Projeto de segurança alimentar será entregue ao
governador
O projeto mineiro de segurança alimentar deve ser
entregue brevemente ao governador Aécio Neves. O anúncio foi feito
pelo bispo Dom Mauro Morelli, presidente do Conselho de Segurança
Alimentar de Minas Gerais (Consea-MG), nesta quinta-feira
(14/10/04), na Assembléia, no ato público em homenagem ao Dia
Mundial da Alimentação, a ser comemorado no dia 16. Segundo Dom
Mauro, a transformação do projeto em lei assegurará as conquistas
obtidas pelo Consea-MG nos seus quase seis anos de atuação. "Essa
lei vai nos dar instrumentos para que a população assuma a sua
cidadania", enfatizou o religioso.
Na ocasião, Dom Mauro fez várias críticas, entre
elas, ao projeto de transposição do São Francisco, afirmando que o
rio precisa viver primeiro. Ele acrescentou que, mesmo que o projeto
seja tecnicamente viável, "não vai servir aos pobres dessa terra".
Sobre o enfoque que a mídia dá aos excluídos, Morelli disse que ela
sempre os aponta como o problema da sociedade. "Não é assim: os
pobres estão no coração do problema, mas não são o problema",
rebateu. O religioso criticou a maneira como o país vem promovendo a
campanha de combate à fome mundial. "O Brasil poderia dizer ao mundo
que somos não o problema, mas a solução na questão da fome no
mundo", disse ele.
"No Dia Mundial da Alimentação, comemorado no
Brasil e em todo o mundo, muito mais do que comemorar, temos que
denunciar várias coisas", afirmou o representante do Fórum Mineiro
de Segurança Alimentar (FMSA), Celi Márcio Silva Santos, enumerando
as denúncias: desrespeito dos governos quanto à biodiversidade e
omissão deles em crimes ambientais; monocultura indiscriminada,
principalmente do eucalipto; progresso inconseqüente, através da
poluição, desmatamento etc.; assassinato brutal do cerrado; mídia
enganosa, que omite a riqueza da biodiversidade do país; e toda e
qualquer produção de transgênicos para a alimentação humana.
Consumir alimentos produzidos no local é
ecologicamente melhor
O biólogo Adeilson Lopes da Silva, da ONG Centro de
Agricultura Alternativa - Norte de Minas, elogiou o Consea-MG "por
respeitar as características culturais no ato de se alimentar de
cada povo". Ele proferiu a palestra "A biodiversidade dos cerrados e
a segurança alimentar da população geraizeira", em que tratou dos
hábitos alimentares desse povo que ocupa a maior parte do cerrado no
Norte do Estado. Ele destacou a forma de produção e consumo
ecologicamente correta utilizada pelos geraizeiros. "É mais viável e
energeticamente sustentável consumir os alimentos no próprio local
em que foram produzidos os alimentos", afirmou condenando o atual
modelo de agricultura para a exportação.
Pesquisa - O estudioso
divulgou também dados de uma pesquisa sobre a alimentação domiciliar
dos brasileiros mostrando que o consumo anual de cereais,
leguminosas e frutas tropicais caiu, ao passo que o de biscoitos e
frutas temperadas cresceu de 1987 para cá. Na contramão dessa
tendência, Adeilson Lopes destacou o convênio da Cooperativa Grande
Sertão, de produtos agroecológicos do Norte de Minas, com a
Secretaria de Abastecimento de Belo Horizonte, permitindo que frutos
do cerrado sejam oferecidos no restaurante popular da Prefeitura.
Biossegurança - O
coordenador do ato público e representante da ALMG no Consea-MG,
deputado Padre João (PT), criticou a Lei Nacional de Biossegurança,
aprovada recentemente no Senado. "Essa lei não tem nenhuma
preocupação com a biodiversidade, mas com o lucro", condenou ele.
Padre João defendeu a atuação dos parlamentares em prol de políticas
pela segurança alimentar com preservação da biodiversidade. O
deputado Laudelino Augusto (PT) valorizou o trabalho da Comissão
Especial da Fruticultura, a qual presidiu. Para ele, a fruticultura
preserva a natureza, mantém pequenas indústrias caseiras e garante o
turismo ecológico. Enfatizando a importância do Dia Mundial da
Alimentação, o parlamentar citou São Vicente de Paula ao dizer que
"atender à necessidade dos pobres é mais que uma obra de
misericórdia; é obra de justiça".
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