Dirigente da Coparaíso nega uso irregular de recursos federais

A CPI do Café, reunida nesta quinta-feira (12/8/04) na Assembléia Legislativa, aprovou requerimento do deputado Rogér...

12/08/2004 - 00:01
 

Dirigente da Coparaíso nega uso irregular de recursos federais

A CPI do Café, reunida nesta quinta-feira (12/8/04) na Assembléia Legislativa, aprovou requerimento do deputado Rogério Correia (PT) para pedir uma perícia técnica oficial em assinatura de documento de empréstimo de um cooperado, feito junto ao Banco do Brasil, com o aval da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), em 1995. A suspeita dos deputados é de que haja uma assinatura falsificada em um aditivo do contrato original. Junto com este caso, a CPI discutiu ainda as relações comerciais da Cooparaíso com a Cooperativa dos Cafeicultores de Guapé (Coocafeg), antes da falência da última em março de 2003, que resultou num prejuízo de 39 mil sacas aos seus filiados, após um empréstimo federal de R$ 115 mil do Recoop, linha de financiamento de modernização de cooperativas.

A diretora financeira da Cooparaíso, Cecília Guidi Marcolini, negou o uso do dinheiro do Recoop na campanha do deputado federal Carlos Melles (PFL-MG), garantindo que o empréstimo do Recoop foi pedido em 1998 e só saiu em 2002, coincidindo com a campanha política daquele ano, quando a Cooparaíso foi uma das doadoras de Melles.

Os deputados ouviram do filho do cooperado Merched Alcântara Assad, já falecido, Walter Abrão Alcântara, a suspeita de que a assinatura da esposa do cooperado, Rosa Assad, para alongamento do prazo do empréstimo do Funcafé, seja falsa. O empréstimo de Merched é parte do valor total de R$ 5 milhões, tomado pela Cooparaíso com o Banco do Brasil em 1995. O empréstimo foi tomado pela Cooparaíso, num sistema de cédula-mãe, ou seja, o montante total é repassado à Cooparaíso, que o redivide com os cooperados interessados, chamados de cédulas-filhas. O valor que teria sido repassado para Merched Assad foi de R$ 284 mil.

Num primeiro momento, a garantia dada pela Cooparaíso ao Banco do Brasil foi de 65 mil sacas de café, trocadas posteriormente, no período do alongamento da dívida na vigência de outro programa federal (Programa de Saneamento de Ativos - Pesa), com os cooperados, por hipotecas de bens, já que o prazo de quitação da dívida passou de quatro para 20 anos. No caso da família de Merched Assad, foram hipotecadas duas fazendas. Os herdeiros contestam essa hipoteca, suspeitando que a assinatura da mãe, no contrato aditivo, seja falsa, mas reconhecem o empréstimo.

Cecília Guidi Marcolini confirmou o empréstimo do Funcafé de R$ 5 milhões, mas garantiu que a cooperativa não é responsável pela execução da dívida nem pela elaboração dos contratos e apresentação de documentos. Ela informou que todos os contratos foram feitos pelo gerente do Banco do Brasil em São Sebastião do Paraíso, à época, Gesiel Salgueiro Canoa. Ela disse também que a Cooparaíso é quem paga quando há inadimplentes, por isso, a cooperativa entrou com pedido como credora no espólio de Merched Assad.

A diretora da Cooparaíso disse ainda que desconhecia a suspeita dos herdeiros do cooperado quando à autenticidade da assinatura de Rosa Assad, e que tinha conhecimento apenas da proposta de negociação do débito contraído pelo pai. Marcolini sugeriu que todas as dúvidas sobre o aditivo do contrato do Funcafé fossem sanadas junto ao Banco do Brasil.

Situação invejável

Antes de passar às explicações, Cecília Marcolini deu um quadro da situação atual da cooperativa de São Sebastião do Paraíso, classificada por ela como "invejável". A Cooparaíso tem 44 anos de funcionamento, com 4.300 cooperados hoje, atuando numa área de 32 municípios. Dos cooperados, 81% são classificados como mini-produtores. O faturamento da cooperativa foi de R$ 195 milhões no ano passado e a previsão para o faturamento deste ano é de R$ 200 milhões. Sua produção fica em torno de 1 milhão de sacas por ano, com previsão de 1,2 milhão para esta safra. São comercializadas no mercado interno e externo cerca de 800 mil sacas por ano, ou 10% do total comercializado pelo País. A Cooparaíso é responsável ainda por 8% do faturamento de ICMS do café em Minas Gerais.

