Debate procura soluções para reativar hidrovia do S. Francisco

Fica em Pirapora a sede da Companhia de Navegação do São Francisco (Franave), que desde 1999 não transporta cargas no...

07/12/2004 - 01:00
 

Debate procura soluções para reativar hidrovia do S. Francisco

Fica em Pirapora a sede da Companhia de Navegação do São Francisco (Franave), que desde 1999 não transporta cargas no trecho mineiro do rio São Francisco. A navegação dos seus comboios de chatas está hoje restrita ao trecho Ibotirama (Bahia) a Petrolina (Pernambuco), e cogita-se a transferência da companhia para solo baiano. Esta é uma das principais contradições sobre a navegação fluvial do rio São Francisco, reveladas na audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas, realizada na tarde desta terça-feira (7/12/04), a requerimento do deputado Laudelino Augusto (PT).

O deputado disse que teve a atenção despertada para o assunto da hidrovia do São Francisco durante sua participação na Romaria das Águas, em julho último. Apurou inicialmente que o transporte hidroviário de passageiros hoje não seria viável, por causa da demora. Foi muito comum entre as décadas de 1930 a 1960, quando havia vapores de linha navegando diariamente pelos 1.370 km entre Pirapora e Juazeiro. Laudelino defende, no entanto, a navegação de carga e de turismo.

"A relação de custo entre o transporte hidroviário e o aeroviário é de um para 20; entre o hidroviário e o rodoviário é de um para 10, e entre o hidroviário e o ferroviário é de um para 5. Ou seja, não só pela questão da economia, precisamos incentivar o uso correto e limpo do que a natureza nos proporciona. Os rios são as veias da Terra", argumentou o deputado.

Fernando de Castro Santos, da Conab, confirma a excepcional economia representada pelo transporte hidroviário, ao informar que, em 1982, a companhia realizou uma grande operação de transporte de milho a granel em balsas de 160 toneladas, do Centro-Oeste para o Nordeste, com uma logística intermodal utilizando caminhões até Pirapora e de Petrolina até os armazéns de destino. "Economizamos cerca de 40% no custo final, e consideramos o resultado excelente. No entanto, quando decidimos repetir a experiência em 1997, foi um desastre. O rio estava sem navegabilidade, e ficávamos na dependência da Cemig poder liberar água de Três Marias para que fizéssemos o percurso em três semanas", disse o superintendente da Conab.

Profundidade do São Francisco é escassa no trecho mineiro

Os problemas da navegação de carga foram bem explicados pelo diretor comercial da Franave, André Eduardo da Costa. Segundo ele, o trecho mineiro de 430 km de Pirapora a Carinhanha não tem calado suficiente, às vezes de apenas um metro, e seria necessário fazer dragagem de areia e cascalho do canal e em alguns trechos até mesmo o "derrocamento", ou seja, a dinamitação de rochas, que depende de autorização prévia do Ibama. "Hoje o calado necessário é de 1,30 metro, mais um 'pé-de-piloto' de 30 centímetros. Depois que a empresa 'jumborizar' suas chatas, ou seja, aumentar sua capacidade, com novos barcos empurradores que chegam em janeiro, será preciso um calado total de 1,80 metro", informou.

A necessidade de maior profundidade para viabilizar a navegação de carga pelo São Francisco foi defendida por outros convidados, como Antônio de Souza Filho, também da Franave. "Se não aumentarmos a capacidade de cada comboio nosso de 2 mil toneladas para 3,5 mil, nossa operação comercial fica inviável. Hoje só carregamos caroço de algodão da Icofort e soja em granel da Caramuru Alimentos. Se pudéssemos voltar a operar até Pirapora, chegaríamos a 300 mil toneladas de carga por ano, com a demanda pelo transporte de milho, farelo de soja e gipsita, matéria-prima do gesso", disse Souza Filho.

André Costa reclamou que o Governo de Minas não responde às reivindicações da Franave para viabilizar a hidrovia, mas que o Governo da Bahia está sempre presente. Délcio Teixeira da Costa, diretor de Hidrovias da Secretaria de Transporte e Obras Públicas, negou a omissão e disse que o governador Aécio Neves constituiu um colegiado de dez secretarias de Estado para restaurar a navegabilidade do rio.

O superintendente da Administração da Hidrovia do São Francisco (Ahsfra), Sebastião Marques de Oliveira, explicou que a Ahsfra é órgão do DNIT e cuida da navegabilidade. Disse que o relacionamento com o Ibama é bom e que já tem licença para desassoreamento. A Ahsfra também instalou bóias e sinalização luminosa no lago de Sobradinho. O capitão-de-corveta Marcelo de Sá Bittencourt, da Capitania Fluvial do São Francisco, disse que a função do seu efetivo é "salvaguardar a vida humana, zelar pela segurança da navegação e aplicar multas por poluição ambiental dentro do rio".

Presenças: Deputados Célio Moreira (PL), presidente; Laudelino Augusto (PT) e Sidinho do Ferrotaco.

 

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