Comissão levanta problemas da fruticultura no Projeto Jaíba

Omissões governamentais, mas também inércia e despreparo do produtor. Assim se dividem as culpas pelo insucesso do Pr...

02/08/2004 - 00:02
 

Comissão levanta problemas da fruticultura no Projeto Jaíba

Omissões governamentais, mas também inércia e despreparo do produtor. Assim se dividem as culpas pelo insucesso do Projeto Jaíba, a julgar pelos depoimentos prestados à reunião da Comissão Especial da Fruticultura, realizada nesta segunda-feira (2/8/04), em Mocambinho, distrito de Jaíba, Norte de Minas, às margens do Rio São Francisco. Cinco deputados da comissão se deslocaram para o Jaíba, o maior projeto de irrigação da América Latina, instalado a partir de 1987 com capacidade para oferecer 67 mil hectares de perímetro irrigado quando plenamente implantado. Laudelino Augusto (PT), presidente da comissão, louvou a proposta de fazer ali a primeira visita externa, já que o Jaíba tem experiência em fruticultura e constitui um importante polo produtor de banana, maracujá e hortaliças.

O deputado Carlos Pimenta (PDT), que representa a região e é também o relator da comissão, pediu aos produtores, técnicos e autoridades presentes que colocassem os problemas com franqueza, porque o governo de Minas estaria elaborando "com esmero" o Programa Mineiro de Fruticultura. Segundo Pimenta, o governador Aécio Neves teria dito a ele que "é preciso abandonar a retórica e partir para coisas práticas no Jaíba".

Falta de crédito prejudica produtor

Ninguém se fez de rogado, a começar pelo prefeito de Jaíba, Giovani Antônio da Fonseca, que enumerou alguns "gargalos" do desenvolvimento do projeto. O primeiro deles é a falta de titulação das terras, o que veda ao produtor o acesso ao crédito. O segundo é o custo da energia. "A Cemig dá desconto de 73% na tarifa noturna da energia, mas o produtor não tem como carregar canos nas costas, no escuro", disse Fonseca. O terceiro é a falta de um fundo de aval, que permita ao produtor tirar empréstimo de RS 48 mil para tocar sua gleba de cinco hectares. "Temos 1.370 pequenos produtores jogados à própria sorte. O governo já gastou US$ 500 milhões aqui e ainda não colhemos os melhores frutos, que são a geração de emprego e renda", concluiu.

Anderson Chaves, superintendente da Codevasf, apontou a geração de 12 mil empregos diretos na região, a metade deles nos perímetros irrigados da empresa, e citou um exemplo que viu no Sul do País, onde 45 mil pequenos proprietários produzem fumo para a Souza Cruz, e vivem em casas boas, com Índice de Desenvolvimento Humano excelente. Citou também a inovação da Central de Associações, um enorme galpão de processamento de frutas, que os deputados visitaram antes de se dirigirem para a reunião. "Eliminamos assim a figura do atravessador, que até alguns anos atrás era quem enriquecia classificando nossas bananas. Mas não basta ficar jogando dinheiro público aqui. É preciso reeducar o produtor", advertiu.

Para Marcelino Mariz, secretário municipal de Agricultura, o Programa Nacional de Agricultura Familiar não chega ao produtor como deveria. A "carta de aptidão" fornecida pela Emater permitiria tomar empréstimo de R$ 18 mil, mas o banco não empresta sem garantia real. "Mesmo assim, o Jaíba já é o maior produtor nacional de sementes de hortaliças. No entanto, as sementes de algodão para plantio só nos chegam atrasadas. A Bahia incentivou seu produtor e hoje é o segundo produtor de algodão do país. Nosso governo também precisa ter maior presença", reivindicou.

