Campanha contra abuso de crianças é lançada na Assembléia

A Comissão de Direitos Humanos abriu espaço nesta terça-feira (21/9/04) para o lançamento da campanha contra o abuso ...

21/09/2004 - 00:01
 

Campanha contra abuso de crianças é lançada na Assembléia

A Comissão de Direitos Humanos abriu espaço nesta terça-feira (21/9/04) para o lançamento da campanha contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. A campanha, uma iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese), vai ser divulgada em todas as quase 4 mil escolas estaduais do Estado, nos 853 municípios e seus mais de 4 mil distritos. Foi também lançada a cartilha "Jovens Interagindo", elaborada por adolescentes da ONG "Oficina de Imagens". Por meio de uma história em quadrinhos, a cartilha apresenta o Estatuto da Criança e do Adolescente, tratando também do abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes e da importância dos Conselhos Tutelares. A reunião foi requerida pelos membros da Comissão de Direitos Humanos, deputados Durval Ângelo (PT), presidente, e Biel Rocha (PT).

O subsecretário de Estado de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira, afirmou que a campanha parte do entendimento de que a escola, além de um local de ensino, é um espaço de proteção e defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Ele também valorizou o Disque Direitos Humanos (0800-311119), como a principal ferramenta da campanha e de outras ações da secretaria. Com essa linha, o denunciante, que tem seu sigilo preservado, recebe um número com o qual ele pode acompanhar o andamento do caso. Segundo Oliveira, as denúncias são encaminhadas ao órgão competente para providências - Ministério Público, polícias Civil e Militar, Conselho Tutelar ou outros. Com a maior divulgação do 0800, o número de denúncias de abuso aumentou 400% e o de exploração sexual 376%, de junho para cá. "Quanto mais denúncias houver, mais o número de abusos diminuirá", avaliou o subsecretário.

Escola de Base - Reportando-se às denúncias falsas que, em 1994, destruíram a reputação de Maria Aparecida Shimada e Icushiro Shimada, dirigentes da Escola Base, de São Paulo, a subsecretária de Desenvolvimento e Educação, Maria Eliana Novais, avaliou que, ao denunciar violação de direitos humanos, "não se pode ser omisso nem irresponsável". Ela lembrou ainda que a violência contra crianças e adolescentes geralmente é praticada por pessoas muito próximas - pais, parentes, amigos. Por esse motivo, as vítimas têm dificuldade de discernir se o que ocorre com eles é natural ou abusivo.

Morador de Pompéu denuncia que ninguém foi punido

O morador da cidade de Pompéu, Roberto Cangussú, denunciou que, quatro meses após as denúncias de envolvimento de autoridades locais com o aliciamento de menores, nada mudou, pois ninguém foi punido. Já o promotor Márcio Rogério de Oliveira cobrou a criação de um sistema de proteção e atenção às vítimas. Ele lembrou que, em São Francisco, no Norte de Minas, foram identificados 70 abusadores de menores. As vítimas desses casos estão expostas na cidade, pois não conseguiram entrar no programa de proteção a testemunhas, apesar de inúmeras tentativas.

A coordenadora técnica do Juizado de Infância e da Juventude, Rosilene Miranda Barroso da Cruz, disse que esse órgão é o estágio final da rede de proteção à criança e ao adolescente. "O Juizado só atua quando todas as outras instâncias falham", acrescentou. Para Rosilene, essa rede em Belo Horizonte é insuficiente, o que compromete o trabalho de proteção às crianças e adolescentes.

CPI - O deputado Durval Ângelo lembrou que várias ações da Subsecretaria de Direitos Humanos partiram de sugestões contidas no relatório da CPI da Prostituição Infantil, que concluiu seus trabalhos na Assembléia em maio de 2002. Mas Durval ressalvou que, apesar do aumento das denúncias, muitas vezes, quando envolvem autoridades, não há a punição esperada. Isso aconteceu em Araxá e Arinos, onde a CPI apurou envolvimento de autoridades locais com a exploração sexual de crianças e adolescentes, e até hoje não houve qualquer punição.

O deputado Laudelino Augusto (PT) citou um verso da música "Coração de Estudante", de Milton Nascimento, "Há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e frutos", para defender que a violência contra crianças é resultado da falta de cuidado de toda a sociedade, do poder público, dos meios de comunicação, dos pais. Laudelino enfatizou a atuação da Frente Parlamentar dos Direitos da Criança e do Adolescente, criada na Assembléia. A entidade, da qual é membro, faz reuniões mensais para acompanhar denúncias e o orçamento do Estado, apoiando a destinação de recursos para políticas em defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Denúncias devem ter acompanhamento, avalia promotor

Apesar de reconhecer as deficiências do Estado, o coordenador da Promotoria da Infância e da Juventude, promotor Celso Penna Fernandes Júnior, considera que a campanha anti-violência contra crianças e o Disque Direitos Humanos podem dar bons resultados. Mas acha que é necessário melhorar a estrutura para dar continuidade aos casos denunciados. "Não basta a denúncia; é preciso atendimento imediato e eficaz", ponderou. Ele valorizou a atuação do Fórum Interinstitucional de Enfrentamento à Violência Doméstica, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes do Estado. De acordo com o promotor, o fórum é um espaço de articulação para o combate à violência, congregando diversos órgãos e entidades que atuam na questão. Fazem parte do fórum o Ministério Público Estadual e do Trabalho, Secretaria de Estado da Educação, conselhos tutelares, ONGs e outras instituições.

Ao final da reunião, o deputado Biel Rocha informou que a Comissão de Participação Popular vai promover este ano reuniões para discutir e propor emendas ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG). Ele julga importante apresentar emendas contemplando ações na área de direitos humanos. Biel divulgou também que iria propor na próxima reunião da Comissão de Direitos Humanos a realização de uma audiência pública para tratar da importância dos fundos municipais da infância e da adolescência (FIAs). Esses fundos seriam importantes para alavancar recursos de empresas, que teriam isenções fiscais ao fazerem doações. Com a audiência, o deputado pretende sensibilizar a iniciativa privada para a importância de investir nesses fundos.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; Biel Rocha (PT), Laudelino Augusto (PT) e Domingos Sávio (PSDB). Participaram ainda da audiência pública representantes dos conselhos tutelares, da ONG Circo de Todo Mundo, do Fórum Interinstitucional de Enfrentamento à Violência Doméstica, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes do Estado de Minas Gerais, entre outros.

 

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