Parlamento Jovem reúne quase 300 estudantes no Plenário

"O que estamos assistindo hoje aqui na Assembléia é o verdadeiro exercício da democracia", com esta frase o professor...

17/09/2004 - 00:00
 

Parlamento Jovem reúne quase 300 estudantes no Plenário

"O que estamos assistindo hoje aqui na Assembléia é o verdadeiro exercício da democracia", com esta frase o professor Antônio Carlos Miranda, do Colégio São Miguel Arcanjo, definiu a realização da fase final do projeto Parlamento Jovem, na tarde desta sexta-feira (17/09/04), no Plenário da Assembléia Legislativa. Após seis meses de preparação com palestras, estudos, e pesquisas, o programa, realizado em parceria entre a Escola do Legislativo e a PUC Minas São Gabriel, culminou com a reunião de 309 pessoas, entre alunos e professores da PUC e de seis escolas de ensino médio de Belo Horizonte.

Os estudantes simularam uma audiência pública e uma reunião ordinária da Comissão de Participação Popular da Assembléia, com a discussão de dois assuntos: políticas para prevenção ao uso de drogas e as cotas para minorias nas universidades estaduais de Minas Gerais. Além dos 77 jovens que ocuparam os lugares dos deputados estaduais, outros cerca de 200 encheram as galerias, manifestando-se a cada pronunciamento, a cada encaminhamento feito. Na parte destinada à reunião ordinária, foram votados - de forma fictícia mas bastante fiel ao Regimento Interno da Casa - pareceres sobre cinco projetos de lei, criados pelos estudantes.

Democracia - Na abertura do evento, o presidente da Comissão de Participação Popular, deputado André Quintão (PT), destacou a importância do projeto para a formação da consciência crítica e de cidadania nos estudantes. A deputada Jô Moraes (PCdoB), também considerou a simulação como uma aula de democracia. Uma das coordenadoras do Parlamento Jovem, a professora de Ciências Políticas do curso de Ciências Sociais da PUC, Bete Marques, elogiou a fase final do debate quando foi discutida a questão das cotas para negros. De acordo com ela, o mais interessante nos discursos dos estudantes foi a presença de argumentos bastante democráticos, inclusive naqueles que defendiam a revogação da lei de cotas. "O debate foi uma efetiva mostra daquilo que os alunos aprenderam sobre democracia, pluralismo e fundamentos de igualdade durante a preparação", defendeu.

O reitor em exercício da PUC Minas, Eustáquio Afonso Araújo, destacou o trabalho dos estudantes e os encorajou dizendo: "não basta saber como as coisas acontecem, é preciso agir para que algumas coisas mudem". Na opinião dele, esses jovens que participaram do Parlamento Jovem estão aprendendo a diferença entre assistir ao jogo democrático e agir, fazendo parte da solução dos problemas. O aluno do terceiro período do curso de Ciências Sociais da PUC Minas, Jorge Fernandes, acredita que o projeto serviu para inserir os jovens no processo legislativo. Ele espera que, em 2005, um número maior de escolas possa participar do evento.

O aluno do 2º ano da Escola Estadual Presidente Antônio Carlos, Leandro Vieira, disse que o evento serviu para mudar sua concepção sobre o trabalho dos deputados na Assembléia. Segundo ele, "o Parlamento Jovem fez os jovens enxergarem que os deputados se preocupam em trabalhar para a sociedade".

ONGs fictícias marcam suas posições com argumentos bem definidos

Para participar da audiência pública, os alunos participantes formaram oito ONGs, cujos representantes se revezaram na discussão sobre as cotas e a prevenção ao uso de drogas. Houve debates acalorados e críticas mútuas entre os que defendiam posições diferentes. O aluno Samir, da Escola Estadual Pedro Franca, representando a Ong "Iguais nos Direitos" defendeu a cota nas universidades dizendo que esse seria o meio de superar as desigualdades sociais existentes no Brasil. "A cota é o caminho para que todos tenham as mesmas oportunidades", alegou. Completando as palavras de Samir, a aluna Paola afirmou que a cota seria uma luta pelos direitos do cidadão.

