Parceria Público-Privada gera polêmica no seminário sobre saneamento

Posições divergentes quanto à forma de financiar o saneamento, defendidas pela Associação Nacional dos Serviços Munic...

15/09/2004 - 00:01
 

Parceria Público-Privada gera polêmica no seminário sobre saneamento

Posições divergentes quanto à forma de financiar o saneamento, defendidas pela Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae) e pela Copasa, marcaram os debates do seminário sobre saneamento ambiental, nesta quarta-feira (15/9/04), na Assembléia Legislativa. No terceiro dia do Seminário Legislativo "Saneamento Ambiental - Demandas e Intervenções Necessárias", a vice-presidente da Assemae, Dóris Aparecida Garisto Lins, mostrou-se contrária às Parcerias Público Privadas (PPPs). Ao contrário dela, o presidente da Copasa, Mauro Ricardo Machado Costa, defendeu as PPPs como forma de bancar parte dos investimentos em saneamento, necessários para atingir toda a população do Estado e do País.

Segundo Dóris Garisto, qualquer obra pública contratada através da PPP teria seu custo elevado em, no mínimo, 43,2%. "Ficamos indignados em saber que Minas Gerais é o primeiro Estado a aprovar o projeto das PPPs", reclamou Dóris, contrapondo a esse modelo o que ela chama de "parcerias público-público". De acordo com a dirigente, essa modalidade seria viável com a atuação conjunta e organizada dos três entes federativos - União, Estados e Municípios.

Copasa - Discordando da Assemae, Mauro Costa, da Copasa, avalia que há uma grande oportunidade para contratos de PPPs em vários projetos de saneamento no Estado. De acordo com ele, para levar o abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos a toda a população mineira até 2020, seriam necessários R$ 17 bilhões - para o Brasil, os gastos são de R$ 178 bilhões. O presidente da Copasa afirmou que, mesmo com o programa de investimentos da empresa - com investimentos previstos de R$ 2,7 bilhões até 2006 - o governo estadual vai precisar alavancar recursos junto à iniciativa privada.

Política Nacional de Saneamento recebe críticas

Costa fez críticas ao anteprojeto da Política Nacional de Saneamento Ambiental (PNSA). Para ele, o anteprojeto não reconhece os Estados como entes da federação, esquecendo-se de que eles são responsáveis por 75% do abastecimento de água no País. O projeto delega as atribuições do saneamento aos municípios, sendo que, no caso de Minas, por exemplo, apenas 145 cidades têm sistemas de saneamento superavitários. O atual sistema de subsídios cruzados das companhias estaduais (em que a tarifa cobrada dos municípios mais ricos subsidia os mais pobres) seria substituído pelos consórcios. "Consórcio não vai resolver o problema, pois os municípios ricos não vão transferir parte de sua renda, consorciando-se com os pobres", reforçou.

Nesse aspecto a representante da Assemae, Dóris Garisto, concordou com o presidente da Copasa, apesar de considerar a iniciativa do projeto da PNSA louvável. Ela acha que falta definir no projeto de onde virão os recursos e qual seria o papel das companhias estaduais no saneamento. Devido a essa lacuna, os serviços do saneamento são repassados para os municípios, que "terão que fazer mágica para cumpri-los", na opinião dela.

Secretarias de Estado defendem PPPs

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Wilson Brumer, também defendeu as PPPs: "o Estado não dá conta de fazer tudo sozinho; precisa recorrer a parcerias, com critérios, sabendo dos riscos", disse. Ele rebateu ainda a afirmação da representante da Assemae que havia dito que as PPPs seriam mais caras. "Gostaria de ver dados que comprovassem que essas parcerias são mais caras; não há como, pois nenhum projeto usando PPP foi implantado até hoje". Através de recursos próprios e dos oriundos das PPPs, o governo Aécio pretende, segundo Brumer, elevar o Índice de Desenvolvimento Humano de Minas (11º do Brasil) para a mesma colocação do PIB mineiro - 3º, já aproximando-se da 2ª colocação entre os Estados brasileiros.

Projetos estruturadores - O subsecretário de Estado de Planejamento e Orçamento, Tadeu Barreto Guimarães, apresentou os três projetos estruturadores do governo estadual relacionados com o saneamento básico: Saúde para Todos (água e esgoto tratados), revitalização e desenvolvimento sustentável da Bacia do São Francisco e Parcerias Público-Privadas (PPPs). Para o primeiro projeto estão direcionados investimentos de R$ 834 milhões, com a geração de 89 mil empregos nas 140 obras em andamento e em outras 64 previstas. O projeto de revitalização do São Francisco prevê mais de 200 obras em 18 municípios, visando à melhoria da qualidade e da quantidade da água.

Quanto às PPPs, Guimarães informou que "40 técnicos do Estado atuarão no sentido de consolidar e disseminar essas práticas". Só viabilizaremos PPPs boas para a sociedade mineira se o Estado desenvolver bem sua competência para fazer bons contratos," argumentou. Para sanar possíveis falhas no projeto, o governo estadual vai realizar projetos-piloto de PPPs para as obras da MG-050, do novo Centro Administrativo, do campus da Uemg, de um presídio, além de um projeto de saneamento básico em Diamantina. Com as parcerias, o Estado pretende economizar R$ 20 bilhões por ano.

Qualidade das águas - O diretor-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Paulo Teodoro de Carvalho, apresentou o mapa anual da qualidade das águas superficiais do Estado. Segundo ele, o levantamento, realizado nas oito principais bacias hidrográficas de Minas desde l998, mostra que a qualidade das águas vem melhorando gradativamente.

O diretor-geral do Instituto de Geociências Aplicadas (IGA), David Márcio Santos Rodrigues, tratou da importância de um sistema de informação georreferenciado. Segundo ele, qualquer programa de desenvolvimento deve se alicerçar em um plano cartográfico, que incluiria informações topográficas, hidrográficas, sócio-econômicas, geoambientais e para gestão territorial.

Grupos de trabalho - Na parte da tarde, grupos de trabalho do seminário se reuniram para tratar dos seguintes temas relacionados ao saneamento ambiental: Grupo 4 (coordenado por José Antônio Cunha Melo, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - Abes/MG) - Legislação e Políticas públicas; Grupo 5 (coordenado por Valter Zschaber Júnior, também da Abes/MG) - Mecanismos de financiamento; e Grupo 6 (coordenado pelo superintendente de Recursos Hídricos e de Meio Ambiente da Copasa, Valter Vilela Cunha) - Demandas e intervenções necessárias.

 

 

 

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