Militares da PM avaliam que Código de Ética deve ser
aperfeiçoado
O grande consenso retirado da reunião da Comissão
de Direitos Humanos, nesta quarta-feira (1º/12/04), é de que o
Código de Ética e Disciplina dos Militares (CEDM), precisa ser
aperfeiçoado. Na reunião, destinada a discutir o código, contido na
Lei 14.310, de 2002, os representantes dos oficiais e dos praças da
Polícia Militar, além dos deputados da comissão, concordaram que o
documento necessita de mudanças, mas discordaram quanto aos aspectos
a serem alterados. O Código de Ética tem por finalidade definir,
especificar e classificar as transgressões disciplinares e
estabelecer normas relativas a sanções disciplinares, conceitos,
recursos e recompensas.
No começo da reunião, o presidente da Comissão de
Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), fez críticas à
ausência de dirigentes da PMMG, que enviaram correspondência
justificando. Foram convidados o comandante-geral da corporação,
coronel Sócrates Edgar dos Anjos; o chefe de Estado-Maior, coronel
Hélio dos Santos Júnior; e o corregedor, coronel Cláudio Lélis
Araújo. Segundo Durval, pressões poderiam estar prejudicando o
andamento dessa e de outras reuniões da comissão. Mas ele enfatizou
que todos os debates previstos serão feitos, com a participação da
sociedade civil e dos interessados no assunto. O vice-presidente da
comissão, deputado Roberto Ramos (PL), endossou as palavras de
Durval.
Segundo o presidente da Associação dos Oficiais da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, major Zoé Ferreira
Santos, o Código de Ética apresenta alguns "gargalos" que, para ele,
precisam ser revistos. Isto porque os efeitos suspensivos que essa
lei permite acabariam ocasionando, muitas vezes, a prescrição de
transgressões cometidas pelos militares. "A legislação penal deve
buscar maior presteza, mas o código caminhou no sentido contrário,
emperrando os processos administrativos", afirmou. "A maior
condenação de uma tropa é a social, feita pelo grupo. Mas também é
preciso formalizá-la para dar uma resposta à sociedade",
continuou.
Código tem mais avanços que falhas
O vice-presidente da Associação dos Praças,
Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-PM/BM),
subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, disse estar preocupado com a
justificativa do comando da PMMG para promover as mudanças no Código
de Ética. Apesar de concordar que a lei precisa de aperfeiçoamentos,
Gonzaga não concorda com o argumento do major Zoé, de que
instrumentos protelatórios do código estariam impedindo a punição de
militares. Segundo o subtenente, o tempo de dois anos, previsto para
a prescrição de uma falta grave, é suficiente para julgar e até
demitir um militar que a tenha cometido.
Na visão de Luiz Gonzaga, o código traz mais
avanços que falhas. Um deles seria a possibilidade de qualquer
militar denunciar ato irregular de outro, inclusive seu superior, o
que não era possível pelo Regulamento Disciplinar da Polícia Militar
(RDPM). Com a nova lei, as decisões passam necessariamente pelo
Conselho de Ética e Disciplina dos Militares, garantindo-se o
direito ao contraditório. Antes, segundo Luiz Gonzaga, a decisão de
um comandante com relação à punição de um subordinado faltoso não
podia ser questionada.
Montes Claros - Durval
Ângelo lembrou o caso de Montes Claros, em que o comando da PM
alegou que o Código de Ética teria dificultado a punição dos
policiais envolvidos com a máfia do carvão. Segundo ele, vários
entre os 22 processados em 1999 vão voltar a trabalhar. Durval
perguntou, então, aos dois representantes, se o problema se devia
realmente ao Código de Ética como um todo ou apenas a alguns
aspectos dele. Luiz Gonzaga disse a punição contra os militares foi
definida com base no RDPM, em 200l, anteriormente à aprovação do
Código de Ética. "Não é justo culpar o Código", defendeu ele,
informando que os policiais foram punidos inicialmente com a
transferência para Belo Horizonte e demissão. Só que a Justiça
anulou a demissão por perda de prazo pelo Comando da PM, já com base
no Código de Ética. Esse fato demonstra, para o dirigente, não
alguma falha do código, mas que a administração da PM não se
preparou para cumpri-lo.
Empresa formada por ex-policiais recebe
críticas
Ainda na reunião, Durval Ângelo leu anúncio
divulgado na Rádio Itatiaia, da empresa "Anjos Noturnos", formada
por ex-policiais, que faria segurança armada, escolta e
acompanhamento. Segundo o anúncio, os integrantes teriam sido
demitidos da PM devido à pressão de órgãos de direitos humanos. O
parlamentar condenou a iniciativa, no que foi acompanhado pelo
deputado Biel Rocha (PT). Este se indignou, dizendo que o anúncio
representava uma afronta à Polícia, à Comissão de Direitos Humanos,
ao Estado e a toda a sociedade; e que a Assembléia tinha que
denunciar o fato às polícias Militar, Civil e Federal, para
providências.
Tribuna Livre - O vendedor
ambulante cego Geraldo Ribeiro reclamou que, após sua transferência
para o Shopping Tupinambás, a Prefeitura de Belo Horizonte
concedeu-lhe um box muito pequeno, que não oferece condições para
que ele trabalhe. Durval informou que vai ser marcada uma reunião
com o prefeito Fernando Pimentel, em dezembro, para discutir
reivindicações dos camelôs, inclusive as dos portadores de
deficiência.
Agradecimentos - Delvânia
de Oliveira agradeceu o apoio da Comissão de Direitos Humanos pelas
gestões junto ao Poder Judiciário, visando o esclarecimento de uma
fraude no cartório de Sete Lagoas. Segundo Delvânia, um advogado e o
tabelião de um cartório local retiraram a posse de um terreno do pai
dela, Sebastião José de Oliveira, falsificando toda a documentação.
A comissão conversou com membros da Justiça no município,
conseguindo agilizar o processo que, por fim, deu ganho de causa ao
real proprietário do imóvel, Sebastião Oliveira.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, Roberto Ramos (PL) e
Biel Rocha (PT).
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