Discussão sobre licitação de saúde na Casa dura cinco horas

As Comissões de Saúde e de Defesa do Consumidor e do Contribuinte discutiram, nesta quarta-feira (23/2/05), durante c...

23/02/2005 - 00:00
 

Discussão sobre licitação de saúde na Casa dura cinco horas

As Comissões de Saúde e de Defesa do Consumidor e do Contribuinte discutiram, nesta quarta-feira (23/2/05), durante cinco horas, o processo licitatório que culminou na assinatura de contrato entre a Assembléia e a Caixa de Assistência da Previminas (Previminas Saúde), para prestação de serviços complementares médico-hospitalares. A polêmica marcou grande parte da reunião, da qual participaram 26 deputados, representantes da Administração da ALMG, do Ministério Público, da Previminas, da Unimed-BH e dos servidores da Assembléia. Ao final, foi aprovado requerimento solicitando que o presidente da Casa, Mauri Torres (PSDB), suspenda o contrato.

Segundo a direção da Assembléia, o processo foi juridicamente correto, tanto que o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Márcio Antônio de Marins, suspendeu liminar concedida à Unimed pelo juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública, Evandro da Costa Teixeira, na última terça-feira (22). A audiência foi solicitada pelos deputados Doutor Viana (PFL), Sargento Rodrigues (PDT) e Ricardo Duarte (PT), presidente da Comissão de Saúde.

Um dos principais questionamentos apresentados dos deputados Doutor Viana e Sargento Rodrigues foi sobre mudanças ocorridas no decorrer do processo licitatório, que teriam sido determinadas verbalmente pelo coordenador, que foi o deputado Rêmolo Aloise (PL), 1º-vice-presidente da Assembléia. De acordo com Viana, foram retirados da tabela de pontuação técnica itens que atribuíam pontos às licitantes conforme o número de usuários que tivessem e que também atribuíam pontos àquela empresa que tivesse trabalhado mais tempo com promoção da saúde e prevenção de doenças. Para a empresa Pedersoli Rocha Advogados, contratada pela ALMG para dar consultoria no processo, a retirada desses itens diminuiria a capacidade de avaliação técnica dos concorrentes.

Outro questionamento foi feito em relação à capacidade técnica da Previminas de atender os 11 mil usuários do plano de saúde da Casa, uma vez que seriam apenas 662 os médicos credenciados na Capital. O deputado Sargento Rodrigues também indagou se a empresa vencedora teria condições de atender os usuários no interior do Estado. "Uma licitação de saúde não é uma licitação para a compra de peças para veículos", ilustrou ele, que cobrou obediência a princípios da administração pública como razoabilidade e publicidade. O deputado Ricardo Duarte também reforçou que saúde não é somente questão de preço, apelando para uma solução consensual.

Direção da Assembléia informa sobre licitação

O 1º-vice-presidente, deputado Rêmolo Aloise (PL); o diretor-geral da Assembléia, João Franco; o coordenador de Saúde e Assistência, Gilson Cortes; e o presidente da Comissão Permanente de Licitação (CPL), Eduardo de Mattos Fiúza, responderam aos questionamentos.

Segundo o diretor-geral, a licitação foi iniciada por determinação legal e por recomendação do Ministério Público. Acrescentou que a CPL é independente e que a própria comissão sugeriu o pregão eletrônico como a melhor ferramenta para a licitação, após dificuldades e falta de consenso para formatar a tabela de pontuação. A tabela constava do primeiro edital, que previa como modalidade de licitação a concorrência por técnica e preço. "A direção cumpriu todos os trâmites burocráticos, sem atender a interesses pessoais, para que a correção do processo fosse preservada", destacou João Franco.

O 1º-vice-presidente da Casa, deputado Rêmolo Aloise (PL), disse estar muito tranqüilo quanto ao seu trabalho à frente da Comissão de Licitação: "Tenho meus erros, todo mundo tem, mas fiz tudo com muita tranqüilidade, faria tudo de novo". Questionado pelo deputado Sargento Rodrigues (PDT) sobre o por quê de ter sugerido alterações na primeira versão do edital, o 1º-vice-presidente respondeu que suas decisões foram orientadas pelos técnicos da Casa e não decidiu sozinho pelas mudanças que ocorreram durante o processo.

