Lideranças políticas e empresariais mineiras repudiam a MP 232

Lideranças políticas e empresariais mineiras criticaram nesta quinta-feira (10/3/05), em debate realizado no Plenário...

10/03/2005 - 00:00
 

Lideranças políticas e empresariais mineiras repudiam a MP 232

Lideranças políticas e empresariais mineiras criticaram nesta quinta-feira (10/3/05), em debate realizado no Plenário da Assembléia Legislativa, a elevação da carga tributária como conseqüência da Medida Provisória 232, em tramitação no Congresso Nacional, e conclamaram deputados federais e senadores a rejeitarem a MP. Os participantes foram unânimes em considerar a medida inoportuna e inadequada, do ponto de vista legal, como instrumento de aumento de arrecadação.

Editada em 30 de dezembro de 2004, a MP, entre outros pontos, reajusta o limite de isenção da tabela do Imposto de Renda, aumenta a carga de tributos para o setor de serviços e obriga os produtores rurais a reterem imposto na fonte. A parte mais polêmica da Medida Provisória é o aumento da base de cálculo, de 32% para 40%, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ).

O debate, realizado por iniciativa da bancada do PMDB na Assembléia, foi aberto pelo deputado Antônio Andrade (PMDB), que lembrou que o Brasil tem uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo, sobretudo se for considerada a qualidade dos serviços prestados à população em áreas como educação e saúde. O deputado reconheceu que o governo precisa de recursos para enfrentar os muitos e complexos problemas que afligem a sociedade, mas enfatizou não concordar que, de modo recorrente, isso seja feito "tirando sempre um pouco mais do contribuinte", como se isso não afetasse o custo de vida e o desempenho das empresas. Antônio Andrade cobrou uma solução planejada e amplamente debatida para a questão da arrecadação de impostos, e disse esperar que o debate promovido pela Assembléia ajude no esclarecimento do assunto e na tomada de decisão por parte dos congressistas.

Para Antônio Eduardo Macedo, da Secretaria de Estado da Fazenda, o instrumento adequado para se corrigir a carga tributária é um projeto de lei, e não uma medida provisória, que não permite um amplo debate nas casas legislativas e na sociedade. Citando o equilíbrio orçamentário alcançado pelo Estado de Minas, ele apontou como alternativa à perda de receita proveniente da correção da tabela do Imposto de Renda o combate à sonegação e à elisão fiscal.

Edwaldo Almada de Abreu, vice-presidente da Federação das Indústrias (Fiemg), considerou que a MP-232 é um enorme imbróglio tributário, mas que representará um grande marco de resistência da sociedade brasileira ao aumento de impostos. "Isso servirá para que o povo acorde para a questão do peso da carga tributária", afirmou. Entre os pontos negativos da MP, ele listou o cerceamento do direito de pequenas e médias empresas recorrerem ao Conselho de Contribuintes; o aumento na base de cálculo do lucro presumido; e a tributação de investimentos de empresas nacionais no exterior.

A união de empresários, prestadores de serviços, produtores rurais e trabalhadores contra a MP-232 foi saudada também pelo presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/MG), Ofir Viana Filho: "temos confiança de que a mobilização levará à modificação da Medida Provisória". Na sua opinião, a tributação sempre foi usada, no País, como instrumento de concentração de renda e riqueza; e é chegada a hora de se exigir do governo uma reforma tributária que acabe com a tributação em cascata, garanta a correção regular da tabela do Imposto de Renda; institua maior tributação sobre o patrimônio rural; permita o controle do fluxo de capitais e o combate efetivo à sonegação; e assegure a não-tributação da renda mínima existencial e a isenção dos alimentos que compõem a cesta básica, entre outros itens.

Outro participante do debate, o secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Minas Gerais (OAB/MG), João Henrique Café de Souza Novais, informou que uma comissão de tributaristas examinou a MP-232 e concluiu que o instrumento é inadequado do ponto de vista jurídico, uma vez que não se caracteriza a urgência nem a relevância da medida, requisitos para a edição de uma MP.

Gilman Viana Rodrigues, presidente da Federação da Agricultura (Faemg), destacou que a carga tributária vem crescendo de forma sistemática ao longo dos últimos sete anos, com exceção de 2003, passando de 28,58%, em 1997, para 34,01%, em 2003. Ele disse que o setor rural é vítima da "gulodice tributária" do governo; e que, com a MP, 1,8 milhão de produtores rurais terão que declarar renda, contra um contingente atual de 134 mil produtores.

O presidente da Associação Comercial de Minas (ACMinas), Eduardo Bernis, falou sobre os reflexos da Medida Provisória 232 no setor de serviços, que representa 57% da economia brasileira. Segundo Bernis, das 500 mil empresas diretamente atingidas pela MP, cerca de 200 mil tendem a passar para a informalidade; e o impacto previsto na inflação será da ordem de 5%. "Sistematicamente, o governo aumenta os tributos sempre que há necessidade de caixa, mas não há contrapartida no atendimento das demandas da sociedade brasileira", criticou.

Maçonaria se mobiliza contra MP

O tom das críticas se elevou com o discurso do representante da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Janir Adir Moreira. Segundo ele, a maçonaria mobilizou quase 1.500 entidades para "defender o Brasil contra este tiro pelas costas, este ato de covardia contra os mais fracos e os menos organizados". Deplorou a imposição da vontade única do Executivo como "ato de absolutismo" e lembrou outras vezes que a maçonaria combateu o absolutismo e o aumento abusivo dos impostos através da História.