Já o aluno Reinaldo Silva, do Colégio São Francisco de Assis, representando a Ong "Um Sonho de Igualdade" disse que a política das cotas fere o princípio de igualdade. "Não seria mais coerente melhorarmos o ensino público para garantirmos a entrada de todos na universidade?", questionou. Reforçando o discurso de Reinaldo, a aluna Ana, do Colégio Classe A, representando a Ong "Juventude em Ação" perguntou se as cotas não seriam uma forma de o governo lavar as mãos com um problema que persiste há anos.

O debate sobre as propostas de alteração da Lei 15.259/04, que institui o sistema de cotas nas universidades, dividiu a opinião dos estudantes também na fase de simulação da reunião ordinária. Foram designados, entre eles, relatores para apreciar proposições que modificavam o perfil dos grupos beneficiários e o percentual de vagas para cada um dos grupos. Depois, os estudantes aprovaram os pareceres sobre as propostas.

Combate às drogas - A prevenção ao uso de drogas também foi debatida pelos nove estudantes-deputados que compuseram a Mesa durante a reunião. Pedro Perone, do Colégio São Francisco de Assis, combateu a diferenciação entre drogas lícitas e ilícitas. "Droga é droga, lícita ou não, tem que ser combatida", enfatizou. Segundo ele, para prevenir o uso de drogas, é preciso levar em consideração as especificidades de cada região do Estado. O "deputado" Evandro Soares, do Colégio Pio XII, lembrou que "tudo o que é proibido é mais gostoso", mas admitiu que legalizar as drogas no Brasil seria um desastre.

A proposta de alteração da legislação que cria o Conselho Estadual da Juventude, modificando a sua constituição com a inclusão de representantes da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG), da União Brasileira de Estudantes Secundários (Ubes) e da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi aprovada por unanimidade. A outra proposta consensual visava modificar a Lei 11.544, de 1944, criando ações de prevenção nas escolas públicas de alerta para os riscos do uso das drogas.

Alunos aprovam três moções durante votação simbólica

Ao final dos debates, os alunos votaram e aprovaram três moções. Os integrantes do Parlamento Jovem solicitaram em uma delas a criação de um fórum técnico para discutir sobre as cotas nos ensinos de terceiro grau e cursos técnicos e políticas de prevenção ao uso de drogas. Para defender a proposta, os estudantes falaram da complexidade da temática e necessidade de um fórum composto de especialistas nesses assuntos.

Outra moção sugeriu a criação no Estado do Observatório de Políticas para a Juventude, objetivando o acompanhamento pelos alunos dos trabalhos legislativos referentes à políticas públicas que resultem na melhoria da qualidade de vida dos jovens mineiros. Na mesma moção, foi solicitada a formação de uma comissão composta por representantes de cada uma das instituições que compõem a parceria que deu origem ao Parlamento Jovem e de alunos que dele participaram, para formatar a proposta de funcionamento do observatório.

A última moção elaborada pelos estudantes solicitou às instituições responsáveis pelo projeto a continuidade do Parlamento Jovem como atividade anual. O deputado André Quintão, ao final do evento, garantiu a permanência do projeto que, segundo ele, já está incorporado ao calendário da Assembléia. O parlamentar defendeu a importância do projeto para o fortalecimento do Legislativo e da própria democracia.

O que é o Parlamento Jovem

A primeira edição do projeto Parlamento Jovem teve a participação de 17 alunos do campus São Gabriel da PUC Minas, e de 60 alunos das escolas estaduais Presidente Antônio Carlos e Pedro Franca e dos Colégios São Francisco de Assis, São Miguel Arcanjo, Classe A e Pio XII. A coordenação foi das professoras Maria Elizabeth Marques, Cristina Vilani, Regina Medeiros e Maria das Dores Cardoso, da PUC. Participaram técnicos da Escola do Legislativo, consultores da Assembléia e assessores da Comissão de Participação Popular.

Após a simulação desta sexta-feira, os parceiros desse projeto já iniciarão a montagem da edição de 2005, avaliando os resultados da primeira experiência e iniciando os contatos com alunos e escolas interessadas em participar da próxima edição do Parlamento Jovem.

 

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