Ausência de autoridade federal é criticada no Seminário

O 2º-vice-presidente da Assembléia, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), criticou com veemência a ausência do secretár...

14/09/2004 - 00:00
 

Ausência de autoridade federal é criticada no Seminário

O 2º-vice-presidente da Assembléia, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), criticou com veemência a ausência do secretário nacional de Saneamento, Abelardo de Oliveira Filho, na mesa de abertura dos trabalhos do Seminário Legislativo de Saneamento Ambiental, na noite desta segunda-feira (13/9/04). A presença de Abelardo estava confirmada até o último momento, e o secretário não enviou representante que fosse capaz de defender as posições federais no evento. "Não estamos brincando aqui", advertiu Adelmo, destacando a seriedade com que a Assembléia busca o equilíbrio entre as várias posições ao organizar seus seminários.

A presença do governo federal era imprescindível para defender os pontos inovadores existentes no anteprojeto de política nacional de saneamento, que o ministro das Cidades, Olívio Dutra, submeteu à apreciação dos estados e municípios, e que está sob ataque das empresas estaduais de saneamento, como a Copasa mineira e a Sabesp paulista.

Na primeira palestra, o secretário de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Teodoro Lamounier, fez um histórico das ações de saneamento desenvolvidas pelos governos mineiros desde o Planasa, afirmou que os investimentos em saneamento reduzem os gastos com saúde, e disse que o governo de Minas fará gastos de R$ 2,7 bilhões em saneamento. Sem entrar diretamente em confronto com as propostas do anteprojeto que ferem a autonomia dos estados, Lamounier falou no fortalecimento do processo federativo brasileiro e no compromisso histórico de Minas com o ideário republicano. "Zelar pela constitucionalidade das leis é tarefa indeclinável do homem público", afirmou. Lamounier disse que, esgotada a capacidade dos entes federados de investir em saneamento, abre-se espaço para as parcerias público-privadas.

Entidades de engenharia receiam extinção das empresas de saneamento

Vitor Fernando Bertini, presidente da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (AESBE), recordou que muitos governantes asseguram que darão prioridade ao saneamento, mas sem garantir os recursos. "Prioridade sem orçamento é só discurso", criticou. "Se o governo de Minas anuncia R$ 2,7 bilhões de gastos em saneamento, isso é um dado concreto", acrescentou.

Bertini considera fora da realidade fazer "arranjos institucionais" com base na sociedade civil para atender as necessidades de saneamento. "Nossa sociedade é pobre e iníqua. A proposta do Governo ameaça o conjunto do know-how que as empresas públicas de saneamento vêm acumulando há 40 anos". No entanto, disse confiar na sensibilidade política do ministro Olívio Dutra para rever profundamente a proposta, para que não haja vencidos. "Eu gostaria de comemorar a construção de uma política nacional de saneamento que não teve derrotados, mas só vitoriosos", resumiu.

José Aurélio Boranga, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), condenou três pontos específicos do projeto: "A criação de fundos é apenas a burocratização do dinheiro que já existe. O que precisamos é de dinheiro novo". Boranga assinala que o projeto deixa de considerar as bacias hidrográficas, e também cria situações absurdas em que o usuário pode se recusar a pagar as contas. O engenheiro duvida que a proposta seja capaz de universalizar a oferta de serviços e prevê o surgimento de "demandas jurídicas intermináveis entre estados e municípios".

Palestrantes encontram pontos positivos na proposta do Governo

Com a ausência do secretário nacional de Saneamento, apenas duas vozes defenderam parcialmente a idéia do Governo Federal de criar consórcios intermunicipais de saneamento para garantir água, esgotos e lixo tratados para toda a população. A primeira foi a de Roberto Malvezzi, um dos autores do texto da Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano.

Após dar uma série de dados sobre a situação mundial de abastecimento de água, relacionando-os com a mortalidade infantil, e sobre a proposta do Vaticano de que o acesso à água pura seja admitido como direito humano, Malvezzi pôs em dúvida a capacidade das empresas de saneamento em monitorar e eliminar resíduos de pesticidas, de hormônios, de restos de quimioterapia, e metais pesados, que são novas e sofisticadas fontes de poluição. Por outro lado, duvidou também que alguma empresa privada vá se interessar pelo saneamento em cidades pobres. "A Prefeitura de Petrolina, a cidade mais rica do sertão, colocou duas vezes em leilão o seu serviço de saneamento. Ninguém apresentou proposta. Quem iria querer então uma cidade pobre?", exemplificou.

Silvano Silvério da Costa, representante dos 1.800 municípios que têm serviços autônomos de água, encontrou pontos positivos no anteprojeto, como o da gestão associada, que ajudaria onde os municípios não têm capacidade ou condições de montar laboratório para testes de qualidade da água. A questão do subsídio cruzado, que permite às empresas estaduais cobrar tarifa única em todo o Estado, e que seria extinta no anteprojeto, também mereceu dele um comentário: "Não defendemos subsídio cruzado onde há superávit e o excedente vai para o caixa do Estado". Costa só condena abertamente as parcerias público-privadas admitidas no anteprojeto, que a seu ver tornariam muito caro o metro cúbico de esgoto tratado.

 

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