Diretores da Cafepoços negam desaparecimento de café
Dirigentes da Cooperativa dos Cafeicultores de
Poços de Caldas (Cafepoços) negaram, durante reunião da CPI do Café
da Assembléia Legislativa nesta quinta-feira (26/8/04), o
desaparecimento de 84 mil sacas de café de seus armazéns. Segundo o
presidente da cooperativa, Luiz Alfredo de Almeida, essa quantidade
de café foi utilizada para pagar despesas da entidade. O
ex-presidente da Cafepoços, Jaime Junqueira Payne, responsável pela
decisão, garantiu que todas as sacas utilizadas na operação foram
contabilizadas.
Uma das mais antigas cooperativas de cafeicultores
de Minas Gerais, a Cafepoços enfrentou, nos anos 90, uma grave crise
financeira, que culminou com um prejuízo de R$ 3,5 milhões, que está
sendo rateado entre os seus 680 cooperados. O presidente da CPI,
deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL), que é associado da
Cafepoços, contabiliza 700 sacas de prejuízo e recebeu uma cobrança
de R$ 20 mil para cobrir o rombo da cooperativa. Por conta de seu
envolvimento pessoal no caso, o deputado passou a presidência dos
trabalhos da comissão para o deputado Sargento Rodrigues (PDT).
O ex-presidente da Cafepoços e ex-diretor
financeiro da Cafecredi, Jaime Junqueira Payne, explicou os motivos
que levaram a cooperativa à beira da falência. Ele atribui a crise a
problemas operacionais da cooperativa, que chegou à década de 90 com
armazéns cheios de goteiras, máquinas de beneficiamento obsoletas e
sistema de informática ultrapassado. De acordo com ele, a média de
recepção da Cafepoços, em torno de 250 mil sacas por ano, era
suficiente para manter a cooperativa durante a alta do café. Mas em
2001, quando os preços do café caíram pela metade e a safra encolheu
na mesma proporção, o faturamento da Cafepoços foi reduzido a um
quarto do inicialmente previsto para aquele ano, o que agravou ainda
mais a sua crise.
Software dá prejuízo de R$ 1,5 mi
Mas a conjuntura econômica dos últimos anos não foi
a única responsável pelos prejuízos da Cafepoços. O atual presidente
da cooperativa, Luiz Alfredo de Almeida, informou aos deputados que
a utilização errada de um software para comercialização de café
durante um ano causou um prejuízo de R$ 1,5 milhão, durante a gestão
de Jaime Junqueira Payne. A informação deixou os deputados
espantados, já que a atual diretoria não tomou nenhuma providência
para apurar os motivos da utilização equivocada do programa de
computador.
Também na gestão de Payne, a Cafepoços acumulou
prejuízo de R$ 1,5 milhão com operações na Bolsa de Mercadorias e
Futuros, transação proibida para cooperativas. O deputado Rogério
Correia (PT) enumerou as diversas irregularidades cometidas pela
administração da Cafepoços. A cooperativa teria aplicado
indevidamente R$ 506 mil de um empréstimo de R$ 1,5 milhão do
Funcafé. Teria emprestado cerca de R$ 800 mil a dois cooperados
recém-admitidos, contrariando a legislação de cooperativas de
produção. Cerca de 1,5 mil sacas de café com notas frias teriam sido
utilizadas para quitar a dívida de um cooperado, sem autorização da
assembléia geral. Auditorias com ressalvas aos balanços da
cooperativa teriam sido maquiadas, membros da diretoria teriam
recebido bonificações e comissões sobre a venda de fertilizantes e
centenas de pequenos produtores teriam sido lesados com a compra de
café com deságio de até 50%.
Todas essas irregularidades estão sendo apuradas
pela Polícia Civil em um inquérito que tramita em segredo de
Justiça, sob responsabilidade do delegado Bráulio Stivanin Júnior.
Ele e o perito criminalista Paulo Roberto Alves prestaram
informações a portas fechadas sobre o andamento das investigações. A
nova administração da Cafepoços, que assumiu em maio de 2003, é
acusada de acobertar todos os problemas da gestão anterior e dividir
os prejuízos com os cooperados.
