Empresários de Uberaba debatem soluções para falta de madeira

Programas de fomento, investimento na agrossilvicultura, criação de um fundo financiador para o plantio de florestas ...

23/08/2004 - 16:40
 

Empresários de Uberaba debatem soluções para falta de madeira

Programas de fomento, investimento na agrossilvicultura, criação de um fundo financiador para o plantio de florestas e incentivos fiscais. Essas foram algumas das sugestões apresentadas pelos participantes da audiência pública da Comissão Especial da Silvicultura da Assembléia Legislativa realizada em Uberaba, para solucionar o principal problema do setor moveleiro - o crescente déficit na oferta de madeira. A audiência desta sexta-feira (20/8/04) foi a última realizada pela comissão, que marcou para o dia 31 de agosto a apresentação do relatório final de suas atividades.

Antes da reunião, que aconteceu na Universidade de Uberaba, os deputados Paulo Piau (PP), presidente da comissão; Célio Moreira (PL), relator; e Adelmo Carneiro Leão (PT) visitaram três empresas da cidade - a Zago, fábrica de estrutura familiar, produtora de móveis de madeira maciça, de aglomerados e de MDF (media density fiber) que exporta para Itália, Espanha, França e Estados Unidos; a Sauder, multinacional que produz móveis de aglomerados, inaugurada no último dia 17; e a Satipel, empresa produtora de aglomerado, que fornece matéria-prima para as duas anteriores.

A Zago foi criada em 1939 por seis irmãos, netos de imigrantes italianos. A empresa, que começou a exportar em 1990, vende para fora do Brasil, por mês, dois mil metros cúbicos de madeira em peças. A Zago exporta peças para projetos que já vêm prontos, não desenvolvendo design. Segundo Paulo Zago, um dos proprietários da empresa, 50% do processo é artesanal. A fábrica emprega 25 funcionários e a serraria, 150.

Sauder - A Sauder de Uberaba é a primeira unidade industrial da empresa fora dos Estados Unidos. De acordo com o gerente administrativo-financeiro Renato Bueno, a empresa quer atender o mercado nacional e a América Latina e, posteriormente, ampliar as exportações para Europa e Ásia. Diferentemente da Zago, a empresa trabalha com linha de produção e não produz sob encomenda. A fábrica de Uberaba gera 50 empregos diretos e 150 indiretos.

De acordo com o assessor da presidência da Satipel, César Reis, que monitorou os deputados durante a visita à fábrica, o eucalipto é totalmente aproveitado durante o processo de fabricação do aglomerado. A casca é queimada e serve como combustível para as caldeiras que processam a madeira que será transformada nos painéis de aglomerado. A Satipel, que emprega 250 funcionários na fábrica de aglomerado, 50 na floresta e 500 terceirizados, é considerada uma das mais modernas fábricas do mundo nesse setor. Os maiores compradores da empresa são os estados de São Paulo e Espírito Santo, norte do Paraná e sul de Minas.

Satipel está preocupada com o futuro

Durante a audiência pública, o gerente florestal da Satipel, José Marcos Freitas, apresentou o programa de fomento que vem sendo desenvolvido pela empresa. "Hoje, extraímos matéria-prima das nossas duas unidades florestais e somos auto-suficientes, mas no futuro não seremos", afirmou. Pelo programa, que pode ser executado em duas modalidades, o produtor recebe mudas, ou mudas e adubos, e paga à Satipel em produção (em cerca de sete anos). A Satipel é, por contrato, a compradora prioritária da madeira, que pode ser vendida a outros compradores também, por preço de mercado. Apesar das facilidades garantidas ao produtor, em Uberaba, o programa ainda não teve adesões.

O deputado Adelmo Carneiro Leão defendeu uma política de silvicultura que permita aos produtores, sobretudo aos pequenos proprietários, aguardarem os sete anos até poderem retirar o lucro que a produção madeireira pode gerar. O deputado Paulo Piau (PP) lembrou a experiência da agrossilvicultura adotada pela Votorantim em Vazante, onde o cultivo do eucalipto convive com as pastagens. Segundo ele, essa é uma experiência bem-sucedida que possibilita ao produtor conciliar duas atividades enquanto espera a época da colheita da madeira.

Oferta cresce menos que demanda

Ana Luísa Mota, do Instituto Estadual de Florestas (IEF), reafirmou que a oferta de madeira cresce em desproporção com o crescimento da demanda. Segundo ela, o Brasil consome 400 mil hectares de madeira por ano. Minas Gerais é o Estado que tem a maior área plantada de eucalipto, mas a produção caiu 20% nos últimos cinco anos. Ana Luísa também citou o artigo 5º da Lei estadual 14.309, de 2002, que dispõe que o poder público criará mecanismos de fomento a florestamento e reflorestamento com os objetivos, entre outros, de favorecer o suprimento e o consumo de madeira e minimizar o impacto da exploração e da utilização das formações vegetais nativas.

Vocação moveleira comprovada

César Reis, da Satipel, informou que a empresa gera 1.500 empregos diretos e indiretos com o fornecimento de madeira para outras empresas. Segundo ele, a vocação madeireira e moveleira de Minas Gerais é comprovada pela volume de madeira plantada. "No entanto, o Estado é responsável por apenas 7% da produção nacional e 12% do consumo de móveis. Somos exportadores de madeira e importadores de móveis", afirmou. César Reis acredita que o pólo moveleiro do Triângulo Mineiro só se consolidará com a implantação de indústrias de transformação ao seu redor. César Reis disse também que em Uberaba existem 200 fábricas de móveis e, em Uberlândia, 470.

Para o diretor da Associação Comercial e Industrial de Uberaba (Aciu), Víctor Aragão Netto, mais do que reunir um grande número de empresas, para ser um pólo é importante que a cidade tenha volume de produção. "Uberaba não é um pólo moveleiro, mas tem vocação para o setor", afirmou. Segundo o diretor da Aciu, a cidade será um pólo quando outras empresas começarem a olhar com interesse para a região por causa de sua estrutura.

O diretor de Operações da Sauder, Luiz Gustavo Pasqualini, afirmou que o setor moveleiro convive com vários desafios, como o de produzir móveis de qualidade. Ele afirmou que o aglomerado é um produto ecologicamente correto, mas que foi mal introduzido no Brasil. O deputado Paulo Piau defendeu a necessidade de informar os produtores e consumidores sobre os mitos criados sobre o eucalipto. Segundo ele, o preconceito vem da época dos incentivos fiscais para a produção do eucalipto, quando não foi usada a técnica adequada para se obter um produto de qualidade.

O deputado Adelmo Carneiro Leão criticou a destruição do cerrado e falou da necessidade do aproveitamento sustentável das florestas.

Presenças - Deputados Paulo Piau (PP), presidente; Célio Moreira (PL), relator; e Adelmo Carneiro Leão (PT). Também participaram da audiência, além dos citados na matéria, o secretário executivo da Associação Mineira de Silvicultura, José Batuíra de Assis; e Marcelo Palmério, reitor da Universidade de Uberaba (Uniube).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715