Produtores de abacaxi pedem mais facilidade para
financiamentos
A necessidade
de ajuda na comercialização e de facilidades no financiamento da
produção foram as principais reivindicações ouvidas pelos deputados
da Comissão Especial da Fruticultura da Assembléia Legislativa
durante audiência pública realizada na cidade de Monte Alegre de
Minas, no Triângulo Mineiro, nesta quinta-feira (19/8/04). A reunião
foi solicitada pelos deputados Ricardo Duarte (PT) e Luiz Humberto
Carneiro (PSDB) e presidida pelo deputado Laudelino Augusto (PT).
Eles destacaram a intenção de conhecer as necessidades dos
produtores para que a comissão possa contribuir com o Executivo,
apontando caminhos para a elaboração de políticas públicas de
desenvolvimento da hortifruticultura no Estado.
Monte Alegre é
responsável por 38% da produção nacional de abacaxi e 60% da
produção de Minas Gerais, sendo considerada a capital nacional da
fruta. No entanto, segundo dados fornecidos pelos produtores, a
atividade, que empregava 2.500 pessoas há dez anos, hoje envolve em
torno de 300 produtores. "Nós sabemos produzir, mas temos
dificuldades na comercialização do abacaxi", afirmou o
vice-presidente da Associação dos Hortifruticultores de Monte Alegre
de Minas, Edvaldo Alves. Ele informou que a associação foi criada há
cerca de dois anos na tentativa de organizar os produtores e buscar
soluções para a venda da mercadoria. Edvaldo Alves disse que os
produtores são freqüentemente vítimas de calores, entregando o
abacaxi e não recebendo pelo produto.
Ele apontou como outra
dificuldade no comércio da fruta a exigência de regularidade de
oferta da mercadoria. "Estamos tentando atender a essa exigência das
indústrias, mas para aumentarmos a produção, precisamos de mais
recursos. No entanto, para conseguirmos financiamentos em agências
financeiras, temos que oferecer garantias reais", afirmou. Segundo
ele, a maior parte dos produtores da região são arrendatários e não
têm como oferecer as garantias exigidas para
empréstimos.
Recursos não chegam a tempo
A demora para a liberação de recursos foi destacada
por outro produtor, o presidente da Cooperativa de Produtores de
Canápolis (Coopac), Hélio Silva. "O que emperra a produção são os
custos para se tocar o projeto. Os repasses demoram e a lavoura não
pode ficar esperando as decisões do governo", explicou.
O gerente do
Banco do Brasil em Monte Alegre, Gustavo Velásquez Santos, falou aos
deputados sobre uma modalidade de financiamento oferecida pelo banco
que supriria a dificuldade dos produtores em relação às garantias
reais: o Convir. Gustavo Santos explicou que, pelo "Convênio de
Integração", como é conhecido, a agroindústria escolhe os produtores
que serão seus fornecedores e apresenta as garantias por eles. O
Banco do Brasil não se envolve na negociação dos valores e fornece o
capital para os produtores, por meio do Pronaf, do BNDES ou de
outras linhas de crédito.
Mas, segundo o
gerente, em Monte Alegre de Minas existem apenas duas indústrias do
gênero. Ele disse ainda que o banco pretende agora incentivar outras
empresas a se instalarem no município. "Temos linhas de crédito
especiais para isso também. Mas oferecer incentivos fiscais que
atraiam essas indústrias não nos diz respeito", concluiu.
Cristiano Gouveia, da
Coopac, citou experiência que vem sendo adotada em Campos, no Estado
do Rio de Janeiro. Segundo ele, lá as indústrias compram metade da
produção de frutas dos produtores, deixando a outra metade em
aberto. O Estado é quem está financiando esses
produtores.
Gerenciamento -
Mais que de recursos, para Augusmar Gouveia Gomide, do Centro
Regional de Inovação e Informação em Fruticultura (Criif), os
produtores precisam de formação para gerenciar seu negócio. Segundo
ele, são necessários qualidade, financiamento, respeito ao meio
ambiente e organização social. "Uma coisa leva à outra. Para se ter
qualidade é preciso financiamento. Para se produzir com respeito ao
meio ambiente o produtor precisa estar organizado", concluiu.
Quanto às garantias
reais exigidas pelos bancos, Gomide destacou que o mercado de frutas
é instável devido à perecividade da produção e ao preço oscilante no
mercado. "Apesar disso, a inadimplência dos produtores de frutas
junto aos agentes financeiros é muito pequena", afirmou. Os
produtores também destacaram que a produção de frutas não pode ser
tratada como a "cultura branca" (grãos) na hora de se obter o
financiamento.
Vantagens e dificuldades
Waldir Vicente dos Santos,
da Emater de Uberlândia, apresentou um histórico da fruticultura no
Estado, apontando o que considera fatores inibidores e propulsores
para o desenvolvimento do setor no Triângulo Mineiro. De acordo com
ele, a assistência técnica, pesquisa, organização social e condições
sanitárias ainda são insuficientes. Além disso, segundo o técnico, o
arrendamento faz com que o produtor não adote tecnologia plena no
plantio, por não ser o dono da terra. Waldir dos Santos também
afirmou que a uniformização na maturação do abacaxi provoca queda de
qualidade do produto.
Os
participantes da audiência foram unânimes em parabenizar a Comissão
da Fruticultura pela iniciativa do debate. "É muito importante que
os deputados venham às bases ouvir as reivindicações, conhecer a
realidade", disse o técnico da Emater de Monte Alegre, Adélio Braz
Tinoco. A iniciativa também foi saudada por outro técnico da
empresa, Waldir Vicente dos Santos: "Em 33 anos de extensão rural,
nunca havia visto um trabalho assim", elogiou.
Deputados acreditam em potencial de crescimento do
setor
O presidente da
comissão, deputado Laudelino Augusto (PT), disse que o trabalho da
comissão está superando as expectativas. "Em cada visita que fazemos
cresce a certeza de que o potencial produtivo de Minas é grande. O
que falta é incentivo dos governos estadual e municipais", afirmou.
O deputado Ricardo Duarte (PT) também destacou o potencial da
fruticultura no Estado. "A expansão da fruticultura no norte do
Estado do Rio de Janeiro foi alavancada pela contribuição de
técnicos mineiros da Emater. Temos conhecimento e técnica até para
exportar. Precisamos de incentivo para usá-los aqui",
defendeu.
O deputado Luiz
Humberto Carneiro (PSDB) comentou uma visita que fez à Itália, onde
são gastos muitos recursos para preparar o terreno e irrigar a
produção de determinadas frutas e ainda assim a atividade é muito
rentável: "Nós já temos condições naturais muito propícias e
precisamos aproveitá-las melhor", afirmou. Segundo ele, em Minas
faltam políticas de financiamento sobretudo para a etapa final do
processo de produção.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; Ricardo
Duarte (PT) e Luiz Humberto Carneiro (PSDB). Além dos convidados
citados na matéria, também participaram da reunião Nicodemos Alvim
Guerra, representando a Prefeitura de Monte Alegre; Marilda Prudente
Faria, da Embrapa de Uberlândia; Vicente Artur Sales Dias, da
Secretaria de Agricultura de Araguari; Juraci Miguel de Lima, da
Secretaria de Agricultura de Santa Vitória; e o vereador Nelton
Ferreira de Menezes, vice-presidente da Câmara Municipal de Monte
Verde.
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