CPI do Café aprova relatório final

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Café da Assembléia Legislativa de Minas Gerais aprovou, no início da tar...

14/12/2004 - 01:02
 

CPI do Café aprova relatório final

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Café da Assembléia Legislativa de Minas Gerais aprovou, no início da tarde desta terça-feira (14/12/04), o relatório final dos trabalhos, que já tinha sido apresentado e lido na reunião da semana passada. O relator da comissão foi o deputado Rogério Correia (PT) e entre as principais conclusões do relatório estão a solicitação de providências como a prisão preventiva de seis pessoas e o indiciamento de outras 20, entre ex-dirigentes e ex-funcionários de cooperativas. Os deputados da comissão afirmaram que ela cumpriu seu papel. O documento final será encaminhado ao presidente da Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), ao Ministério Público, e ainda para a Secretaria da Fazenda, Polícia Civil, Organizações das Cooperativas de Minas e do Brasil (Ocemg e OCB) e ao Congresso Nacional.

A reunião desta terça-feira (14) começou às 9h30 e foi suspensa durante cerca de três horas para entendimentos entre os deputados. De acordo com o presidente da comissão, deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL), a CPI forneceu subsídios ao Ministério Público para investigar, e ao Judiciário, para punir. "A comissão prestou um grande serviço às cooperativas, restabelecendo a credibilidade do setor", destacou. Já o vice-presidente, deputado Sargento Rodrigues (PDT) e o relator, deputado Rogério Correia, afirmaram que outro ponto positivo foi o fato de a CPI ter alertado dirigentes das entidades e cooperados sobre a importância da fiscalização de suas atividades.

Um dos destaques do relatório foi a solicitação da prisão preventiva do ex-presidente da cooperativa de café e ex-gerente financeiro da cooperativa de crédito de Poços de Caldas (Cafepoços e Cafecredi), Jaime Junqueira Payne. A indisponibilidade dos bens do ex-diretor das cooperativas também tinha sido pedida, mas foi retirada do relatório após a comissão ter sido informada de que essa providência já foi tomada pelo juiz Afonso Celso Freitas, de Poços de Caldas.

O relatório informa que a CPI detectou, ao longo da investigação, a existência de vários inquéritos policiais relativos ao desaparecimento de café. A tipificação penal imputável aos indiciados é ampla, compreendo, destaca o documento, crimes de roubo, furto, apropriação indébita, estelionato e formação de quadrilha. Em alguns casos, o Ministério Público já adotou as providências cabíveis, mediante o oferecimento de denúncia ao Judiciário. "A comissão pôde verificar que os prejuízos causados aos cooperados, na maioria pequenos cafeicultores, resultaram de má administração de algumas cooperativas, cujos diretores colocaram os interesses pessoais acima dos da instituição", afirma o relatório.

Com mais de 80 páginas, o documento final possui 35 anexos que totalizam 18.772 páginas, entre cópias de inquéritos policiais, documentos diversos e os testemunhos feitos à Comissão. A CPI foi criada em maio deste ano, para investigar o desaparecimento de milhares de sacas de café em todo o Estado, a requerimento dos deputados Rogério Correia (PT) e Sargento Rodrigues (PDT), que receberam denúncias sobre o problema.

Citações feitas à Cooparaíso foram objeto de entendimentos

A suspensão da reunião foi motivada por divergências quanto às menções feitas no relatório à Cooparaíso, cooperativa de café de São Sebastião do Paraíso. Ao final da reunião, foram aprovadas duas propostas de emenda apresentadas pelo deputado Domingos Sávio (PSDB), com voto contrário dos deputados Rogério Correia e Sargento Rodrigues. Votaram favoráveis às emendas, além de Domingos Sávio, os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL) e Fábio Avelar (PTB).

As emendas retiraram do texto do relatório as seguintes conclusões: a de solicitar ao Ministério Público Federal a instauração de inquérito para apurar a destinação dada pela Cooparaíso aos recursos recebidos do Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária (Recoop), no valor de R$ 1.213.335,47; e que o Ministério Público Estadual verificasse a origem dos recursos financeiros destinados à Cooparaíso e a legalidade da doações feitas ao deputado federal Carlos Melles e a Antônio Carlos Arantes.

Sugestões acatadas - Duas outras sugestões do deputado Domingos Sávio foram acatadas pelo relator, deputado Rogério Correia. Uma delas diz respeito à providência solicitada ao Ministério Público Estadual de instauração de inquérito para apurar delito de falsidade ideológica ou estelionato, em razão de falsificação de assinatura de Rosa Assad, em contrato firmado com o Banco do Brasil, no qual figura como avalista a Cooparaíso. O relatório, inicialmente, informava que isso "teria ocorrido sob a responsabilidade do Banco do Brasil ou de dirigentes da Cooparaíso". O relator também acatou mudanças em trecho do relatório que trata da cooperativa e do Recoop.

Ao falar sobre suas propostas de emenda, Domingos Sávio fez uma defesa da seriedade e da organização interna da Cooparaíso, destacando que o relatório não poderia colocar indevidamente a cooperativa sob suspeita, para não imputar prejuízos à entidade, inclusive comerciais. De acordo com ele, a própria superintendência do Banco do Brasil informou à CPI que não havia qualquer indício de irregularidade no financiamento do Recoop à cooperativa de São Sebastião do Paraíso.

Sobre a doação feita à campanha do deputado Carlos Melles e para Antônio Carlos Arantes, Domingos Sávio afirmou que ela foi registrada, sendo legítima, legal e prevista na legislação eleitoral. Ele ressaltou que pedir a apuração do Ministério Público seria levantar uma suspeita infundada e expor pessoas inocentes.

