Relatório da CPI do Café é lido; votação será no dia
14
A solicitação de providências como a prisão
preventiva de seis pessoas e o indiciamento de outras 20, entre
ex-dirigentes e ex-funcionários de cooperativas, foram algumas
conclusões do relatório final da CPI do Café da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, lido nesta quinta-feira (9/12/04) em
reunião que durou cerca de quatro horas. Entre as pessoas que
tiveram prisão preventiva solicitada, está o ex-presidente da
cooperativa de café e ex-gerente financeiro da cooperativa de
crédito de Poços de Caldas (Cafepoços e Cafecredi), Jaime Junqueira
Payne. A indisponibilidade dos bens do ex-diretor das cooperativas
também foi pedida pelo relator, deputado Rogério Correia (PT).
Com mais de 80 páginas, o relatório final possui 35
anexos que totalizam 18.772 páginas, entre cópias de inquéritos
policiais, documentos diversos e os testemunhos feitos à Comissão.
Lido em conjunto pelo relator e por outros integrantes da CPI, o
relatório será votado na próxima reunião, que será na terça-feira,
dia 14, às 9h30. Informalmente, os deputados vão se reunir na
terça-feira (13), às 20 horas, quando poderão ser apresentadas
sugestões de emenda por escrito, a fim de agilizar a votação do
texto no dia seguinte. A CPI foi criada em maio deste ano, para
investigar o desaparecimento de milhares de sacas de café em todo o
Estado, a requerimento dos deputados Rogério Correia e Sargento
Rodrigues (PDT), que receberam denúncias sobre o problema.
Em entrevista à imprensa, o deputado Rogério
Correia destacou que a CPI constatou que houve um prejuízo grande -
que chegou ao equivalente a 500 mil sacas de café -, principalmente
para os pequenos produtores de municípios do Sul e Sudoeste de Minas
e da Zona da Mata. De acordo com o relator, os problemas começavam
quando um diretor de cooperativa vendia o café e aplicava o dinheiro
em bolsa de valores, entre outras destinações. Com a crise do café e
a redução do preço do produto, não havia como repor, segundo o
deputado, "aquilo que tinham surrupiado dos produtores". Por isso
começou um gradativo processo de falência de várias cooperativas,
como as de Poços de Caldas, Carmo do Rio Claro, Muzambinho e
Machado.
Para Correia, além de punir os culpados pelas
gestões fraudulentas ou ineficientes, é preciso retomar a discussão,
no Congresso Nacional, do projeto de lei que trata do cooperativismo
e é mais rigoroso no que diz respeito à fiscalização no interior das
próprias entidades. O presidente da CPI, deputado Sebastião Navarro
Vieira (PFL), também em entrevista à imprensa, afirmou que não
ocorreu o desaparecimento de milhares de sacas de café, como fora
denunciado antes, mas sim o prejuízo das cooperativas - transferido
aos cooperados - correspondente a esse volume de café. Também na
opinião do presidente, ficou comprovado que não há máfia organizada
promovendo desvios de sacas, mas sim casos pontuais.
Caso da Cooparaíso
Já o deputado Domingos Sávio (PSDB), na reunião da
CPI, disse que o relatório poderá ser aprimorado antes da sua
votação na Comissão, para evitar equívocos e separar mais claramente
"o joio do trigo". Ao se referir à Cooparaíso, a cooperativa dos
produtores de café de São Sebastião do Paraíso, o deputado afirmou
que a entidade foi citada durante os trabalhos da CPI, mas nada
ficou provado contra ela.
O relatório dos trabalhos, por outro lado, solicita
a instauração de inquérito do Ministério Público Federal para apurar
a origem e a destinação dada pela cooperativa a recursos recebidos
do Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção
Agropecuária (Recoop). Ao Ministério Público Estadual, o relator
solicita a verificação da legalidade da doação feita ao deputado
federal Carlos Melles e a Antônio Carlos Arantes; e a instauração de
inquérito policial para apurar delito de falsidade ideológica ou
estelionato, em razão de falsificação de assinatura de Rosa Merched
Assad, que teria ocorrido sob a responsabilidade do Banco do Brasil
ou de dirigentes da Cooparaíso. Melles é presidente do conselho
administrativo da entidade.