Cafecredi tem prejuízo de R$ 4 mi
A Cafecredi, cooperativa de crédito ligada à
Cafepoços, também acumula prejuízos, estimados em R$ 4 milhões. O
rombo se acumulou entre 2001 e 2003, quando o seu diretor financeiro
era o então presidente da Cafepoços, Jaime Junqueira Payne. O
presidente da cooperativa de crédito nesse período, Manoel Barbosa
Junqueira, disse ter pouca familiaridade com os problemas
financeiros da entidade, "por não ser especialista e confiar no
gerenciamento do corpo técnico". Barbosa foi beneficiário de dois
empréstimos de cerca de R$ 150 mil da Cafecredi, e seus dois filhos
tomaram outros R$ 95 mil emprestados da cooperativa. Ele confirmou
para os deputados que a Crediminas, entidade que fiscaliza o
funcionamento das cooperativas no Estado, apresentou auditoria
condenando esses empréstimos.
As irregularidades da Cafecredi não param por aí. A
entidade também funcionou como factoring, "comprando" cheques
pré-datados com deságio de até 11%. Um dos principais beneficiários
desse esquema foi o cooperado Paulo Afonso Gomes, que também era
dono de uma farmácia e de uma distribuidora de medicamentos. Como
muitos cheques não tinham fundos, o empresário teve que vender duas
de suas fazendas para cobrir parte do rombo. Outros R$ 390 mil que
ele devia à Cafecredi foram cobertos por um empréstimo concedido
pela Cafepoços, autorizado por Jaime Junqueira Payne. Ele não teve
condições de pagar o empréstimo e o prejuízo da Cafecredi foi
transferido para a Cafepoços. "As duas cooperativas têm ligações
estreitas, e o bom funcionamento de uma é importante para a outra",
justificou Payne.
Paulo Afonso Gomes também é acusado de envolver sua
esposa, Patrícia Helena Costa Gomes, seu irmão, Moacyr Gomes Nabo
Filho, e sua cunhada, Rita de Lourdes Gomes, num esquema de
"laranjas". Ele admitiu movimentar as contas de seus familiares na
Cafecredi para não extrapolar o limite de movimentação permitido
para sua própria conta. Transferências entre as contas, por exemplo,
eram feitas sem o conhecimento dos titulares, fato confirmado pelos
depoimentos do irmão, da esposa e da cunhada de Paulo Afonso. Ele se
esquivou de responder quem autorizava as transações irregulares,
limitando-se a dizer que os gerentes da Cafecredi sabiam de
tudo.
O gerente da Cafecredi nessa época era Fábio
Fernando Garcia Marques, que foi trabalhar na farmácia de Paulo
Afonso após ser demitido da cooperativa. Paulo Afonso Gomes já ficou
preso por seis meses em São Paulo por envolvimento em receptação de
carga roubada. Atualmente, ele é alvo de outro inquérito em Poços de
Caldas pelo mesmo motivo. A investigação já foi concluída e remetida
ao Ministério Público para o oferecimento de denúncia e abertura de
processo contra o empresário.
R$ 480 mil desviados da Cafepoços
Os deputados também apuraram o desvio de R$ 480 mil
da Cafepoços. Segundo o deputado Rogério Correia, o dinheiro foi
transferido para a Cafecredi por meio de um documento de compensação
emitido pela Link Corretora, distribuído em 16 contas de cooperados.
Um deles, o cafeicultor José Carlos Chioda, aparece como
beneficiário de R$ 24 mil, mas ele nunca teve conta na
Cafecredi.
O deputado Rogério Correia citou o relatório de uma
auditoria realizada pela Crediminas que aponta o depósito de R$ 112
mil desse dinheiro na conta de Jaime Junqueira Payne na Cafecredi em
setembro de 2000. Sua mãe, Maria Clara Junqueira, que tem duas
contas na Cafecredi que Payne movimenta por procuração, também
aparece como beneficiária do esquema. O outro principal beneficiário
foi Paulo Afonso Gomes.