Já o deputado Sargento Rodrigues afirmou que a CPI não tem elementos suficientes para informar à sociedade o que, de fato, ocorreu com os recursos recebidos pela Cooparaíso do programa federal. Ele afirmou que a comissão não possui a ata da reunião do Conselho Administrativo que aprovou a destinação dos recursos nem o posicionamento do conselho fiscal da entidade. Na opinião dele, o Ministério Público Federal seria o órgão competente para apurar esse caso.

Quanto à doação de campanha, Sargento Rodrigues questionou se esta teria sido realmente a vontade dos mais de dois mil cooperados e o porquê da doação num momento em que a Cooparaíso solicitava recursos ao Banco do Brasil. De acordo com ele, o deputado federal Carlos Melles recebeu R$ 117 mil e Antônio Carlos Arantes, R$ 30 mil. Melles é o presidente do conselho administrativo da Cooparaíso.

Auditoria - Outra sugestão acolhida por Rogério Correia foi apresentada pelo deputado Fábio Avelar e transformada em conclusão do relatório. Trata-se do pedido que a CPI irá fazer ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de que estude a implantação de exigência de realização de auditoria semestral, contábil e fiscal, nas cooperativas e armazéns gerais, a ser feita por empresa credenciada pelo ministério.

Providências solicitadas no relatório

Além das medidas relativas a Jaime Payne, a CPI do Café também solicitou providências com relação aos casos apurados nas cidades de Carmo do Rio Claro, Poços de Caldas, São Sebastião do Paraíso, Guapé, Espera Feliz e Muzambinho. As providências pedidas são as seguintes:

* ao juiz da comarca de Carmo do Rio Claro, seja decretada a prisão preventiva de Josué Rogério Soares e Natal Marcos Pereira, proprietários dos Armazéns Gerais Ouro Preto e da Exportadora de Café do Carmo; além de Luciano Antônio Barreto, Welington Rosa e Leopoldo Guimarães Vinuto;

* à Advocacia-Geral do Estado, a legalidade do convênio de parceria celebrado entre a Cooparaíso e a cooperativa de café de Guapé, a Coocafeg, bem como a viabilidade jurídica de ressarcimento, aos cooperados, pelos prejuízos financeiros pelo fechamento dessa cooperativa;

* ao delegado de Poços de Caldas, o indiciamento de Moacyr Gomes Nabo Filho, Paulo Afonso Gomes, Rita de Lourdes Forte Gomes, Patrícia Helena Gomes, Manoel Barbosa Junqueira, Carlos Henrique Vieira, Rogério Marcassa, Fábio Fernando Garcia Marques, Fábio Bengtsson, Irvânio Malaquias e Frederico Ozanam;

* ao promotor de Justiça de Espera Feliz, seja formalizada denúncia contra Luiz Gonzaga do Carmo Brinati, Dejacinto Valentin, Braz Grillo e Edimar Barbosa, ex-diretores da Cooperativa Agrícola dos Pequenos Produtores do Vale do Paraíso (Cooavap);

* ao delegado de Guapé, o indiciamento de Sérgio Salvador dos Santos Oliveira, Douglas Soares Aguiar, Geraldo Magela Parula Teixeira, Altedes Moscardini Damasceno, Eugênio Rita e Luílio Antônio Bernardes;

* ao delegado de Muzambinho, o indiciamento de Roberto Vieira de Souza, ex-presidente da Cooperativa Mineira Agrícola de Muzambinho (Coomam); Pedro de Almeida Machado, ex-gerente financeiro, e Aquiles Caetano, empresário.

Relator faz solicitações ao Congresso, Banco Central, SEF e Ministério da Agricultura

O relator da CPI do Café também solicita, no relatório, a ampliação do número de fiscais da Receita Estadual e um controle mais efetivo, por parte da Secretaria da Fazenda, sobre as cooperativas de café. Ao Ministério da Agricultura, o relator pede maior divulgação do Programa de Desenvolvimento da Economia Cafeeira, mantido com recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), além de maior volume de recursos para os pequenos produtores. Empenho e agilidade na aprovação do projeto de lei que trata do cooperativismo foi outra solicitação da CPI, feita ao presidente do Congresso Nacional.

Ao Banco Central, o relator pede que seja encaminhado ao Ministério Público Federal o resultado de processo administrativo, a fim de que o MP possa denunciar os responsáveis por irregularidades na Cafecredi, com base no relatório de auditoria realizado pela Crediminas.

Comissão conseguiu resultados positivos antes do término dos trabalhos

Antes mesmo do término dos trabalhos, a CPI conseguiu resultados positivos, entre os quais se destacam a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos diretores da Cooavap pelo juiz de Espera Feliz; e a proibição de Jaime Payne ausentar-se do território nacional sem prévia autorização judicial e sua exoneração do cargo de secretário parlamentar da Câmara dos Deputados, com lotação no gabinete do deputado Silas Brasileiro.

Outro aspecto positivo foi o debate sobre o controle das cooperativas de café pelos conselhos Fiscal e Administrativo e pelo próprio Estado, a fim de evitar fraudes e sonegação fiscal; e sobre a necessidade de se adotar uma nova legislação federal sobre a Política Nacional de Cooperativismo, em substituição à atual Lei 5.764, de 1971.

Presenças - Deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente; Sargento Rodrigues (PDT), vice; Rogério Correia (PT), relator; Fábio Avelar (PTB), Domingos Sávio (PSDB), Rêmolo Aloise (PL) e Roberto Ramos (PL).

 

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