Comissão quer abertura de arquivos da ditadura militar

A abertura dos arquivos secretos do período da ditadura militar (1964-1985) é condição fundamental para a consolidaçã...

17/11/2004 - 01:00
 

Comissão quer abertura de arquivos da ditadura militar

A abertura dos arquivos secretos do período da ditadura militar (1964-1985) é condição fundamental para a consolidação da democracia no Brasil. A avaliação é do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, deputado Durval Ângelo (PT), para quem as entidades que lidam com a questão dos direitos humanos e a sociedade devem pressionar as autoridades federais e estaduais para que os documentos tornem-se públicos. Nesta quarta-feira (17/11/04), a comissão reuniu-se com convidados para debater a importância histórica da abertura dos arquivos.

Na opinião de Márcia Martini, diretora de Promoção dos Direitos Humanos e Inclusão Social da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese), a abertura dos arquivos federais é importante não apenas pelas informações que contêm, mas também pela reação em cadeia que isso deverá provocar nos Estados, levando os governos estaduais a tornarem públicos documentos em seu poder. Ela criticou argumento utilizado pelo ministro-chefe de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, que afirmou à imprensa ser contrário à abertura porque os documentos "não têm nada de bonito" sobre a esquerda, insinuando a existência de informações sobre adultérios e delações praticadas por opositores da ditadura. "O general esquece a feiúra muito maior que foi a violência e a tortura nos porões da ditadura", ressaltou. Márcia Martini solidarizou-se, ainda, com o ex-presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, João Luiz Pinaud, "pela forma honrosa como renunciou ao cargo".

Ecos dos porões da ditadura

Para Heloísa Gouveia, do Movimento Nacional de Direitos Humanos, abrir os arquivos secretos nada mais é que respeitar o direito do povo à informação, ao resgate de sua própria história. "É lamentável que ainda hoje seja preciso pedir, lutar por algo que é um direito nosso", declarou. Élcio Pacheco, conselheiro do Movimento, disse que "os ecos dos gritos dos torturados ainda podem ser ouvidos nos porões das cadeias", ao relacionar a violência praticada durante a ditadura com as arbitrariedade que ainda hoje são praticadas contra os detentos. "Um povo sem memória é um povo sem identidade", analisou.

Na opinião de Durval Ângelo, não faz sentido tratar a pressão pela abertura dos arquivos como sendo revanchismo. Ele lembrou que em outros países que passaram por períodos autoritários e de desrespeito aos direitos humanos, como África do Sul, Argentina e Chile, os documentos dos antigos regimes tornaram-se públicos sem que isso prejudicasse a consolidação democrática. Os demais deputados presentes, Roberto Ramos (PL), Ermano Batista (PSDB) e Biel Rocha (PT) também se posicionaram favoravelmente à abertura dos documentos.

Denúncia - Ao final da audiência, os deputados ouviram denúncia de que o trabalhador rural Fabiano Fernandes, de Leopoldina, teria sido espancado por um policial militar lotado naquela localidade, e comprometeram-se a tomar providências sobre o caso.

A reunião foi acompanhada por 28 alunos do Curso de Formação de Sargentos do Corpo de Bombeiros Militar. De acordo com o major BM Edmar Simião, a visita à comissão foi parte das instruções que os soldados recebem sobre a questão dos direitos humanos.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, Roberto Ramos (PL), Biel Rocha (PT) e Ermano Batista (PSDB).

 

 

 

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