Segundo o deputado, o relatório diz que a operação
da Link Corretora só foi possível graças à atuação de Payne, que era
diretor financeiro da cooperativa de crédito nessa época.
Questionado pelos deputados, Payne disse desconhecer a operação e
não soube explicar como ela pode ter acontecido. Payne também disse
que Paulo Afonso Gomes mentiu ao dizer que a diretoria da Cafecredi
autorizava as movimentações das contas de seus "laranjas".
Secretário parlamentar do deputado federal Silas
Brasileiro (PMDB-MG), que assumiu a Secretaria de Estado de
Agricultura recentemente, Payne havia conseguido um salvo-conduto
que lhe dava o direito de permanecer calado na reunião e não
responder a perguntas que pudessem lhe prejudicar. O deputado
Sargento Rodrigues, no entanto, impetrou recurso junto ao Tribunal
de Justiça e conseguiu anular a decisão da 5a Vara
Criminal de Belo Horizonte. O depoimento de Payne foi encerrado
pouco antes de uma hora da manhã de sexta-feira, após quase 13 horas
de reunião.
Requerimentos aprovados
do deputado Adalclever Lopes (PMDB):
* pedindo cópia das declarações de Imposto de Renda
de Paulo Afonso Gomes e dos talonários de notas fiscais de suas
empresas entre os anos de 1999 e 2003;
do deputado Rogério Correia:
* solicitando cópia do contrato firmado entre a
Cafepoços e a empresa de informática que lhe vendeu o software
responsável pelo prejuízo de R$ 1,5 milhão
* convidando o responsável pela auditoria da
Crediminas na Cafepoços, Alex Polvanik, a prestar depoimento;
* pedindo à Polícia Federal que impeça a saída de
Jayme Junqueira Payne do País antes do final dos trabalhos da
CPI;
* intimando o gerente da agência do Banco do Brasil
em São Sebastião do Paraíso, Josiel Carneiro, a comparecer à
comissão;
do deputado Domingos Sávio (PSDB):
* pedindo à Cafecredi informações sobre os
depósitos realizados no dia 6 de março de 2001 sobre os
beneficiários do documento de compensação de R$ 480 mil;
do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB):
* convidando o delegado Braúlio Stivanin a
participar de todas as reuniões da comissão relativas às
investigações sobre as irregularidades da Cafepoços;
do deputado Sargento Rodrigues:
* pedindo à presidência do Banco do Brasil
agilidade para enviar os documentos solicitados pela Justiça em
Poços de Caldas;
* intimando Fábio Bengtsson, Fábio Fernando Garcia
Marques e Rogério Marcassa a prestarem depoimento à comissão;
* para que o juiz de Poços de Caldas peça auditoria
nas contas de Jaime Junqueira Payne, Paulo Afonso Gomes, Patrícia
Helena Costa Gomes, Rita de Lourdes Gomes e Moacyr Gomes Nabo Filho;
* para fazer uma acareação entre Jayme Junqueira
Payne e Paulo Afonso Gomes;
* pedindo que o juiz de Poços de Caldas decrete a
indisponibilidade dos bens de Jayme Junqueira Payne, Maria Clara
Junqueira e Paulo Afonso Gomes;
do deputado Sebastião Navarro Vieira:
* pedindo que a reunião do dia 2 de setembro seja
antecipada para 31 de agosto
do deputado Rêmolo Aloise (PL):
* pedindo que o gerente de inspetoria da
Crediminas, Marcos Vinícius Francisco, e o presidente da entidade,
Eli de Oliveira Penido, sejam convidados a prestar esclarecimentos à
comissão.
Presenças - Deputados
Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente; Sargento Rodrigues
(PDT), vice; Adalclever Lopes (PMDB), Domingos Sávio (PSDB), Rêmolo
Aloise (PL), Rogério Correia (PT), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB),
Ermano Batista (PSDB), Dilzon Melo (PTB) e Fábio Avelar (PTB).
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