Ex-dirigentes da Cafecredi e médico são acusados por rombo

Dois ex-dirigentes da Cooperativa de Crédito dos Cafeicultores de Poços de Caldas (Cafecredi) e um médico, que atuari...

09/09/2004 - 00:02
 

Ex-dirigentes da Cafecredi e médico são acusados por rombo

Dois ex-dirigentes da Cooperativa de Crédito dos Cafeicultores de Poços de Caldas (Cafecredi) e um médico, que atuaria também como agiota, foram acusados de ser os principais responsáveis por um rombo de cerca de R$ 3 milhões na entidade. As acusações foram formuladas em três dos quatro depoimentos - dois abertos e dois fechados - prestados à CPI do Café da Assembléia Legislativa, na reunião desta quinta-feira (9/9/04). Os acusados são o ex-presidente e o ex-gerente da Cafecredi, Jaime Junqueira Payne e Fábio Fernando Garcia Marques, e o médico Moacyr Gomes Nabo Filho. A portas fechadas, foram ouvidos o inspetor da Cooperativa Central de Crédito Rural de Minas Gerais (Crediminas), Alexis Polovanick, e o ex-tesoureiro da Cafecredi, Rogério Marcassa.

O primeiro e o terceiro dos acusados haviam sido convocados para a reunião, mas não compareceram. Jaime Payne enviou correspondência justificando a ausência, solicitando que a comissão reconsiderasse a proibição de sair do País imposta a ele pela CPI. Em vez disso, foi confirmada a proibição, e Payne novamente convocado, por requerimento do vice-presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), para a reunião do dia 16 de setembro. Também para essa data foi transferido o depoimento do empresário Paulo Afonso Gomes, para que os dois sejam acareados. O presidente da comissão, deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL), leu ofício do juiz de Poços de Caldas, Afonso Freitas Patelli, comunicando que havia expedido ordem judicial proibindo a saída de Jaime. Já Fábio Garcia Marques, também convocado para a reunião, não foi localizado.

Cheques - O ex-técnico de informática da Cafecredi, Fábio César Bengtsson, disse que Fábio Garcia recebia cheques para serem descontados pela cooperativa e os entregava, indevidamente, a Moacyr Gomes, para que fizesse a operação. O técnico, que atuou na Cafecredi entre 1998 e 2001, afirmou que Moacyr pagava à cooperativa uma taxa de 4% de juros sobre os cheques e os emprestava cobrando juros de 12%. A diferença de taxas era então dividida entre Fábio, Moacyr e Jaime, sendo que esse último, segundo o técnico, autorizaria toda a transação e seria seu principal beneficiário.

O funcionário disse que presenciou essas transações, tendo inclusive levado cheques, a mando de Jaime, para a clínica de Moacyr e deixado um pacote de dinheiro na mesa de Fábio Garcia. Além disso, de acordo com Bengtsson, o então presidente da cooperativa teria movimentado contas inativas de cooperados, sem o conhecimento deles, para realizar operações no mercado futuro (através das chamadas "Contas 6 mil"). Outra irregularidade apontada pelo técnico seriam estornos de juros, autorizados por Jaime, em contas da cooperativa, que perfaziam R$ 250 mil por mês.

Ex-presidente enriqueceu rapidamente

Questionado pelo relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT), sobre indícios de enriquecimento rápido de Jaime Payne, o técnico de informática disse que tinha conhecimento disso. Bengtsson declarou que Payne, até se tornar presidente da Cafecredi, andava numa Variant. Depois disso, teria comprado uma cobertura no valor de R$ 800 mil, duas casas em condomínio fechado (cada uma valendo R$ 400 mil) e uma fazenda na região, tudo isso num período de apenas quatro anos. Bengtsson declarou também que o gerente da cooperativa havia dito a ele que recebia entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por semana pelas transações.

Os deputado Sargento Rodrigues (PDT), vice-presidente da comissão, e Fábio Avelar (PTB) perguntaram ao funcionário se ele já tinha sido obrigado a realizar operações ilegais a pedido dos envolvidos no esquema. Bengtsson respondeu que não havia feito nenhuma transação ilícita, mas que o sistema da Crediminas, utilizado pela Cafecredi à época, era muito antigo e sem segurança. "Qualquer pessoa podia entrar e alterar; eu já vi o Fábio Garcia alterando", confirmou ele.

Perseguição - Também a produtora rural de Poços de Caldas, Maria Tereza Junqueira Arantes, em depoimento à comissão, denunciou que vem sendo perseguida pela Cafecredi. Ela relatou que tomou um empréstimo na cooperativa de crédito e ofereceu como garantia 286 sacas de café beneficiado. Segundo Maria Tereza, as sacas teriam sido usadas indevidamente para pagar parte de uma dívida da entidade com uma empresa de exportação de café. Ela registrou também que, em 2003, devido à pequena safra do ano, fez outra modalidade de empréstimo, a chamada Cédula do Produtor Rural (CPR), lastreada por 237 sacas de café. E disse que em 2004, procurou a Cafecredi para renegociar a dívida, a exemplo de vários cooperados que conseguiram essa renegociação, mas a cooperativa lhe negou esse opção. Em vez disso, a Cafecredi mandou executar judicialmente a dívida de Maria Tereza, arrestando sacas de café de sua fazenda para pagar a CPR.

CPI pede prisão preventiva de ex-gerente

Em virtude das denúncias do rombo, os deputados da CPI aprovaram outros requerimentos pedindo providências. O deputado Sargento Rodrigues requer do juiz de Poços de Caldas a imediata decretação da prisão preventiva do ex-gerente da Cafecredi, Fábio Garcia Marques, pelos fortes indícios de seu envolvimento nos crimes investigados pela comissão. Noutro requerimento, Rodrigues solicita do secretário de Estado da Agricultura e deputado federal Silas Brasileiro (PMDB-MG), o afastamento de Jaime Payne (que atua como secretário parlamentar de Silas) das funções que desempenha nos grupos de trabalho sobre o Plano Nacional do Agronegócio Café; e que sejam comunicados desta decisão o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), presidente da Câmara dos Deputados, e o ministro da Agricultura.

Também foi aprovado o requerimento do deputado Sebastião Navarro Vieira, solicitando que sejam convidados para audiência da CPI os presidentes do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), Ronaldo Scucato, e do Conselho Nacional do Café, Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro, para que possam prestar esclarecimentos. Na reunião, Vieira leu correspondência que os dois enviaram ao governador Aécio Neves acusando a CPI de fazer "denuncismo inconseqüente", colocando em risco o setor cafeeiro do Estado.

Foram ainda aprovados outros dois requerimentos de Rogério Correia, pedindo que seja agendada visita da comissão à diretoria do Banco Central para verificar o andamento do processo administrativo sobre Relatório de Auditoria de Fraudes e Ocorrências Especiais na Cafecredi; e que sejam intimados Ademir Feltrim, Isabela Tassi B. Moreira, Denise de Fátima Ranaldi e Joyce Elece de Taunay, para prestar esclarecimentos à CPI.

Presenças - Deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente da comissão; Sargento Rodrigues (PDT), vice; Rogério Correia (PT), relator; Fábio Avelar (PTB), Roberto Ramos (PL) e Rêmolo Aloise (PL).

 

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