Irmã Dorothy foi a inspiração do Dia Internacional da
Mulher
O som dos tambores do grupo Xicas da Silva - um
grupo de mulheres percussionistas do projeto social Bloco Oficina
Tambolelê - marcou o início e o encerramento da homenagem da
Assembléia ao Dia Internacional da Mulher, nesta quarta-feira
(9/3/05) à tarde. A performance do grupo, na reunião especial
de Plenário, foi dirigida especialmente à irmã Dorothy Stang,
missionária americana assassinada no Pará por denunciar conflitos de
terra, destruição da floresta e por empreender movimento em favor da
reforma agrária. Para as oito deputadas da atual Legislatura, que
apresentaram o requerimento de realização da reunião especial, a
irmã "simboliza todas as mulheres assassinadas por estarem engajadas
em causas voltadas para a paz, solidariedade, justiça e
igualdade".
Falando para um Plenário lotado, o presidente da
Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), destacou que a Casa tem a
tradição de reservar em seu calendário a homenagem ao Dia
Internacional da Mulher. Isto porque reconhece seu papel
imprescindível na sociedade e também na vida política, além de o
Poder Legislativo ser solidário às reivindicações das mulheres pela
igualdade de direitos e de oportunidades. O presidente lembrou que a
Assembléia está sempre disposta a contribuir com os movimentos
ligados às reivindicações femininas. Citou como exemplo a I
Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres, promovida pelo
Legislativo em 2004, como preparação para a conferência nacional
realizada em julho do ano passado. Mauri Torres ressaltou que
violência, discriminação e preconceito ainda persistem, apesar das
conquistas femininas na sociedade.
Todas as oito deputadas - Lúcia Pacífico (PTB), Ana
Maria Resende (PSDB), Cecília Ferramenta (PT), Elisa Costa (PT), Jô
Moraes (PCdoB), Maria Olívia (PSDB), Maria Tereza Lara (PT) e
Vanessa Lucas (PSDB) - foram citadas nominalmente pelo presidente,
além das três parlamentares que se afastaram do mandato: Elbe
Brandão, licenciada para assumir a Secretaria de Estado
Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri e do Norte de Minas; Marília Campos e Maria José Haueisen,
que assumiram este ano as prefeituras de Contagem e de Teófilo
Otoni, respectivamente.
As mulheres "que se recusaram a aceitar os limites
do tempo" e continuam atuando em prol do bem coletivo foram
lembradas pela deputada Lúcia Pacífico (PTB), que substituiu o
presidente Mauri Torres na condução dos trabalhos. "Elas poderiam
estar em casa, mas continuam na luta", disse a deputada,
referindo-se àquelas mulheres que "ignoram a dor nas juntas" e
continuam "com a mão na massa". No seu discurso, a parlamentar citou
a presidente e a coordenadora executiva do Movimento das Donas de
Casa de Governador Valadares, Dirce de Oliveira Almeida, e Maria do
Céu Paixão Kupidlowski, homenageadas por ela.
Assim como Lúcia Pacífico, as outras sete deputadas
indicaram duas mulheres para receberem homenagens, na reunião
especial. Cada uma das homenageadas - médicas, educadoras, líderes
feministas, camponesas, religiosas, artesãs e operárias - recebeu
uma placa comemorativa. Entre elas, destacava-se a secretária de
Estado da Educação, Vanessa Guimarães Pinto, ex-reitora da UFMG.
Receberam aplausos emocionados a nadadora Oscarina Machado dos
Santos, de 91 anos, conhecida como Tia Santinha, e a mais idosa
faxineira da Assembléia, Sandra Alves de Souza, que todos chamam de
Vó.
A secretária de Estado Elbe Brandão, que
representou o governador Aécio Neves na solenidade, ressaltou que o
governador tem na Assembléia a parceira necessária para empreender
as mudanças de que Minas precisa. Citou a capacidade do Executivo de
implementar políticas públicas em parceria com entidades da
sociedade civil. "Essa rede ajuda a construir uma sociedade mais
justa, humana e fraterna", acentuou a deputada.
