Aspectos políticos e institucionais do Mercosul são discutidos

Com exposições sobre os aspectos políticos, institucionais e a experiência do governo do Paraná, a Comissão do Mercos...

14/12/2004 - 01:00
 

Aspectos políticos e institucionais do Mercosul são discutidos

Com exposições sobre os aspectos políticos, institucionais e a experiência do governo do Paraná, a Comissão do Mercosul da Assembléia Legislativa realizou audiência pública, nesta terça-feira (14/12/04) para debater o processo de integração do bloco econômico do Cone Sul. Antes da audiência, os participantes foram recebidos no Salão Nobre pelo presidente, deputado Mauri Torres (PSDB), que destacou a importância da realização do encontro para se conseguir a integração econômica "tão necessária ao fortalecimento da América do Sul".

A audiência foi aberta pelo presidente da comissão, deputado Weliton Prado (PT), que manifestou sua convicção de que a integração econômica é irreversível, destacando a importância da implantação do Parlamento do Mercosul até 2006 e enfatizando que o bloco não deve ter caráter puramente econômico, "mas social e cultural".

O presidente da Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, (CPC) do Congresso Nacional, deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) discorreu sobre os aspectos políticos do Mercosul, destacando as previsões de que o bloco será o maior produtor de grãos do mundo, "por isso precisa se adequar em relação a pesquisas e formas de negociação". Ele fez um histórico da criação do bloco, desde os primeiros tratados comerciais ainda na década de 80, enfatizando a mudança política de tratamento para o Mercosul. Ele disse que o governo Lula começa a implantação de uma estratégia de longo prazo, que considera menos os interesses imediatos de alguns empresários, "geralmente os que são contrários ao bloco, por sua visão imediatista", e mais uma discussão da real integração da cadeia produtiva dos estados membros; além da implantação de identidades políticas e sociais.

Dr. Rosinha destacou como principais dificuldades do bloco, além do imediatismo de alguns empresários, a existência de muitas "assimetrias", ou seja, as diferenças econômicas e sociais entre os membros do Mercosul. Para superar algumas dessas dificuldades, o parlamentar disse que o Brasil já discute a implantação do visto único, ou seja, documentação única para o trânsito entre os países; e a participação mais eficaz da sociedade civil . E um dos esforços concretos citados por ele, foi a instalação em julho, do Tribunal de Controvérsias, em Assunção, que tem a função de resolver as dúvidas sobre as transações efetuadas pelos países membros. O protocolo do tribunal foi assinado na residência oficial da presidência argentina, no bairro de Olivos, em Buenos Aires, por isso é conhecido também como Tribunal de Olivos.

Paraná sai na frente marcando presença com ações práticas

O coordenador de Assuntos do Mercosul do Paraná, Santiago Martin Gallo, falou sobre as ações do governo paranaense, como a criação de uma secretaria para tratar dos assuntos do bloco e a Coordenadoria de Assuntos Internacionais. As duas entidade têm a função de aproximar o Paraná dos outros países, com feiras, semanas de produtos e missões empresariais, além de preparar os pequenos empresários com rodadas de negócios.

Na área educacional, o governo se empenha em disseminar o ensino do espanhol, sobretudo nas comunidades de fronteiras. Como conseqüência das ações, o Paraná viu suas exportações comerciais crescerem 93% com a Argentina e 90% com o Uruguai, por exemplo, desde o começo do governo Roberto Requião. Os principais produtos exportados são automóveis, máquinas e equipamentos agrícolas, produtos metálicos e semi-manufaturados e adubos.

Principal debilidade do Mercosul é a falta de normas supranacionais

Ao falar sobre os aspectos institucionais do Mercosul, a consultora do Senado Federal Maria Cláudia Drumond disse que a principal debilidade do bloco é a falta de normas supranacionais, o que atrasa muito os acordos comerciais, porque as normas têm de passar em cada casa parlamentar dos países envolvidos na negociação. A consultora descreveu as etapas do processo de integração do bloco econômico do Cone Sul, lembrando que o estágio atual é de união aduaneira, em que os produtos pagam tarifa pré-determinada, não importando sua origem, com alguns produtos ainda mantendo o regime de exceção, como o setor açucareiro.

Como o Mercosul foi criado para ser um mercado comum, onde há, além da união aduaneira, o livre trânsito de capital e trabalho, o bloco tem entre seus órgãos o Conselho do Mercado Comum. Outros órgãos são a Comissão Conjunta Parlamentar, a secretaria administrativa. Com exceção da secretaria e da comissão, os demais órgãos do Mercosul são virtuais, não se localizando em um local específico. Isto torna o bloco com uma burocracia mais leve, segundo Maria Cláudia Drumond, que se nesse momento é saudável, "mais à frente pode representar dificuldade, à medida que se avançar a integração, exigindo uma burocracia própria", acrescentou..

Cláudia Drumond falou das competências de cada órgão do Mercosul, com ênfase na Comissão Parlamentar Conjunta, embrião do Parlamento do Mercosul, que será implantado até 2006. A CPC é composta por 16 parlamentares por estado membro, sendo oito senadores e oito deputados federais, dos três países formadores, Argentina, Paraguai e Uruguai. A sede da CPC fica na capital paraguaia, Assunção.

A única comissão institucionalizada até hoje foi a brasileira, enquanto as demais são seções dos parlamentos daqueles países. Em julho, a CPC do Congresso brasileiro apresentou ao Conselho do Mercado Comum um anteprojeto de criação do Parlamento do Mercosul, cujo texto foi considerado insuficiente pelo Paraguai e Uruguai, contrários à sugestão de proporcionalidade de representantes e de sua eleição direta pela população. O anteprojeto propôs uma representação simbólica de 35 parlamentares para o Brasil e 16 para os países membros menores. O anteprojeto prevê ainda uma implantação progressiva, com uma legislatura de quatro anos, por indicação e a seguinte por eleição direta.

Participou dos debates ainda o deputado federal Oliveira Filho (PL-PR), que lembrou que a União Européia levou 60 anos para ser construída, "o que exige do Mercosul uma grande dose de sacrifícios e visão de futuro".

A reunião da CPC continua nesta quarta-feira, com a abertura da plenária às 9 horas e a discussão sobre o maior manancial de água doce do mundo, o aquífero guarani, às 9h30 e a luta contra a privatização da água desse manancial. À tarde tem discussão sobre as negociações do bloco, e lançamento do livro " Parlamento do Mercosul", da CPC e Fundação Conrad Adenauer.

Presenças: Deputados Weliton Prado (PT), presidente; Ricardo Duarte (PT); e deputada Jô Moraes (PCdoB). Na visita ao presidente da Assembléia participaram ainda os deputados Bonifácio Mourão (PMDB), Marcelo Gonçalves (PDT), Doutor Viana (PFL) e os palestrantes citados na matéria.

 

 

 

 

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