O presidente da CPL, Eduardo Fiúza, defendeu a adoção do pregão eletrônico, quando o que define o vencedor é o menor preço, mas lembrou que, nesse caso, é analisada também a documentação jurídica e fiscal e os balanços financeiros das empresas concorrentes. Ressaltou, ainda, que os tipos de licitação melhor técnica ou técnica e preço serão utilizados exclusivamente para serviços de natureza predominantemente intelectual, conforme determina a Lei de Licitações.

Quanto à capacidade técnica da Previminas, que foi questionada, Fiúza informou que a CPL buscou respaldo para suas decisões em pareceres da empresa de consultoria Pedersoli e também da Coordenação de Saúde e Assistência da Assembléia. Ao analisar a qualificação técnica da Previminas, a comissão solicitou que a documentação da empresa fosse complementada, em diligência recomendada pela Pedersoli. Disse ainda que tanto a Pedersoli quanto a área de Saúde e a Procuradoria-Geral da Casa atestaram ter a Previminas capacidade técnica para atender a Assembléia.

Gilson Cortes, por sua vez, afirmou que não há como negar a capacitação técnica da Previminas Saúde. De acordo com ele, a relação entre médico e usuários na Unimed é de 1/100 e, no caso da Previminas, de 1/50. A Unimed possui mais de 4 mil médicos cooperados em Belo Horizonte e a Previminas possui 795 médicos credenciados na Capital e Região Metropolitana. Para o médico, ainda que a modalidade de licitação adotada fosse a concorrência por técnica e preço, a Previminas seria vencedora, pois o preço representa 60% do peso final. Acrescentou ainda que a empresa atendia a todas as exigências previstas no edital da licitação.

Defesa da Previminas - A Previminas Saúde foi representada na reunião por João Roberto Rodarte, da Rodarte Consultoria, que assessorou a empresa na licitação. Ele ressaltou que o sistema Previminas, formado pela Previminas Saúde e pela Fundação Previminas, atende hoje cerca de 40 mil usuários. Lembrou que a primeira é herdeira da segunda na tradição e abrangência em atendimento à saúde e que não é "empresa de fundo de quintal, nem é despreparada". Reafirmou que o serviço a ser oferecido aos usuários, a partir de 1º de março, será o melhor possível. Rodarte também destacou que a Previminas cumpriu todas as exigências previstas no edital.

Sindicato e associação dos servidores protestam

A mudança da modalidade de licitação de concorrência por técnica e preço para pregão eletrônico também foi criticada. O coordenador-geral do Sindalemg, Gilberto Dias de Souza, lembrou que todos os pareceres da empresa de consultoria Pedersoli indicavam que a concorrência por técnica e preço, com a tabela de pontuação, seria fundamental para garantir um atendimento de qualidade aos usuários.

Ele também afirmou que os funcionários não foram ouvidos durante o processo, e lembrou que o sindicato sugeriu a criação de uma comissão especial para acompanhar a licitação da saúde, a exemplo do que ocorreu à época da contratação da empresa de publicidade da Assembléia, mas o pedido teria sido negado pela Diretoria-Geral.

O presidente executivo da Aslemg, Sebastião Aleixo de Souza Filho, reforçou que as entidades representativas dos servidores são a favor da licitação, pois esta é uma obrigação legal, mas questionam a forma como ela ocorreu.

O vereador Délio Malheiros, consultor licenciado da Assembléia, sugeriu algumas alternativas para o caso: que a Previminas renuncie por fazer a contratação forçada de 11 mil consumidores ou que a Casa reavalie sua decisão, rescindindo o contrato com a Previminas e promovendo nova licitação. Medidas judiciais e políticas a serem tomadas pelos servidores também foram apontadas como solução para o caso. Já o promotor de Justiça Edson Ribeiro Baeta, da Promotoria Especializada na Defesa do Patrimônio Público, convidado à reunião, ressaltou que estava ali para ouvir e se informar, a fim de que o Ministério Público possa adotar providências, caso necessárias.

