Produtores do Vale do Rio Doce só têm elogios ao
eucalipto
Numa exposição preparada especialmente para os
deputados da Comissão de Silvicultura, a Cenibra (Celulose
Nipo-Brasileira S.A.) procurou demonstrar como vem desenvolvendo não
só tecnologia pioneira na produtividade do eucalipto, mas também
relações positivas com a comunidade, através de um programa de
fomento florestal em que 700 fazendeiros do Vale do Rio Doce já
abastecem 10% de sua fábrica. A aprovação a esse programa de
parcerias é unânime entre dezenas de produtores que participaram da
audiência pública ao ar livre realizada nesta sexta-feira
(13/8/2004) na Fazenda Catalão, situada no município de Naque.
Cinco deputados participaram de uma programação
intensiva de visitas preparada pela administração da Cenibra.
Inicialmente, visitaram a fábrica, onde entram diariamente 10 mil
metros cúbicos de toras de eucalipto, para serem descascadas,
trituradas e cozidas, até se transformarem em polpa branqueada de
eucalipto e folha de celulose, que é o produto final. A celulose
alcança no mercado internacional o preço de US$ 490,00, elevando o
faturamento bruto anual da empresa à casa dos US$ 460 milhões.
O gerente da fábrica, Luiz Alberto Tocchetto,
forneceu informações aos deputados sobre o desempenho da empresa,
que é a segunda em produção de celulose no Brasil, atrás apenas da
Aracruz Celulose. Possui uma área total de 232 mil hectares de
terras próprias localizadas em 47 municípios do Leste mineiro. A
Cenibra tem 1.840 funcionários, emprega mais 6.600 trabalhadores
terceirizados em serviços de silvicultura, manutenção e limpeza. A
linha final de produção é toda automatizada.
A empresa produz 940 mil toneladas anuais de
celulose, sendo 94% de sua produção destinada ao mercado externo,
principalmente ao Japão. O restante é vendido no mercado nacional,
sobretudo para a fabricação de papel higiênico, papel-toalha,
guardanapos, cartões e papel de escritório. Ainda na fábrica, os
deputados puderam ver um vídeo empresarial que consolida as ações do
empreendimento e valoriza suas precauções ambientais e o trabalho
social que realiza nas comunidades vizinhas.
Segundo Luiz Alberto Tocchetto, a Cenibra recicla a
soda cáustica utilizada no cozimento e a cal usada no branqueamento
da celulose, e trata toda a água utilizada no processo antes de
devolvê-la ao rio Doce. Também paga ao IGAM pela água perdida na
forma de vapor. Cada 20 toneladas de toras gera uma tonelada de
celulose e outra de combustível para as caldeiras, tornando a
Cenibra auto-suficiente em energia. O restante das cascas e dos
resíduos de cal são transformados em composto para adubação dos
plantios. A empresa permite a entrada de apicultores em seus
eucaliptais e fica com 5% da produção, que são encaminhados para as
escolas e associações comunitárias das vizinhanças.
Viveiro moderno produz 28 milhões de mudas por
ano
Em seguida, os deputados foram conduzidos aos
viveiros de mudas, no município de Belo Oriente, que produzem 28
milhões de mudas por ano. O gerente florestal Germano Aguiar Vieira
esclareceu que, em três décadas de existência, a Cenibra avançou
muito na tecnologia de reprodução do eucalipto, selecionando
espécies até chegar às mais adequadas ao tipo de solo e clima da
região. Hoje trabalha exclusivamente com 14 espécies de clones, em
viveiros de alta tecnologia dispostos como linhas de montagem
industriais. Tanta tecnologia resultou em expressivas economias de
água, de nutrientes e de tempo, fazendo o preço final cair para US$
40,00 o lote de mil mudas.
Essas mudas são usadas no replantio das terras
próprias da empresa - onde já não se usa mais a técnica de rebrota
do eucalipto, porque as novas espécies são mais produtivas - e
também são fornecidas gratuitamente aos fazendeiros que ingressam no
seu programa de fomento florestal. Germano Vieira informa que muitos
desses fazendeiros já estão colhendo a madeira que plantaram nos
últimos sete anos.
"São 700, por enquanto, e o número é crescente.
Inicialmente, nós da Cenibra é que batíamos de porta em porta
propondo que aderissem ao programa. Hoje, eles é que nos procuram, e
não estamos conseguindo atender a todos. Na Finlândia, por exemplo,
são mais de 400 mil os produtores de madeira para as indústrias de
celulose", revelou o gerente.
Eucalipto salvou fazendeiros da insolvência
O compromisso seguinte dos deputados foi na Fazenda
Catalão, município de Naque, com os fazendeiros participantes do
programa de fomento florestal da Cenibra. A audiência pública foi
montada ao ar livre, sob tendas e cajueiros. O deputado Leonardo
Quintão (PMDB) presidiu a reunião, convocando para a mesa o prefeito
de Naque, Albson Alvarenga, os dirigentes da Cenibra, da Emater e da
Associação Brasileira de Silvicultura e passando a palavra aos
produtores, a começar pelo anfitrião, Jamir Mendes Vicente, dono da
Fazenda Catalão.