Providências solicitadas no relatório
Além das medidas relativas a Jaime Payne, a CPI do
Café também solicitou providências com relação aos casos apurados
nas cidades de Carmo do Rio Claro, Poços de Caldas, São Sebastião do
Paraíso, Guapé, Espera Feliz e Muzambinho. As providências pedidas
são as seguintes:
* ao juiz da comarca de Carmo do Rio Claro, seja
decretada a prisão preventiva de Josué Rogério Soares e Natal Marcos
Pereira, proprietários dos Armazéns Gerais Ouro Preto e da
Exportadora de Café do Carmo; além de Luciano Antônio Barreto,
Welington Rosa e Leopoldo Guimarães Vinuto;
* ao juiz da comarca de Poços de Caldas, seja
decretada a indisponibilidade dos bens de Maria Clara Junqueira e
Paulo Afonso Gomes;
* ao Ministério Público Federal, a instauração de
inquérito para apurar a origem e a destinação dada pela Cooparaíso,
cooperativa de café de São Sebastião do Paraíso, aos recursos
recebidos do Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção
Agropecuária (Recoop), no valor de R$ 1.213.335,47;
* ao Ministério Público Estadual, duas
providências: a verificação da origem dos recursos financeiros
destinados à Cooparaíso e a legalidade da doação feita ao deputado
federal Carlos Melles e a Antônio Carlos Arantes; e a instauração de
inquérito policial para apurar delito de falsidade ideológica ou
estelionato, em razão de falsificação de assinatura de Rosa Merched
Assad, que teria ocorrido sob a responsabilidade do Banco do Brasil
ou de dirigentes da Cooparaíso;
* à Advocacia-Geral do Estado, a legalidade do
convênio de parceria celebrado entre a Cooparaíso e a cooperativa de
café de Guapé, a Coocafeg, bem como a viabilidade jurídica de
ressarcimento, aos cooperados, pelos prejuízos financeiros pelo
fechamento dessa cooperativa;
* ao delegado de Poços de Caldas, o indiciamento de
Moacyr Gomes Nabo Filho, Paulo Afonso Gomes, Rita de Lourdes Forte
Gomes, Patrícia Helena Gomes, Manoel Barbosa Junqueira, Carlos
Henrique Vieira, Rogério Marcassa, Fábio Fernando Garcia Marques,
Fábio Bengtsson, Irvânio Malaquias e Frederico Ozanam;
* ao promotor de Justiça de Espera Feliz, seja
formalizada denúncia contra Luiz Gonzaga do Carmo Brinati, Dejacinto
Valentin, Braz Grillo e Edimar Barbosa, ex-diretores da Cooperativa
Agrícola dos Pequenos Produtores do Vale do Paraíso (Cooavap);
* ao delegado de Guapé, o indiciamento de Sérgio
Salvador dos Santos Oliveira, Douglas Soares Aguiar, Geraldo Magela
Parula Teixeira, Altedes Moscardini Damasceno, Eugênio Rita e Luílio
Antônio Bernardes;
* ao delegado de Muzambinho, o indiciamento de
Roberto Vieira de Souza, ex-presidente da Cooperativa Mineira
Agrícola de Muzambinho (Coomam); Pedro de Almeida Machado,
ex-gerente financeiro, e Aquiles Caetano, empresário.
Relator faz solicitações ao Congresso, Banco
Central, SEF e Ministério da Agricultura
O relator da CPI do Café também solicita, no
relatório, a ampliação do número de fiscais da Receita Estadual e um
controle mais efetivo, por parte da Secretaria da Fazenda, sobre as
cooperativas de café. Ao Ministério da Agricultura, o relator pede
maior divulgação do Programa de Desenvolvimento da Economia
Cafeeira, mantido com recursos do Fundo de Defesa da Economia
Cafeeira (Funcafé), além de maior volume de recursos para os
pequenos produtores. Empenho e agilidade na aprovação do projeto de
lei que trata do cooperativismo foi outra solicitação da CPI, feita
ao presidente do Congresso Nacional.
Ao Banco Central, o relator pede que seja
encaminhado ao Ministério Público Federal o resultado de processo
administrativo, a fim de que o MP possa denunciar os responsáveis
por irregularidades na Cafecredi, com base no relatório de auditoria
realizado pela Crediminas.
Para onde vai o relatório - Cópias do relatório serão encaminhadas, além do presidente Mauri
Torres, ao procurador-geral de Justiça, Nedens Ulisses Freire
Vieira; ao secretário de Estado da Fazenda, Fuad Noman; ao
superintendente-geral da Polícia Civil, José Arcebispo da Silva
Filho; e ao Congresso Nacional.
Comissão conseguiu resultados positivos antes do
término dos trabalhos
Antes mesmo do término dos trabalhos, a CPI
conseguiu resultados positivos, entre os quais se destacam a quebra
dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos diretores da Cooavap
pelo juiz de Espera Feliz; e a proibição de Jaime Payne ausentar-se
do território nacional sem prévia autorização judicial e sua
exoneração do cargo de secretário parlamentar da Câmara dos
Deputados, com lotação no gabinete do deputado Silas Brasileiro.
Outro aspecto positivo foi o debate sobre o
controle das cooperativas de café pelos conselhos Fiscal e
Administrativo e pelo próprio Estado, a fim de evitar fraudes e
sonegação fiscal; e sobre a necessidade de se adotar uma nova
legislação federal sobre a Política Nacional de Cooperativismo, em
substituição à atual Lei 5.764/71.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente;
Sargento Rodrigues (PDT), vice; Rogério Correia (PT), relator; Fábio
Avelar (PTB), Domingos Sávio (PSDB), Rêmolo Aloise (PL), Doutor
Viana (PFL) e Laudelino Augusto (PT).
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