A vereadora Elaine Matozinhos lembrou que as
reivindicações femininas vêm sendo cumpridas, e saudou a criação de
mais de 500 delegacias de mulheres. A vereadora, que foi delegada
pioneira numa dessas delegacias, anotou que as ocorrências em 2004
caíram pela metade, o que deve ser comemorado como vitória. "A
estrada está aberta. Cabe-nos agora pavimentá-la e iluminá-la",
resumiu Matozinhos.
Ana Maria Resende (PSDB) falou sobre o direito da
mulher à felicidade, e não ao determinismo histórico. Para ela, "as
mulheres sabem que não estão felizes, que algo as incomoda, mas não
sabem dar o primeiro passo para sair dessa situação infeliz".
Cecília Ferramenta (PT) afirmou que a luta feminina ultrapassa a
simples busca da igualdade com os homens, e elogiou as mulheres "que
fazem a hora e não esperam acontecer".
A deputada Elisa Costa (PT) reconheceu que é a mais
novata dentre as deputadas, ingressando na Assembléia após a eleição
das deputadas Maria José Haueisen e Marília Campos, de seu partido.
Anotou que, apesar das conquistas femininas no mercado de trabalho,
a média salarial das mulheres é menor que a dos homens, mesmo que
tenham maior escolaridade. Lembrou que o presidente Lula tem quatro
mulheres em seu ministério e previu que, no futuro, uma mulher há de
chegar à Presidência da República.
Maria Olívia (PSDB) subiu à tribuna sob forte
emoção. Citou Mahatma Gandhi, "onde há amor, há vida", para lamentar
a perda recente de suas amigas assassinadas. Uma delas, a educadora
Sônia Vidal, foi morta por traficantes por se recusar a quitar a
dívida de uma neta, em Lagoa da Prata. A outra, Lilia Meire, era
diretora de uma escola e reagiu a um assalto em Belo Horizonte,
sendo assassinada pelos bandidos.
Jô Moraes (PCdoB) retomou a questão do
desequilíbrio entre a população feminina e a sua representação
política, dizendo que gostaria que a Mesa da Assembléia fosse
composta proporcionalmente por homens e mulheres. Após dizer que o
rufar dos tambores das xicas da silva representavam o jorrar do
sangue da irmã Dorothy e davam o ritmo da luta, a deputada enumerou
as mais belas palavras femininas: "feminina é a lei, a fé, a
liberdade, a justiça, a paixão e a esperança".
Maria Tereza Lara (PT) também estimulou o aumento
da representação política feminina: "Somos a maioria dos eleitores e
ainda não conseguimos equilibrar a representação. Nas eleições de
2002, para a Câmara dos Deputados, a única mulher eleita por Minas
foi a companheira Maria do Carmo Lara". Ela disse também que a
maioria dos usuários dos sistemas públicos de saúde é de mulheres,
negras e pobres.
Vanessa Lucas (PSDB) propôs a incorporação na luta
política dos "bravos agentes anônimos que vivem buscando a inclusão
social, indo ao encontro dos irmãos mais sofridos". Vanessa concluiu
suas palavras manifestando a esperança de que "a solidariedade virá
em forma de paz se construirmos, a cada dia, o homem novo para a
mulher nova".
Presenças - Compuseram a
Mesa dos trabalhos, além do presidente Mauri Tores (PSDB), as
deputadas Lúcia Pacífico (PTB), Ana Maria Resende (PSDB), Cecília
Ferramenta (PT), Elisa Costa (PT), Jô Moraes (PCdoB), Maria Olívia
(PSDB), Maria Tereza Lara (PT) e Vanessa Lucas (PSDB); além da
secretária de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales
do Jequitinhonha e do Mucuri e do Norte de Minas, deputada Elbe
Brandão (PSDB), e da representante da Câmara de Belo Horizonte,
vereadora Elaine Matozinhos. Presentes também os deputados André
Quintão (PT), Doutor Ronaldo (PDT), Laudelino Augusto (PT), Leonídio
Bouças (PTB) e Gilberto Abramo (PMDB).
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