Desafios da agricultura orgânica são debatidos em comissão

Os desafios da agricultura orgânica, como as tecnologias de produção, os financiamentos, assistência técnica, certifi...

12/08/2004 - 00:00
 

Desafios da agricultura orgânica são debatidos em comissão

Os desafios da agricultura orgânica, como as tecnologias de produção, os financiamentos, assistência técnica, certificação e mercado foram debatidos pela Comissão Especial da Fruticultura da Assembléia Legislativa nesta quarta-feira (12/8/04). A reunião, solicitada pelos deputados Laudelino Augusto (PT), Ana Maria Resende (PSDB) e Carlos Pimenta (PDT), teve a participação de técnicos e pesquisadores da área. A deputada Ana Maria Resende lembrou que o Brasil gastou, em 2003, R$ 3,1 bilhões com agrotóxicos e destacou a importância de se debater alternativas para a produção agrícola.

O coordenador técnico da Emater/MG, Leonardo Moreira, definiu a produção orgânica de alimentos como o sistema alternativo de produção agropecuária para se obter produtos de qualidade, utilizando técnicas e insumos naturais renováveis que respeitem o meio ambiente. Além disso, pelo conceito adotado pelo técnico, essa produção precisa satisfazer os princípios da sustentabilidade, atingindo a viabilidade econômica e propiciando justiça social aos envolvidos na atividade. Leonardo Moreira afirmou que a Emater tem hoje 144 técnicos treinados em agricultura orgânica, que prestam assistência a 1.511 famílias no Estado. "É preciso preparar o agricultor para garantir o desenvolvimento sustentável de suas atividades", afirmou.

Ele defendeu a organização rural, o planejamento participativo e a implementação de um programa de capacitação em agricultura orgânica como essenciais para o desenvolvimento da agricultura orgânica. Segundo ele, esse sistema de produção é praticado, sobretudo, por famílias de agricultores. Outra informação trazida durante a reunião pelo chefe adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Milho e Sorgo, Décio Karam, foi que a empresa está adequando as tecnologias desenvolvidas pela empresa para serem utilizadas na produção orgânica e na agricultura familiar não-orgânica.

Defesa sanitária - Já o diretor técnico do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Pedro Luís Ribeiro Hartung, defendeu que a defesa sanitária é o contraponto da produção orgânica. Ele acredita que seja impossível desenvolver a produção natural de alimentos saudáveis, sem uso de fertilizantes e agrotóxicos, com a introdução ou dispersão de pragas de controle difícil. Ele citou o exemplo da sigatoka negra, doença que ataca a bananeira. "Minas Gerais é o quarto produtor nacional de banana, mas precisamos trabalhar com a informação de que provavelmente a sigatoka chegará ao Estado, afetando gravemente a produção", afirmou.

Pedro Hartung defendeu ainda prioridade na implementação da fiscalização da produção de mudas certificadas; urgência na liberação dos recursos para a defesa sanitária e aporte de recursos, apoio e conjugação de esforços para a implantação de viveiros de plantas matrizes indexadas.

Brasil sediará feira de produtos orgânicos

A maior feira internacional de produtos orgânicos, a BioFach, terá uma edição especial para a América Latina. O evento acontecerá de 8 a 10 de setembro no Rio de Janeiro. A informação foi apresentada à comissão por Rosina Guerra e Maria Beatriz Martins Costa, respectivamente diretora e coordenadora do Projeto BioFach América Latina Planeta Orgânico. Elas também comentaram o comportamento do consumidor de produtos orgânicos, revelado em pesquisas feitas durante os 40 seminários da BioFach, realizadas em vários estados brasileiros. Os dados mostram que a saúde é o principal fator associado aos produtos orgânicos.

Compromisso social - Maria Beatriz também informou que hoje há uma tendência do consumo saudável e que o consumidor também está preocupado com o comprometimento social e ambiental das empresas. Ela citou o relatório da International Finance Corporation, instituição ligada ao Banco Mundial, que prevê que o Brasil deve se tornar o país emergente líder em projetos de investimentos socialmente responsáveis. Maria Beatriz também defendeu que o mercado interno para os produtos orgânicos seja visto com mais atenção.

Lei federal prevê novas modalidades de certificação

Míriam Ester Soares, do Colegiado Estadual de Produtos Orgânicos de Minas Gerais, do Ministério da Agricultura no Estado, afirmou que a certificação garante o acompanhamento e a avaliação do processo, e a conformidade com as normas de produção orgânica vigentes. Ela falou sobre a Instrução Normativa nº 7, de 1999, que estabelece normas para produção, processamento, envazamento, transporte e armazenamento de produtos orgânicos de origem vegetal, animal e extrativista.

Míriam Soares afirmou ainda que a produção orgânica não diz respeito só à ausência de contaminantes, mas ao processo como um todo, e destacou a aprovação da Lei Federal 10.831, no ano passado, que se orientou por normas internacionais. Segundo ela, além da certificação convencional, a lei prevê ainda outras duas modalidades, a participativa e a facultativa.

O procedimento convencional de certificação foi apresentado pela coordenadora geral da Certificadora de Produtos Orgânicos Sapucaí, com sede em Pouso Alegre, Débora Cristina Siqueira. Ela explicou que, após o envio das normas técnicas de produção orgânica, o produtor preenche uma ficha e apresenta à certificadora um mapa detalhado da propriedade, além do plano de manejo. Na visita de inspeção é feito o levantamento de dados da propriedade. A comissão de certificação verifica os dados, fornece parecer sobre a certificação e faz recomendações ao produtor para o cumprimento das normas. Em seguida, é feito o contrato de certificação.

A Embrapa está adequando as tecnologias desenvolvidas pela empresa para serem utilizadas para a produção orgânica e a agricultura familiar não-orgânica. A informação foi trazida à comissão pelo chefe adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Milho e Sorgo, Décio Karam. Segundo ele, 150 pesquisadores da empresa estudam hoje a agricultura orgânica por segmentos.

O deputado Laudelino Augusto (PT) concluiu a reunião agradecendo as contribuições que, segundo ele, farão parte do relatório da comissão. "Investir em agricultura orgânica é investir em qualidade de vida, saúde, meio ambiente, emprego e geração de renda", afirmou.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), relator; e a deputada Ana Maria Resende (PSDB). Além dos convidados citados na matéria, também participaram o professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, Gilberto Bernardo de Freitas; Pierre Santos Vilela, da Faemg; Leandro Soares Moreira, da Fetaemg; Priscila Lins, do Sebrae; e Geraldo Barros, do Indi.

 

 

 

 

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