Transposição do S. Francisco seria desperdício, afirmam técnicos

José Chacon de Assis, presidente da Federação das Associações de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (Fearj), ...

14/09/2004 - 00:01
 

Transposição do S. Francisco seria desperdício, afirmam técnicos

José Chacon de Assis, presidente da Federação das Associações de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (Fearj), calculou que cada real investido em saneamento corresponde a 4 reais poupados em médicos, medicamentos e internações, e avaliou que o Brasil ainda está longe de conquistar uma posição razoável diante da definição que a OMS divulgou para domicílio saneado. Segundo a organização, domicílio saneado é aquele servido por água tratada, esgotos coletados e tratados, coleta e tratamento de lixo, drenagem superficial e controle de pragas e vetores.

Chacon fez críticas também à Agência Nacional das Águas (ANA). Para ele, "deveria ser um órgão técnico, mas é órgão político, porque implementa as políticas que o Governo Federal quiser, mesmo que estejam distanciadas do desejo da comunidade". Como exemplo, citou a transposição das águas do rio São Francisco, que é condenada pela população de Minas e até dos estados do Nordeste, mas que seria "uma decisão tomada pelo núcleo duro do poder, sem ouvir a oposição da sociedade".

Na fase de debates, Paulo Teodoro, do Igam, concordou que a transposição resolveria apenas o abastecimento de uma pequena parcela da população nordestina ao longo do canal. "O problema no Nordeste é a adução. A água dos açudes é suficiente para abastecimento humano e mitigação da sede dos animais. Somos radicalmente contra a transposição para projetos de agricultura irrigada. A perenização é muito mais importante, porque, se não cuidarmos do rio São Francisco em toda a sua extensão, ninguém terá água", afirmou.

Aldo Rebouças, da USP, acrescentou que a formação de comitês de bacia, que fortalecem as populações ribeirinhas, é um fenômeno que só acontece nas regiões mais desenvolvidas do Brasil. "De Minas para cima é proibido falar em comitê de bacia, porque implica em perda de poder político para o ministro Ciro Gomes", disse Rebouças.

Participantes do seminário colocaram para a mesa muitas questões referentes à utilização de águas subterrâneas, que não devem ser outorgadas a pivôs centrais ou outros sistemas de irrigação que desperdiçam água. Beto Pêgo, consultor da Cipe Rio Doce, expôs um plano traçado de comum acordo entre capixabas e mineiros para reduzir a carga de esgotos lançada no rio Doce em 90% até 2020, a um custo de R$ 800 milhões, obtidos através de emendas parlamentares ao Orçamento da União.

Grupos de trabalho - Na tarde desta terça-feira, três grupos de trabalho se reuniram para discutir e apresentar propostas para o Documento Final do Seminário Legislativo "Saneamento Ambiental - Demandas e Intervenções Necessárias". Os participantes do grupo 1 debateram assuntos relacionados ao tema "Saneamento ambiental e gestão de recursos hídricos", sob a coordenação do representante da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), Ronaldo De Luca Ferraz Gonçalves. Já no grupo 2, coordenado por Carlos Henrique de Melo, coordenador regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), foi enfocado o tema "Saneamento ambiental: educação e saúde". O assessor de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Presidência do Crea/MG, Odair Santos Júnior, foi o coordenador dos trabalhos no grupo 3, com o tema "Saneamento ambiental: ciência e tecnologia". Outros três grupos se reúnem nesta quarta-feira para discutir os seguintes temas relacionados ao saneamento ambiental: "Legislação e políticas públicas", "Mecanismos de financiamento" e "Demandas e intervenções necessárias".

 

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