Segundo Moreira, essa organização deflagrou a resistência ao aumento de tributos decretada pela Coroa Inglesa, resultando na Independência dos Estados Unidos, em 1776. Teria participado também da revolta dos cidadãos contra as extravagâncias dos reis franceses, resultando na Revolução Francesa, e no Brasil estaria na gênese do movimento libertário originário pela derrama do quinto do ouro. "O triângulo da bandeira mineira é o da maçonaria. Lembrem-se que o Rei George III enlouqueceu e Luiz XVI foi decapitado, porque a sociedade organizada é capaz de tudo", preveniu o líder maçom.

Antes de passar a palavra ao orador seguinte, o deputado Antônio Júlio propôs uma marcha do empresariado para Brasília, para protestar diante do Congresso Nacional, e marcou a data para o próximo dia 23 de março. Mandou também distribuir aos presentes o texto de um manifesto a ser assinado por todos e levado a Brasília.

Antônio Benício de Castro, do Unafisco Sindical, alertou que a simples rejeição da Medida Provisória implica na perda do benefício mínimo de reajuste na tabela do imposto de renda. Para ele, a tabela acumula uma defasagem de 80% para voltar aos níveis de 1994. Criticou o sistema tributário brasileiro por onerar pesadamente o consumo. "Nenhum país do 1º mundo tributa o consumo, mas as grandes fortunas e os lucros financeiros. Além do mais, medida provisória não é meio para lidar com tributo. A urgência é contrária à idéia do tributo. Queremos uma reforma tributária que desonere a produção", propôs.

O presidente do Conselho Regional de Contabilidade, Nourival de Souza Resende, criticou duramente a presunção do governo de que os prestadores de serviços estão tendo margem folgada de lucros, para agüentar o aumento da alíquota para 40%. "Precisamos falar menos sobre reforma tributária e agir mais. Precisamos aumentar a base contributiva e não apertar os que já contribuem", disse ele.

A preocupação de Marcelo de Souza e Silva, vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas, é com o aumento da informalidade se houver aumento da carga tributária. "Minas não quer que o Brasil cresça na informalidade. Os formais não agüentam mais sustentar os informais. O comércio não aceita mais aumento da carga. Vamos a Brasília dar um basta nesta situação, pois o país só pode crescer com uma tributação justa", afirmou.

Deputados querem sepultamento da MP 232

O clima da reunião inflamou vários deputados na fase de debates. O primeiro a subir à tribuna foi Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que disse recear uma ameaça à governabilidade nacional. "Há pouco tempo tivemos o desprazer de ouvir o ministro Palocci dizer que as discussões sobre este assunto estão encerradas. Ora, quem pode nos tirar o direito de discutir à exaustão qualquer tema? Vamos a Brasília exigir o sepultamento definitivo dessa MP!", exclamou Ribeiro Silva.

O deputado Alencar da Silveira Jr (PDT) ironizou que o PT combatia as medidas provisórias quando era oposição e agora abusa delas. "O que falta ao Brasil é a oposição que o PT fazia, porque a de hoje é muito incompetente", criticou. O deputado Chico Rafael (PMDB) disse que é tradição em Minas se rebelar contra a derrama fiscal. Confessando-se eleitor do presidente Lula, declarou sua decepção com a falta de compromisso do presidente Lula com as medidas que se esperavam dele. "Ele não vai fazer reforma tributária, e quer que um pequeno produtor de leite que tira 80 litros por dia pague imposto de renda", criticou.

A única voz a se levantar para defender o Governo Lula foi a do deputado André Quintão (PT), para quem a escalada tributária foi uma distorção iniciada nos governos anteriores. Quintão reconheceu que os pontos da medida provisória devem ser democraticamente discutidos um a um, que a correção da tabela do imposto de renda deve ser preservada, e que também deve ser incluída na discussão a unificação das alíquotas de ICMS para evitar a guerra fiscal entre os Estados. Quintão atacou também as renúncias fiscais injustificáveis que beneficiam os grandes empresários e sacrificam a população.

Ao encerrar os trabalhos, o deputado Antônio Andrade informou que a transcrição daquele debate poderá ser lida na edição de 22 de março do jornal "Minas Gerais", Diário do Legislativo, e que a TV Assembléia vai reprisar a gravação da reunião no próximo dia 14 de março, segunda-feira, às 14 horas.

Mesa - Compuseram a mesa do debate os deputados Antônio Andrade (PMDB) - presidente da reunião, Antônio Júlio (PMDB) - coordenador dos trabalhos, e Domingos Sávio (PSDB), além dos presidentes da Faemg, Gilman Viana Rodrigues; ACMinas, Eduardo Bernis; Corecon, Ofir Viana Filho; CRC/MG, Nourival de Souza Resende; e representante da Unafisco Sindical, Antônio Venício de Castro; e o vice-presidente da Fiemg, Edward Almada de Abreu; Antônio Eduardo Macedo Soares Leite Júnior, representante da Secretaria de Estado da Fazenda; Marcelo de Souza e Silva, vice-presidente da CDL/MG; Janir Adir Moreira, mestre em exercício da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais; e João Henrique Café de Souza Novais, secretário-geral da OAB/MG.

 

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