Minas já é área infectada pela doença dos bananais
A sigatoka negra, praga fúngica que destrói os
bananais, já foi localizada em plantações das cidades sul-mineiras
de Gonçalves e Piranguçu, próximas à fronteira de São Paulo. Pela
Instrução Normativa nº 41 do Ministério da Agricultura, Minas passou
a integrar a lista dos estados infectados e já não pode impedir a
entrada de bananas de São Paulo, embora esteja impedida de exportar
seu produto para os estados considerados isentos.
A invasão da praga foi o tema da reunião da
Comissão Especial da Fruticultura da Assembléia Legislativa,
realizada nesta terça-feira (31/8/04). Seu presidente, o deputado
Laudelino Augusto (PT), ofereceu respaldo político às ações técnicas
que visam modificar a instrução normativa, tendo em vista os mil
quilômetros que separam o Sul infectado da região do Jaíba e do
Gorutuba, a maior produtora de bananas do Estado. Lucas Rocha
Carneiro, da Secretaria de Estado da Agricultura, sugere que a área
de quarentena seja fixada num determinado raio em torno do foco, e
não pelas fronteiras estaduais.
A chegada da sigatoka negra, um mal asiático que
infectou os bananais da América Central e desceu até o norte da
Amazônia, já vem preocupando os deputados estaduais desde 1999. Um
alerta de que já estaria em São Paulo foi feito numa reunião da
Comissão da Fruticultura em 22 de junho último pelo representante da
Federação da Agricultura de Minas Gerais, Pierre Vilela, e
confirmada por Pedro Hartung, do Instituto Mineiro de
Agropecuária.
Vilela cobrou dos governos estadual, federal e
municipais a formação de uma força-tarefa para impedir a doença de
chegar à Zona da Mata, ao Vale do Rio Doce e ao Norte de Minas. "A
banana é a segunda cultura mais plantada no Brasil. Os R$ 4 milhões
anunciados pelo governo federal para o combate não são suficientes".
Hartung relacionou as medidas que podem ser
tomadas, como a erradicação de bananais abandonados. Esclareceu que
não se trata de incinerar plantações domésticas, mas plantios
comerciais abandonados. "Temos 39 mil hectares de plantios
comerciais, e dentre eles alguns abandonados por seus donos, que se
tornam fonte de propagação de doenças e devem ser erradicados. A
substituição por variedades resistentes, que viriam de Honduras, foi
criticada por Pierre Vilela, porque não atenderiam ao paladar
brasileiro.
Praga dos algodoais e praga dos bananais
A deputada Ana Maria Resende (PSDB) lamentou que,
mais uma vez, o produtor do Norte de Minas tivesse que pagar pela
incapacidade dos governos de fazer uma defesa sanitária vegetal
eficiente, como aconteceu nos anos 80 com a praga do besouro bicudo
que dizimou os algodoais da região.
Adriana Prado Bicalho, da Delegacia do Ministério
da Agricultura, tentou minimizar os danos causados pela praga,
revelando que, na Amazônia, onde se instalou há seis anos, a
sigatoka não obrigou nenhum produtor a desistir da atividade. "Eles
aprenderam a conviver com o fungo ou a cultivar variedades
resistentes. Não plantam banana-prata, que é a mais suscetível". A
recomendação de Adriana é evitar ou retardar ao máximo a chegada ao
Norte de Minas, mas levantou uma hipótese otimista de que o fungo
talvez não prospere tanto naquele clima quente e seco, diferente da
umidade da Amazônia e do frio das serras do Sul. "É possível que o
preço da banana suba em todo o país e que o produtor norte-mineiro
fique em vantagem", arriscou.
Laudelino Augusto quis saber se a banana infectada
pela sigatoka seria prejudicial ao consumo humano. Pedro Hartung
negou categoricamente. "A doença é das folhas da bananeira e não
afeta o fruto, que pode ser consumido normalmente", informou,
esclarecendo também ao deputado que não é possível prever quanto
tempo levaria a doença para se propagar e trazer prejuízos
irreversíveis à fruticultura norte-mineira.
Ao final da reunião, o presidente Laudelino Augusto
anunciou que a comissão visitou, em Rio Pomba, um cultivar do Cefet
que tinha produzido 5 mil mudas de banana resistente à doença.
Anunciou também que numa visita à Ruralminas, o presidente Eduardo
Brandão anunciou que está próxima a solução para a titulação das
terras do Jaíba. Em outra visita à Advocacia Geral do Estado,
recebeu notícia dos esforços para a liberação da formação dos fundos
de aval para o Jaíba. Essas demandas haviam sido colocadas para a
comissão na reunião realizada em Mocambinho, no dia 2 de agosto.
Os próximos compromissos da Comissão da
Fruticultura serão nesta quarta-feira em Caldas, onde os deputados
visitam projetos de vitivinicultura para vinhos finos. Na quinta
estarão em Pirapora, para ver os bem-sucedidos plantios de uva de
mesa em terras irrigadas.
Presenças: Deputado
Laudelino Augusto (PT), presidente; deputada Ana Maria Resende
(PSDB). Além das autoridades citadas, participaram da reunião também
Manoel Xavier e Roberto Kazuhiko Zito, da Epamig; Rubens Ramalho
Sobrinho, da Emater; e Cláudio Wagner, coordenador técnico de
Agronegócios do Sebrae.
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