Parte da audiência foi dirigida pelo presidente da CPI, deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL). Ele não considerou a participação de Walter Abrão Alcântara como uma denúncia, conforme havia sido informado pelo relator, deputado Rogério Correia. Para ele, o herdeiro de Merched reconhece a dívida do pai e até já apresentou proposta de pagamento. Os deputados Domingos Sávio (PSDB) e Fábio Avelar (PTB) insistiram em esclarecer melhor os objetivos do responsável pelo espólio, fazendo diversas perguntas sobre o empréstimo, e concluindo também que os herdeiros reconheciam a dívida do pai.

O deputado Sargento Rodrigues (PDT) dirigiu o restante dos trabalhos, também inquirindo a diretora financeira da Cooparaíso para que explicasse a cota de responsabilidade da cooperativa nos empréstimos, em nome de quem foram depositados os R$ 5 milhões, e ainda insistindo para que a CPI recebesse toda a documentação relativa ao empréstimo do Funcafé. O deputado Rêmolo Aloise (PL) sugeriu que se levantasse se o reconhecimento de firma de Rosa Assad foi pedido pelo Banco do Brasil ou pela Cooparaíso, o que foi transformado em requerimento de Rogério Correia.

Diretora esclarece relação comercial entre Cooparaíso e Coocafeg

A diretora financeira da Cooparaíso respondeu aos questionamentos dos deputados sobre a relação da cooperativa com a Coocafeg, de Guapé. Ela começou sua fala esclarecendo que se reuniu com dirigentes da Coocafeg após receber um lote com qualidade inferior de café no final de 2002. Segundo ela, o café estava ruim, com palha, e o dirigente da Coocafeg, José Luiz Laudares, explicou que o armazém estava cheio e não conseguia embarcar os lotes que estavam na parte de trás do armazém, de melhor qualidade.

Em resposta ao deputado Sargento Rodrigues, Cecília Marcolini disse que a Cooparaíso comprava café dos produtores, inclusive da Coocafeg, e que não sabia que a organização estava à beira da falência. "Compramos café da Coocafeg no dia 13 de março e dias depois a cooperativa faliu. Eu não sabia dessa situação", confirmou. "Sempre agimos dentro da maior lisura com os estoques dos nossos cooperados", completou. Ela esclareceu ainda que o café comprado pela Cooparaíso só ficava nos armazéns da Coocafeg enquanto não era embarcado para venda.

Cecília Marcolini disse ainda, respondendo à pergunta do deputado Rogério Correia, que não sabe o que aconteceu na cooperativa de Guapé, e que somente pode dar opiniões em relação ao que pode ser feito para melhorar a gestão de armazenamento de café. Esclareceu também que a Cooparaíso é independente em relação à Coocafeg: "Nossa responsabilidade é com nossos 4.300 cooperados".

Em relação ao desaparecimento de mil sacas de café na Cooparaíso, entre 30 de novembro de 2000 e 21 de dezembro do mesmo ano, Cecília Marcolini disse que esse sumiço foi detectado e a cooperativa solicitou investigação à polícia. Segundo ela, esse inquérito encontra-se em fase de julgamento final pelo juiz da comarca de São Sebastião do Paraíso e que, comprovada a fraude, os produtores serão ressarcidos. Ela confirmou também que todo café que entra e sai da cooperativa tem nota fiscal.

Cooparaíso contratou serviço de auditoria externa

Cecília Marcolini explicou ainda que em 31 de julho deste ano foi feita uma auditoria na Cooparaíso pela empresa KPMG. Ela informou ainda que a Secretaria de Estado da Fazenda também está fazendo fiscalização e levantamento dos papéis da cooperativa. Nesse sentido, o deputado Sargento Rodrigues apresentou requerimento solicitando cópia dos relatórios feitos pela KPMG e pela Secretaria de Estado da Fazenda.

