Empresários de Uberaba debatem soluções para falta de
madeira
Programas de fomento, investimento na
agrossilvicultura, criação de um fundo financiador para o plantio de
florestas e incentivos fiscais. Essas foram algumas das sugestões
apresentadas pelos participantes da audiência pública da Comissão
Especial da Silvicultura da Assembléia Legislativa realizada em
Uberaba, para solucionar o principal problema do setor moveleiro - o
crescente déficit na oferta de madeira. A audiência desta
sexta-feira (20/8/04) foi a última realizada pela comissão, que
marcou para o dia 31 de agosto a apresentação do relatório final de
suas atividades.
Antes da reunião, que aconteceu na Universidade de
Uberaba, os deputados Paulo Piau (PP), presidente da comissão; Célio
Moreira (PL), relator; e Adelmo Carneiro Leão (PT) visitaram três
empresas da cidade - a Zago, fábrica de estrutura familiar,
produtora de móveis de madeira maciça, de aglomerados e de MDF
(media density fiber) que exporta para Itália, Espanha,
França e Estados Unidos; a Sauder, multinacional que produz móveis
de aglomerados, inaugurada no último dia 17; e a Satipel, empresa
produtora de aglomerado, que fornece matéria-prima para as duas
anteriores.
A Zago foi criada em 1939 por seis irmãos, netos de
imigrantes italianos. A empresa, que começou a exportar em 1990,
vende para fora do Brasil, por mês, dois mil metros cúbicos de
madeira em peças. A Zago exporta peças para projetos que já vêm
prontos, não desenvolvendo design. Segundo Paulo Zago, um dos
proprietários da empresa, 50% do processo é artesanal. A fábrica
emprega 25 funcionários e a serraria, 150.
Sauder - A Sauder de
Uberaba é a primeira unidade industrial da empresa fora dos Estados
Unidos. De acordo com o gerente administrativo-financeiro Renato
Bueno, a empresa quer atender o mercado nacional e a América Latina
e, posteriormente, ampliar as exportações para Europa e Ásia.
Diferentemente da Zago, a empresa trabalha com linha de produção e
não produz sob encomenda. A fábrica de Uberaba gera 50 empregos
diretos e 150 indiretos.
De acordo com o assessor da presidência da Satipel,
César Reis, que monitorou os deputados durante a visita à fábrica, o
eucalipto é totalmente aproveitado durante o processo de fabricação
do aglomerado. A casca é queimada e serve como combustível para as
caldeiras que processam a madeira que será transformada nos painéis
de aglomerado. A Satipel, que emprega 250 funcionários na fábrica de
aglomerado, 50 na floresta e 500 terceirizados, é considerada uma
das mais modernas fábricas do mundo nesse setor. Os maiores
compradores da empresa são os estados de São Paulo e Espírito Santo,
norte do Paraná e sul de Minas.
Satipel está preocupada com o futuro
Durante a audiência pública, o gerente florestal da
Satipel, José Marcos Freitas, apresentou o programa de fomento que
vem sendo desenvolvido pela empresa. "Hoje, extraímos matéria-prima
das nossas duas unidades florestais e somos auto-suficientes, mas no
futuro não seremos", afirmou. Pelo programa, que pode ser executado
em duas modalidades, o produtor recebe mudas, ou mudas e adubos, e
paga à Satipel em produção (em cerca de sete anos). A Satipel é, por
contrato, a compradora prioritária da madeira, que pode ser vendida
a outros compradores também, por preço de mercado. Apesar das
facilidades garantidas ao produtor, em Uberaba, o programa ainda não
teve adesões.
O deputado Adelmo Carneiro Leão defendeu uma
política de silvicultura que permita aos produtores, sobretudo aos
pequenos proprietários, aguardarem os sete anos até poderem retirar
o lucro que a produção madeireira pode gerar. O deputado Paulo Piau
(PP) lembrou a experiência da agrossilvicultura adotada pela
Votorantim em Vazante, onde o cultivo do eucalipto convive com as
pastagens. Segundo ele, essa é uma experiência bem-sucedida que
possibilita ao produtor conciliar duas atividades enquanto espera a
época da colheita da madeira.
Oferta cresce menos que demanda
Ana Luísa Mota, do Instituto Estadual de Florestas
(IEF), reafirmou que a oferta de madeira cresce em desproporção com
o crescimento da demanda. Segundo ela, o Brasil consome 400 mil
hectares de madeira por ano. Minas Gerais é o Estado que tem a maior
área plantada de eucalipto, mas a produção caiu 20% nos últimos
cinco anos. Ana Luísa também citou o artigo 5º da Lei estadual
14.309, de 2002, que dispõe que o poder público criará mecanismos de
fomento a florestamento e reflorestamento com os objetivos, entre
outros, de favorecer o suprimento e o consumo de madeira e minimizar
o impacto da exploração e da utilização das formações vegetais
nativas.
Vocação moveleira comprovada
César Reis, da Satipel, informou que a empresa gera
1.500 empregos diretos e indiretos com o fornecimento de madeira
para outras empresas. Segundo ele, a vocação madeireira e moveleira
de Minas Gerais é comprovada pela volume de madeira plantada. "No
entanto, o Estado é responsável por apenas 7% da produção nacional e
12% do consumo de móveis. Somos exportadores de madeira e
importadores de móveis", afirmou. César Reis acredita que o pólo
moveleiro do Triângulo Mineiro só se consolidará com a implantação
de indústrias de transformação ao seu redor. César Reis disse também
que em Uberaba existem 200 fábricas de móveis e, em Uberlândia,
470.
Para o diretor da Associação Comercial e Industrial
de Uberaba (Aciu), Víctor Aragão Netto, mais do que reunir um grande
número de empresas, para ser um pólo é importante que a cidade tenha
volume de produção. "Uberaba não é um pólo moveleiro, mas tem
vocação para o setor", afirmou. Segundo o diretor da Aciu, a cidade
será um pólo quando outras empresas começarem a olhar com interesse
para a região por causa de sua estrutura.
O diretor de Operações da Sauder, Luiz Gustavo
Pasqualini, afirmou que o setor moveleiro convive com vários
desafios, como o de produzir móveis de qualidade. Ele afirmou que o
aglomerado é um produto ecologicamente correto, mas que foi mal
introduzido no Brasil. O deputado Paulo Piau defendeu a necessidade
de informar os produtores e consumidores sobre os mitos criados
sobre o eucalipto. Segundo ele, o preconceito vem da época dos
incentivos fiscais para a produção do eucalipto, quando não foi
usada a técnica adequada para se obter um produto de qualidade.
O deputado Adelmo Carneiro Leão criticou a
destruição do cerrado e falou da necessidade do aproveitamento
sustentável das florestas.
Presenças - Deputados
Paulo Piau (PP), presidente; Célio Moreira (PL), relator; e Adelmo
Carneiro Leão (PT). Também participaram da audiência, além dos
citados na matéria, o secretário executivo da Associação Mineira de
Silvicultura, José Batuíra de Assis; e Marcelo Palmério, reitor da
Universidade de Uberaba (Uniube).
|