Especialistas afirmam que crescimento atual não é
sustentável
A atual fase de recuperação da economia brasileira
não passa de um "vôo de galinha", sem condições de se sustentar a
longo prazo. A opinião é dos especialistas que participaram da
primeira parte do Ciclo de Debates "10 anos do Plano Real",
realizado na manhã desta sexta-feira (13/8/04) no Plenário da
Assembléia Legislativa. Tanto o presidente da Rosenberg e
Associados, Luís Paulo Rosenberg, quanto o professor emérito da
Universidade de São Paulo, Francisco de Oliveira, criticaram a
execução da política econômica dos governos Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, que tem sido eficaz no combate
à inflação, mas insuficiente para promover o desenvolvimento
sustentável do País.
Para o professor da USP, a projeção de crescimento
em torno de 4% neste ano deve-se exclusivamente ao bom desempenho do
agronegócio, que, segundo ele, tem fôlego curto e não irriga a
economia como um todo. Na opinião de Oliveira, o grande entrave para
o crescimento do País é a elevada taxa de juros, com o que concorda
Rosenberg. "O regime de metas inflacionárias coloca a estabilidade
da moeda acima do bem-estar da população. E com uma carga tributária
de quase 40% do PIB, não tem como crescer", disse o economista, que
apontou também como obstáculo para a retomada a incapacidade do
governo de investir em infra-estrutura.
Concepção e execução do Plano
Embora considere a execução do Plano Real uma
"tragédia", Rosenberg elogiou a concepção do plano em 1994, sob o
comando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, então ministro
da Fazenda do governo Itamar Franco. Para o economista, os mentores
do plano souberam aproveitar a conjuntura econômica favorável para
desindexar a economia e reduzir os gastos públicos, os dois
principais fatores que alimentavam a inflação. A renegociação da
dívida externa, o baixo endividamento do governo e o fim das
reservas de mercado no governo Collor haviam criado um ambiente
econômico competitivo no País.
O problema, na opinião de Rosenberg, foi o que se
seguiu depois: câmbio sobrevalorizado, juros altos e carga
tributária crescente para conter o déficit fiscal do governo FHC,
medidas recessivas que tiveram continuidade no governo Lula. Já para
o professor da USP, o Plano Real já nasceu errado, baseado na
premissa de que o Brasil seria capaz de atrair investimento externo
constante para cobrir o déficit fiscal. "O País fez essa opção
devido ao equívoco teórico de que existe capital circulando na
economia mundial e nós podemos capturá-lo oferecendo juros altos.
Esse é um conceito anacrônico, pois nenhum governo tem capacidade de
controlar o fluxo do capital financeiro internacional",
explicou.
Custo da estabilidade monetária
Os demais participantes do debate também criticaram
o custo elevado da estabilidade monetária e as taxas de crescimento
econômico pífias da era do Real. O deputado Adelmo Carneiro Leão
(PT), que abriu o evento e conduziu as discussões, disse que a moeda
estável é um trunfo inegável da economia brasileira, mas é apenas um
pré-requisito para o desenvolvimento. Ele criticou o tímido
desempenho da economia nos últimos dez anos e a elevação dos
impostos e da dívida pública, mas lembrou que a solução para os
problemas do País não depende só do governo, mas sim de todos os
segmentos da sociedade. "Por mais bem intencionado que seja, o
governo sozinho não consegue fazer todas as transformações que
precisamos para tornar nosso País melhor", afirmou, ao final do
debate.
Presenças - Também
participaram do evento o presidente do Conselho Regional de
Economia, Ofir Viana Filho; a presidente do Sindicato dos
Economistas, Maria Dirlene Trindade Marques; e o presidente da
Sociedade dos Economistas, Carlos Alberto Teixeira de Oliveira.
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