsável pelo setor de gestão da Prefeitura de Juiz de Fora, Elizabeth, afirmou haver distanciamento entre o estágio de desenvolvimento administrativo das prefeituras e o grau de complexidade de controle exigido pela LRF. Segundo ela, faltam pessoas capacitadas, equipamentos e condições para o atendimento das imposições da lei.

Linhas de crédito - Os gerentes regional de Mercado da Caixa Econômica Federal, Elza de Oliveira; do Departamento de Infra-Estrutura do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG), Mário José Ferreira; e o superintendente regional do Banco do Brasil, Luís Carlos Moscardi, apresentaram opções de linhas de crédito oferecidas pelos bancos para o desenvolvimento dos municípios.

Presenças - Além das autoridades e expositores citados, também participaram do encontro regional os deputados Edson Rezende e Weliton Prado, ambos do PT. O prefeito de Muriaé e presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Pomba (Amerp), José Braz participou da mesa de honra da parte da manhã, e o secretário de Habitação de Leopoldina, Otávio Arantes de Oliveria, também compôs a mesa, representando o prefeito da cidade e presidente da Associação de Municípios da Microrregião da Zona da Mata Norte (Amman), José Roberto de Oliveira.

 

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