Encontro prepara discussão sobre financiamento para
cultura
Os organizadores do Fórum Técnico "Cultura:
política e financiamento", que será realizado na Assembléia
Legislativa, nos dias 30 e 31 de agosto e 1º de setembro, esperam
uma presença maciça de prefeitos e secretários municipais de cultura
no evento, para que a articulação entre União, Estado e Municípios
possa ser bem discutida. Na opinião do secretário adjunto de Estado
da Cultura (SEC), José Osvaldo Guimarães Lasmar, a articulação entre
os entes federados já avançou em áreas como a educação e a saúde,
mas ainda deixa a desejar no campo cultural. O secretário, os
titulares das superintendências da SEC, e de setores ligados à
cultura participaram de reunião no Teatro da Assembléia, nesta
terça-feira (17/8/04). O evento faz parte dos preparativos para o
fórum, e foi aberto pelo presidente da Comissão de Educação,
Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembléia, deputado Adalclever
Lopes (PMDB).
O fórum técnico é uma parceria entre a Assembléia
Legislativa e a Secretaria de Estado da Cultura, com a participação
de diversas entidades e movimentos culturais. As discussões terão
como base a Lei 11.726, de 1994, que dispõe sobre a política
cultural de Minas Gerais. O secretário adjunto acredita que a
legislação estadual precisa mudar em alguns itens, para acompanhar
as mudanças pelas quais a sociedade brasileira tem passado. "O fórum
nos dará oportunidade de sentarmos todos à mesa para debatermos
essas mudanças, e, principalmente, qual a base de financiamento que
temos hoje para a cultura", afirmou.
Bem cultural - O presidente
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
(Iepha/MG), Octávio Elísio Alves de Brito, lembrou que a
Constituição de 1988 ampliou o conceito de "bem cultural", exigindo
de todos uma nova postura em relação ao que deve ser preservado.
"Além dos bens materiais, móveis, foram incluídos bens imateriais
como festas, gastronomia, modos de criar, fazer e viver, sítios
ecológicos e paisagísticos, entre outros", ressaltou. Na opinião de
Octávio Elísio, outra questão urgente é articular as leis de
proteção do patrimônio cultural com as de proteção ao patrimônio
natural.
Bibliotecas e museus contribuem para a educação não
formal
A superintendente de Bibliotecas Públicas, Maria
Augusta da Nóbrega Cesarino, lembrou a época da Inconfidência, em
que a sociedade mineira era conhecida como uma sociedade altamente
letrada. Segundo ela, hoje o Estado tem 121 municípios onde não há
nenhuma biblioteca, nem museu, nem arquivo público, nem banca de
revista. "Outras 100 cidades têm espaços que não podem ser
considerados bibliotecas, pela classificação da Unesco, porque têm
menos de 2.500 livros", afirmou. Maria Augusta também chamou atenção
para o fato de o Brasil inteiro ter menos livrarias do que a cidade
de Buenos Aires, na Argentina.
Na opinião da superintendente, a Lei 11.726 foi
considerada um avanço em 1994 e ainda é boa, mas falta previsão
orçamentária para implementá-la. "Sem isso, ela se torna apenas uma
bela intenção", concluiu. Urgente, segundo Maria Augusta, também é a
contratação de novos profissionais para as bibliotecas, para que os
profissionais consigam otimizar o uso do acervo e incentivar a
leitura. Para ela, é preciso que a lei faça, ainda, uma distinção
clara entre biblioteca pública e biblioteca escolar: "A biblioteca
pública é mais voltada para a formação do cidadão que já saiu da
escola, do que apenas como suporte para aquele que está estudando".
O superintendente de Museus, Rodrigo Faleiro,
lembrou que os museus, assim como as bibliotecas, também são espaços
de lazer e colaboram para a educação não formal dos cidadãos. Na
avaliação dele, o artigo 56 da Lei 11.726 precisa ser revisto para
contemplar todos os tipos de museus existentes hoje.
O deputado Domingos Sávio (PSDB), que deverá
coordenar a plenária final do fórum, no dia 1º de setembro, lembrou
sua luta para adquirir um espaço adequado para a biblioteca
municipal de Divinópolis, quando foi prefeito daquela cidade.
"Sabemos da importância das bibliotecas públicas, mas tudo o que
conseguimos foi alugar um local, àquela época". O deputado Dalmo
Ribeiro Silva lembrou a enorme gama de manifestações culturais que
há no Sul de Minas, e pediu a presença da Comissão de Educação da
Assembléia e das superintendências da SEC naquela região, para
debater e estimular a preservação desse patrimônio.
Especialistas destacam importância de fóruns
regionais
Na parte da tarde do encontro preparatório para o
Fórum Técnico Cultura: Política e Financiamento, coordenada pela
deputado Biel Rocha (PT) e com a participação do deputado Domingos
Sávio, os organizadores debateram a importância da realização dos
fóruns regionais de cultura. O superintendente de Ação Cultural da
SEC, José Eduardo Liboreiro, afirmou que a interiorização é um
mecanismo fundamental para estender as ações da Secretaria em todo o
Estado, rompendo o limite das políticas culturais, hoje restritas
apenas à Capital - "ou à própria região da Avenida do Contorno".
Ele afirmou que a SEC vem trabalhando para chegar
aos locais onde acontece a produção cultural - os municípios, de
forma a diminuir a distância entre eles e o Estado. Exemplos são os
fóruns regionais realizados no Vale do Aço, no ano passado, e em
Juiz de Fora, neste ano. "A sociedade está empenhada, falta
encontrar formas de financiamento. Daí nossa expectativa de que o
Fórum Técnico traga contribuições nesse sentido", disse o
superintendente.
Já o professor da PUC Minas José Márcio Barros
salientou, em sua fala, a importância de se mapear as principais
questões debatidas nesses fóruns regionais para se avançar na
discussão do assunto. Ao apresentar um resumo dos principais itens
discutidos em recentes fóruns, ele destacou alguns aspectos que
considera relevantes: fortalecer os conselhos municipais de cultura,
para possibilitar o atendimento de todas as regiões de Minas e o
controle da sociedade em relação às políticas desenvolvidas;
entender os direitos culturais como integrantes dos direitos
fundamentais do ser humano; e pensar a cultura como um patrimônio
diversificado e complexo, um conjunto de processos materiais e
imateriais. "A cultura gera desenvolvimento humano, talvez da forma
mais integral possível. Esse é o primeiro e mais duradouro superávit
que pode ser gerado", completou.
Grupos de trabalho - Em
seguida, representantes de dois dos três grupos de trabalho que
serão desenvolvidos no Fórum Técnico Cultura: Política e
Financiamento fizeram reflexões sobre os temas relacionados.
Bernardo Mata Machado, da Fundação João Pinheiro, que vai coordenar
o Grupo I, falou sobre o tema "Articulação entre União, Estados e
Municípios". Por outro lado, J. D'Ângelo, do BDMG Cultural, fez uma
exposição sobre o tema "Financiamento da Política Cultural", nome do
Grupo III, que ele coordenará.
Presenças - Participaram da
reunião preparatória os deputados Adalclever Lopes (PMDB); Domingos
Sávio (PSDB), Biel Rocha (PT) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB)
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