Comissão considera aptos candidatos ao TCMG

Após mais de três horas de reunião, nesta quinta-feira (3/3/05), da qual participaram 12 deputados e três deputadas, ...

03/03/2005 - 00:02
 

Comissão considera aptos candidatos ao TCMG

Após mais de três horas de reunião, nesta quinta-feira (3/3/05), da qual participaram 12 deputados e três deputadas, os três candidatos à vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCMG) - o consultor legislativo Alexandre Bossi e os deputados Sebastião Helvécio (PDT) e Antônio Carlos Andrada (PSDB) - foram considerados aptos ao cargo. Foi sucinto e positivo o parecer do relator, deputado Gilberto Abramo (PMDB), elaborado logo após a reunião e enunciado diante dos concorrentes. O presidente da Comissão Especial, deputado Dinis Pinheiro (PL), teceu elogios às qualidades dos candidatos, dizendo que deram "uma aula brilhante de conhecimentos, de seriedade, correção e desejo de servir".

O primeiro candidato a ser sabatinado foi o consultor Alexandre Bossi Queiroz, que fez duras críticas à atuação do TCMG - "órgão que precisa ser saneado" - e à forma de indicação política dos conselheiros. Ele centrou sua argumentação na defesa da qualificação técnica como atributo indispensável para tornar o tribunal um órgão mais eficiente e imparcial no exame das contas públicas. Alexandre Bossi, além de assessorar a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembléia, é professor da Fundação João Pinheiro e ex-servidor do TCMG. É graduado em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela PUC/MG, especialista em Contabilidade Pública pela UFMG, mestre em Contabilidade Internacional e doutor em Contabilidade e Finanças pela Universidade de Zaragoza, na Espanha.

Com essa formação, afirmou que considera-se apto para postular o cargo de conselheiro, função que, como fez questão de frisar, acredita ser estritamente técnica. Ele ressaltou que, se eleito, pretende atuar junto ao Congresso Nacional para mudar a Constituição no que se refere aos critérios de escolha dos conselheiros. Nesse aspecto, situou sua candidatura como um contraponto à parcialidade e ineficiência dos tribunais de contas e agradeceu aos deputados pela oportunidade de disputar o cargo, avaliando que sua candidatura coloca a Assembléia de Minas em posição de vanguarda, uma vez que é raro que os Legislativos estaduais abram espaço para postulantes que não sejam parlamentares.

Durante a argüição, o consultor disse aos deputados que sua motivação para disputar o cargo de conselheiro, o que faz pela terceira vez, deve-se à constatação da ineficácia do tribunal e à "indignação de ver um órgão tão importante ter uma atuação tão discreta e ser motivo de desrespeito e deboche por parte da população". Para ele, é injustificável que uma instituição que conta com um orçamento de R$ 190 milhões, em 2005, apresente "tão pouco resultado".

Entre as razões para o que chamou de relação custo-benefício "altamente insatisfatória", Alexandre Bossi apontou problemas como apadrinhamento político na indicação de cargos de gerentes, nepotismo, estruturação inadequada, inexistência de inspetorias regionais e, sobretudo, a indicação política para o cargo de conselheiro. "O julgamento de contas públicas tem que ser feito com frieza técnica, com absoluta imparcialidade", declarou, questionando a isenção de ex-parlamentares na apreciação das contas de correligionários. Ele criticou, ainda, a vitaliciedade do cargo de conselheiro, esclarecendo que em outros países os titulares dos tribunais de contas têm mandato de apenas seis ou nove anos.

TCMG é órgão político-administrativo, defende Helvécio

O argumento do consultor Bossi em favor da formação técnica do conselheiro foi criticado por quase todos os deputados presentes, e rebatido pelos outros dois candidatos, que também não se posicionaram contra a vitaliciedade do cargo, sob o argumento de que assegura ao conselheiro a tranqüilidade, a independência e a isenção próprias da magistratura.

"A aprovação em uma eleição não é menos honrosa que uma tese acadêmica defendida", sentenciou o deputado Sebastião Helvécio (PDT), que possui as duas experiências, ao sair vitorioso em cinco eleições e ao defender tese de doutorado em Ciência Política na UERJ. Helvécio fez a defesa da vocação política, e disse que pretende levar para o tribunal os mesmos princípios de retidão que adotou em toda a sua vida. "Não tenho dificuldade em definir o TCE como um órgão político-administrativo, que deve basear suas decisões não na frieza técnica dos números, mas na grandeza da valorização da vida humana", afirmou.