Unimed questiona - O diretor-geral da Unimed, Paulo Borém, também presente na reunião, reafirmou que a cooperativa médica quer continuar atendendo a Assembléia. Informou que o processo licitatório foi questionado na esfera administrativa e que mantém o questionamento, agora na Justiça. De acordo com Borém, a documentação apresentada pela Previminas Saúde não comprovou sua capacidade técnica, sendo solicitada a complementação após iniciado o processo - o que, segundo a Unimed, seria vedado pela Lei de Licitações.

Outros deputados se manifestam

O 3º-vice-presidente, deputado Fábio Avelar (PTB), quis saber do representante da Previminas Saúde, João Roberto Rodarte, se é verdade que há repasse de recursos da Previminas Seguridade para a Previminas Saúde e se esse repasse é legal. João Roberto Rodarte confirmou: "Há repasse administrativo, não dos recursos entre os planos, e isso é legal." Na opinião do deputado André Quintão (PT), a insatisfação verificada hoje é fruto de se ter colocado uma licitação desse porte na modalidade de pregão eletrônico. Ele acredita que a solução para o impasse é política: "essa é uma Casa política, onde o bom senso deve prevalecer", concluiu.

O deputado Dilzon Melo (PTB) lamentou o fato de que o processo de escolha da nova empresa de saúde parece estar todo concluído. "Essa discussão aqui, então, é inócua", disse ele. O deputado integrava a Mesa diretora que conduziu o processo, mas não assinou o termo que homologou o resultado da licitação, alegando que não participou da discussão do assunto. "A Mesa não se reunia, o deputado Rêmolo não trouxe as informações para nós", afirmou.

O deputado Paulo Piau (PP) questionou a realização da licitação por meio de pregão eletrônico. Já o deputado Carlos Pimenta (PDT) sugeriu que seja realizado um plebiscito entre os servidores da Assembléia para averiguar se querem ou não a troca da operadora do plano de saúde.

Já na opinião do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), a discussão sobre a licitação da saúde na Assembléia é legítima, mas não se pode esquecer o restante do povo mineiro que depende do Sistema Único de Saúde. Segundo ele, essa é uma discussão de caráter corporativo.

O deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) lamentou o fato de que todos os processos para escolha de planos de saúde na Assembléia, nos últimos anos, tenham sido questionados. O deputado Edson Rezende (PT) ressaltou que respeita a Previminas Saúde, mas também questionou sua capacidade em atender os 11 mil usuários da Assembléia. Na opinião dele, a licitação pode ser anulada porque há um risco de não cumprimento do objeto do contrato. O deputado Célio Moreira (PL) se diz preocupado por ele, por seus familiares, e pelos servidores da Casa, porque o grau de satisfação com os serviços da Unimed é muito bom. O deputado pediu boa vontade da Mesa para suspender o processo licitatório. O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) também pediu "reflexão profunda da Mesa Diretora para resolver o assunto, em benefício da saúde dos servidores".

Transmissão pela TV - A reunião conjunta desta quarta chegou a ser interrompida, logo depois de iniciada, pois o deputado Sargento Rodrigues cobrou que os debates fossem transmitidos ao vivo pela TV Assembléia, o que foi feito.

Presenças - Participaram da reunião a deputada Lúcia Pacífico (PTB), que a presidiu e que também preside a Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte; o deputado Ricardo Duarte (PT), presidente da Comissão de Saúde; além das deputadas Vanessa Lucas e Maria Tereza Lara (PT) e dos deputados Sargento Rodrigues (PDT), Maria Olívia (PSDB), Dilzon Melo (PTB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Gustavo Valadares (PFL), Carlos Pimenta (PDT), Sávio Souza Cruz (PMDB), José Henrique (PMDB), Laudelino Augusto (PT), Paulo Piau (PP), Célio Moreira (PL), André Quintão (PT), Fábio Avelar (PTB), Fahim Sawan (PSDB), Edson Rezende (PT), Doutor Ronaldo (PDT), Arlen Santiago (PTB), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Sebastião Helvécio (PDT), Paulo Cesar (PFL) e Márcio Kangussu (PPS).

 

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