Ela parabenizou a decisão da CPI do Café de cancelar a reunião em São Sebastião do Paraíso na última sexta-feira (6). Segundo ela, houve piquete na porta da cooperativa e os caminhões foram bloqueados.

No final da reunião, que durou seis horas, Rogério Correia pediu que na próxima reunião ordinária da comissão, do dia 19 de agosto, sejam tratadas as questões relativas ao Banco do Brasil, Recoop e Funcafé. Também solicitou que o exame grafotécnico pedido à Polícia Civil com as assinaturas de Merched Alcântara Assad e de Rosa Simão Assad fique pronto até a reunião do dia 19.

Doação - Sobre a doação de campanha em 2002, feita pela Cooparaíso, Cecília Marcolini disse que R$ 117 mil foram destinados para o deputado federal Carlos Melles. E que essa doação é deliberada pelo conselho administrativo da cooperativa, do qual Carlos Melles é presidente. Na opinião do deputado Domingos Sávio (PSDB), são raros os candidatos que não receberam doações em suas campanhas e ele vê coerência na doação da Cooparaíso a Carlos Melles, "alguém que trabalhou anos no setor".

Cecília Marcolini disse ainda que a Cooparaíso não faz empréstimo em dinheiro e sim repassa insumos, mas salientou que não há nada que impeça empréstimo monetário. Salientou também que não é de seu conhecimento a existência de qualquer funcionário da cooperativa que seja agenciador de café, conforme questionada pelo deputado Fábio Avelar (PTB), em relação ao ex-funcionário da cooperativa, Sérgio Ricardo Salvador dos Santos.

Requerimentos aprovados

Além do requerimento para a perícia técnica na assinatura de Rosa Assad, a CPI aprovou mais os seguintes requerimentos:

Do deputado Sargento Rodrigues:

* que seja encaminhado ofício à Cooparaíso pedindo cópia do assentamento de livros de registro de quotas de cooperados, especialmente referentes aos anos de 1994 a 2004, e dos documentos de garantia oferecidas em cada operação daquela cooperativa;

* que seja encaminhado ofício ao cartório de São Sebastião do Paraíso para que informe se o reconhecimento de firma de Rosa Assad no aditivo do Banco do Brasil foi pedido pelo Banco do Brasil ou pela Cooparaíso;

* que seja encaminhado oficio ao cartório de Jacuí, para que forneça cópia do cartão de assinatura de Rosa Assad, bem como todo tipo de registro da mesma pessoa. E também registros de assinatura de Merched Assad;

* que seja pedido à Cooparaíso cópia da relação de todos os cooperados que se beneficiaram do empréstimo de R$ 5 milhões e ainda que seja informada a garantia oferecida por cada um deles. Esse requerimento foi aprovado com voto contrário do deputado Domingos Sávio.

Do deputado Rogério Correia, relator da CPI:

* que seja pedida à agência do Banco do Brasil de São Sebastião do Paraíso cópia dos seguintes documentos: recibo da garantia de 65 mil sacas oferecidas em aval ao Banco do Brasil e outros documentos referentes ao repasse de verbas do Funcafé;

* que seja convidado o gerente do Banco do Brasil de São Sebastião do Paraíso, Gesiel Salgueiro Canoa, para ser ouvido em audiência pública pela CPI, sobre as relações com a Cooparaíso.

Foi aprovado também requerimento do deputado Fábio Avelar (PTB), solicitando informações à Exportadora Guaxupé Ltda. e à Casa Sendas Comércio Exterior S/A, que pagaram corretagem pela venda de café a Sérgio Ricardo Salvador dos Santos. Ele quer saber se as empresas efetuaram pagamentos ao citado, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2002 e se positivo, como foram efetuados esses pagamentos, discriminando os valores mês a mês.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente; Sargento Rodrigues (PDT), vice; Rogério Correia (PT), relator, Domingos Sávio (PSDB), Fábio Avelar (PTB), Weliton Prado (PT), Dilzon Melo (PTB), Rêmolo Aloise (PL) e Adalclever Lopes (PMDB), relator parcial. Além da diretora da Cooparaíso, o superintendente da entidade, Orlando Carlos Editori, e o consultor de contabilidade, Fernando Mota.

 

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