Sebastião Helvécio lembrou que o primeiro Tribunal de Contas do Estado teve vida curta, sendo extinto durante a intervenção de Benedito Valadares e reabilitado em 1947, após a redemocratização do país. Salientou que a estratégia do FMI adotada após o Consenso de Washington é de extinção das cortes de contas, substituindo-as por comissões privadas de auditoria externa. "Por imposição do FMI, houve uma experiência desastrosa na província de Salta, na Argentina. É um erro substituir a corte do povo pela iniciativa privada", disse o deputado, acrescentando que realizou uma busca inútil na Constituição Federal para encontrar a expressão "responsabilidade fiscal", e que só a encontrou no site do FMI, referindo-se à Nova Zelândia.

As propostas de atuação do deputado no Tribunal de Contas consistem em propor a agilização da apreciação das contas do governador e dar ao TCMG a visibilidade de que o Ministério Público já desfruta em face de sua atuação. Helvécio deseja também que o TCMG funcione em forma de rede, dentro dos princípios da democracia participativa. "O poder isolado pode ser corrompido. O formato de rede é que protege um sistema aparentemente frágil, como o SUS, da destruição", refletiu.

O deputado manifestou preocupação com a renúncia fiscal do Estado, que chegaria a quase um quinto do Orçamento, e propôs a intensificação do contato com a Assembléia, por acreditar que o futuro do Legislativo seja o de avançar na fiscalização.

Andrada defende informatização para dar agilidade

O deputado Antônio Carlos Andrada esclareceu as razões pelas quais, aos 44 anos, propõe-se interromper uma carreira política que muitos consideram promissora, pelo trabalho técnico do tribunal. Segundo ele, pertence a uma casa política tradicional de Minas, e desde os nove anos manifestou vocação para a vida pública. Foi eleito vereador em Barbacena aos 26 anos e foi o mais jovem prefeito daquela cidade. No exercício do segundo mandato como deputado, desempenhando as responsabilidades de líder do bloco governista, sente-se preparado e motivado para enfrentar um novo desafio.

"Trata-se de uma oportunidade única para colocar em prática algo que o Parlamento não permite, ou seja, verificar a qualidade da aplicação do dinheiro público", afirmou. Essa qualidade quer dizer que os gastos públicos podem estar dentro da legislação, mas não atenderem às necessidades reais da população. Andrada concorda com parte da argumentação de Helvécio, ao criticar a globalização e o enfraquecimento do Estado diante das forças do mercado.

O deputado defendeu que o poder público utilize a fantástica agilidade da informação que torna a iniciativa privada tão forte, através da montagem de uma formidável estrutura de informática no tribunal, modernizando procedimentos e propondo alterações na legislação de forma a acompanhar os avanços que a todo momento ocorrem.

"Teremos que enfrentar a questão das contas públicas relativas às Oscips e às PPPs, que são formas de participação da iniciativa privada nas ações de governo. Elas não se submetem as licitações, mas manipulam dinheiro público. Como lidar com esses novos problemas? Se não aperfeiçoarmos constantemente a legislação e os instrumentos de controle, os tribunais se tornarão obsoletos e os cargos de conselheiros se tornarão decorativos", previu.

O deputado Andrada disse que pretende chegar ao tribunal cheio de idéias e de visões novas, e que pretende contagiar a todos com sua inquietude e sua movimentação. Dois deputados petistas lhe fizeram questionamentos. Laudelino Augusto lembrou que Andrada foi relator de uma Comissão de avaliação do Tribunal de Contas, instalada no ano passado, a qual defendeu um caráter mais técnico do que político na composição do tribunal, e que os deputados no exercício do cargo não deveriam candidatar-se. Andrada argumentou que essas opiniões eram coletivas dos cinco membros da Comissão, e que a iniciativa de mudar as regras cabe ao Congresso Nacional, para onde foram encaminhadas as sugestões.

Adelmo Carneiro Leão elogiou a capacidade de Andrada no Parlamento, e lamentou como um "desperdício" que quisesse ingressar num espaço considerado conservador. "Não é lá que o senhor poderá fazer os enfrentamentos para conseguir mudanças e avanços na fiscalização, mas aqui, na Assembléia", disse Leão. Andrada respondeu que não vai para o tribunal para dar sustentação ao governo, mas para se dedicar à função inteiramente nova de analisar contas. Acredita que o conselheiro tem autoridade e o tribunal tem respeitabilidade para elevar a voz e propor as mudanças de que necessita.

Presenças - Deputado Dinis Pinheiro (PL) - presidente, deputada Maria Olívia (PSDB) - vice-presidente, deputados Gilberto Abramo (PMDB) - relator, Olinto Godinho (PSDB), Adelmo Carneiro Leão (PT), Márcio Kangussu (PPS), Durval Ângelo (PT), Sargento Rodrigues (PDT), Laudelino Augusto (PT), Jayro Lessa (PL), Dilzon Melo (PTB), José Henrique e Edson Rezende (PT) e deputadas Ana Maria Resende (PSDB) e Lúcia Pacífico (PTB).

 

 

 

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