Jamir Vicente disse que recebia as visitas do
pessoal da Cenibra, mas que só ficou animado a plantar eucalipto em
1999. "Comecei devagar, para adquirir experiência, com 14 hectares.
Depois plantei 24 e hoje estou com 70 hectares. É um bom negócio
para usar terras sem rentabilidade". Rudolph Magalhães, de
Sabinópolis, revelou que muitos fazendeiros de sua região estão
arruinados, vivem de aposentadoria e do leite de duas vacas. Ele
acredita que o eucalipto traz a chuva de volta. "Plantei 14 hectares
onde não dava nem braquiara. Depois mais 28 e mais 34 em 2003.
Difícil é a liberação do IEF para plantar."
Vários produtores que se seguiram atestaram que o
eucalipto é bom negócio. Carmo Antônio de Castro, de São Domingos do
Prata, afirmou que o retorno é melhor que o da agricultura e
pecuária, no que foi apoiado por José Carlos Fernandes, de
Governador Valadares. Luiz Sérgio Furlan, de Peçanha, disse que
"eucalipto aqui é campeão. Nenhum lugar do mundo compete com
Guanhães e Peçanha em produtividade".
Os produtores Odilberto Bezerra, Raimundo Fraga,
Roberto Carlos Alves e Ilsoney da Silva teceram elogios ao apoio
recebido da Cenibra, na forma de mudas, adubo, defensivos,
assistência técnica e também na compra da produção. O deputado
Leonardo Quintão pediu ao gerente Germano Vieira que explicasse como
funcionava o programa de fomento florestal.
Fomento florestal tem duas modalidades
"Temos duas modalidades", informou o gerente. "A
primeira abrange apenas áreas menores, com cerca de 10 hectares.
Damos os clones, adubos, formicida, assistência técnica e uma ajuda
de R$ 400,00 para as primeiras capinas. O segundo modelo é o
empresarial, para glebas de 100 a 200 hectares. Fazemos todo o
financiamento para o preparo do solo, plantio, até o corte. Fazemos
a conversão em metros cúbicos que devem ser repassados à Cenibra,
que paga bonificação de R$ 700,00. Ainda doamos 2% de espécies
nativas para os esforços de recuperação das matas", esclareceu.
Os deputados colocaram outras dúvidas e
observações. Padre João (PT) constatou que não havia queixas contra
o eucalipto nesta região do Estado, como em outras, mas saudou a
iniciativa de utilizar glebas inúteis de pequenas fazendas.
"Qualquer tipo de monocultura traz grande impacto não só para o meio
ambiente, como para o nível de emprego. Os pequenos proprietários
pelo menos não terão essas máquinas de beneficiar o eucalipto, que
desempregam 80 homens cada uma".
Doutor Viana (PFL) criticou o preconceito
estabelecido contra o eucalipto, que secaria a terra, e disse que
esta é uma das razões pelas quais o Brasil importa madeira do
Uruguai. Viana listou ainda as várias utilidades do eucalipto, além
da fabricação de carvão e de celulose, e descreveu os avanços que
viu em Vazante, na última viagem da Comissão, em que o eucalipto era
plantado em consórcio com o arroz no primeiro ano e a soja no
segundo, enriquecendo a cobertura vegetal do solo.
Célio Moreira (PL), relator da Comissão, reafirmou
que Minas está perdendo divisas, e que haveria o risco de um "apagão
verde". Lembrou que vários municípios, por ignorância, estavam
banindo o plantio de eucalipto, e elogiou o relacionamento da
Cenibra com a comunidade. O deputado federal Ivo José (PT), por sua
vez, disse que se sentia feliz de ver "a convivência de parcerias
saudáveis como esta, em que todos participam do desenvolvimento, mas
sem descuidar da responsabilidade para com o meio ambiente".
Ao encerrar a reunião, o deputado Leonardo Quintão
opinou que o fomento é a melhor alternativa para o produtor local e
que aquele exemplo deveria ser transportado para outras regiões.
"Contem conosco para lutar para que o vale do Rio Doce não se
transforme num deserto e para puxar as orelhas de quem precisar",
encerrou. Os deputados aprovaram requerimento do deputado Célio
Moreira pedindo a suspensão dos trabalhos da Comissão durante oito
dias, de 23 a 31 de agosto, para a conclusão do relatório.
Em seguida os deputados atravessaram de balsa o Rio
Doce e foram conhecer a Fazenda Macedônia, em Ipaba, onde a Cenibra
mantém reservas florestais e recupera espécies da fauna em extinção.
Num mirante da fazenda, os deputados puderam admirar os plantios
experimentais de eucalipto e os plantios feitos em parceria com os
produtores vizinhos. Assistiram também ao plantio de mudas numa
encosta, com a injeção de gel que garante umidade às plantas até a
próxima chuva.
Presenças: Deputados
Leonardo Quintão (PMDB), presidente; Célio Moreira (PL), relator;
Padre João (PT), Doutor Viana (PFL), deputado federal Ivo José (PT),
ex-deputado e ex-prefeito de Caeté, Raul Messias Franco.
|