O produtor Lindomar Ferreira de Souza acusa o governo de ter usado as primeiras famílias que ali chegaram como cobaias para o projeto, inclusive para plantar variedades de bananas que não eram adequadas. "Muitos pagaram pelos erros e não se levantaram até hoje", disse ele. O presidente da Câmara Municipal, vereador Teixeira, notou que havia poucos pequenos produtores na platéia, e disse que a razão é que se encontravam desmotivados por não verem resultados práticos de reuniões como aquela.

A crítica foi rebatida pelo deputado Carlos Pimenta, que enumerou vários progressos resultantes de pressões políticas das quais participou: a construção do hospital de Jaíba, a continuação das obras do Jaíba II, que seriam interrompidas, o asfaltamento da estrada até Matias Cardoso e ao porto de Manga, e recentemente a luta para que a Advocacia-Geral do Estado libere a criação do fundo de aval.

Técnicos pedem criação de selo de agricultura familiar

Outra conquista dos defensores do Jaíba é a presença da Emater, que instalou escritório regional ali desde o mês de janeiro. Inúmeros técnicos estavam presentes à reunião e defenderam a idéia da criação de um selo de agricultura familiar para valorizar as frutas da região e aumentar as vendas do produtor, permitindo inserção na Conab e nos programas Fome Zero e Minas sem Fome. O gerente regional José Aloizio Nery afirmou que assistência técnica não faz milagre e que não há receitas prontas.

Carlos Mendes, do Banco do Nordeste, mostrou que a instituição tem boa vontade em apoiar o produtor, mas enfrenta entraves legais que limitam sua atuação. Vários outros participantes fizeram suas ponderações, como José Adalberto Castro, da Associação dos Bananicultores, os produtores José Aparecido Nascimento e Júlio Renilson, e o vereador Detinho.

O vice-presidente da comissão, deputado Luiz Humberto Carneiro (PSDB), elogiou a presença da Emater e da Epamig, mas criticou a ausência do IMA, da Ruralminas, do BDMG e do IEF. Pediu a todos que abandonassem a expressão "pequeno produtor" e esclareceu: "Pequena pode ser a gleba, mas o produtor tem sempre que ser considerado um empresário rural. Só com essa mentalidade é que vai progredir". Outro conceito emitido pelo deputado do Triângulo Mineiro foi que "o melhor aval é a comercialização. É preciso sermos profissionais também nisso".

Ana Maria Resende (PSDB), deputada representante da região, fez um apelo à busca de soluções políticas: "Precisamos dar força a quem pode nos dar força. Não se justifica que o Jaíba, com uma estrutura tão poderosa, esteja nessa situação. O norte mineiro corresponde a 42% do território do Estado e só tem quatro deputados. Se fôssemos mais fortes, conseguiríamos fazer um secretário da Agricultura, mas pela segunda vez o governador indicou alguém do Triângulo", exemplificou.

Ana Maria e Carlos Pimenta (PDT) criticaram um médico de Jaíba, que divulgou resultados - na opinião deles distorcidos - de uma pesquisa sobre contaminação de agricultores por agrotóxicos, prejudicando a imagem do produto e atingindo a economia local. Por sua vez, o deputado Leonardo Quintão (PMDB) concentrou suas críticas no primeiro problema apresentado: o da titularidade das terras. "Para resolver isso, só falta vontade política. Se o governo quiser, resolve em uma semana".

Requerimentos aprovados

Quatro requerimentos foram aprovados na reunião. O presidente, deputado Laudelino Augusto (PT), solicita uma visita ao Cefet de Rio Pomba no próximo dia 24, após a audiência pública já agendada naquela cidade. O deputado Carlos Pimenta pediu uma audiência com o presidente da Ruralminas, Eduardo Brandão, para tratar da titulação das terras, e outra com o advogado-geral do Estado, para apressar a liberação do Fundo de Aval. Ana Maria Resende requereu uma audiência com o presidente da Cemig, Djalma Morais, para tratar dos custos de instalação dos relógios noturnos.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), relator; Ana Maria Resende (PSDB), Leonardo Quintão (PMDB) e Luiz Humberto Carneiro (PSDB).

 

 

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