Deputado debate questão indígena com Ministério Público
O relator da Cipe Rio Doce, deputado José Henrique
(PMDB), reuniu-se nesta quarta-feira (7/7/04) no Ministério Público
Federal com o procurador-chefe, José Adércio Leite Sampaio, e o
procurador Adailton Ramos do Nascimento, autor de duas ações em
favor dos índios krenaks que vivem na reserva de Resplendor, no Vale
do Rio Doce. A reunião foi marcada como parte dos esforços políticos
para resolver impasses que podem atrasar o funcionamento da Usina
Hidrelétrica de Aimorés.
A reivindicação dos índios krenaks é de que as
grutas com inscrições rupestres que compõem o Parque Estadual de
Sete Salões seriam terra indígena e deveriam ser incorporadas à
reserva de 1.800 hectares, onde vivem aldeados cerca de 230
remanescentes da tribo. Outra ação do procurador Nascimento, já com
medida liminar, seqüestra R$ 1,78 milhão destinados ao parque pelo
consórcio construtor da hidrelétrica.
Os procuradores enumeraram para o deputado José
Henrique e os assessores da Cipe Rio Doce os argumentos que
originaram as duas ações, e esclareceram que nada têm contra o
consórcio formado pela Cemig e pela Cia. Vale do Rio Doce, nem
contra a operação da usina. Segundo o procurador Adailton
Nascimento, não há possibilidade de retirada das ações e pode ser
que demorem anos para serem julgadas. Nascimento esclareceu ainda
que o Ministério Público não quer que o dinheiro seja entregue aos
índios, como foi divulgado, mas que o valor fique à disposição da
Justiça, que definiria futuramente o seu destino.
Governo não desapropria nem indeniza
fazendeiros
O deputado José Henrique relatou a reivindicação
dos produtores rurais que vivem e trabalham na área do parque,
apresentada na reunião da Cipe Rio Doce realizada em Resplendor, no
último dia 2 de julho. Alguns deles estariam vivendo ali há 60 anos
e ficam impedidos de vender e de explorar suas terras, já que o
Governo não desapropria, nem indeniza. Os procuradores argumentaram
que, se for comprovado que aquelas áreas forem realmente terra
indígena, não poderiam mesmo ser compradas, nem vendidas. Os
fazendeiros teriam que se retirar, com direito simplesmente à
indenização pelas lavouras e benfeitorias.
Uma das medidas para resolver a situação foi o
lançamento de um edital pela Funai para contratação de um
antropólogo que prepare informação para a Justiça decidir se a
reivindicação dos krenaks é legítima ou não. O Ministério Público
prefere que seja um grupo de trabalho, composto também por
arqueólogo, agrônomo e agrimensor, evitando que a responsabilidade
caia sobre uma única pessoa. "O parecer desse grupo poderia estar
disponível em pouco tempo", acredita Nascimento.
Como começou o impasse que ameaça a operação da
usina
O Parque Estadual de Sete Salões foi criado por lei
cobrindo uma área de 12.500 hectares, abrangendo partes dos
municípios de Resplendor, Aimorés, Itueta e Santa Rita do Itueta.
Foi escolhido para receber R$ 1,78 milhão. Os índios krenaks
reivindicam a área onde estão as grutas ricas em inscrições
rupestres por acreditarem que ali vivam os espíritos dos seus
antepassados. Segundo o Ministério Público, se o parque for
implantado, a visitação dos índios ao local que consideram sagrado
sofrerá restrições. Se as grutas forem definidas como parte da
reserva, os índios é que decidirão quem entra ali ou não.
A usina hidrelétrica de Aimorés é uma obra de US$
230 milhões, que está sendo construída pela Cemig e pela CVRD para
gerar 330 megawatts a partir de outubro próximo. Uma das exigências
do contrato é a aplicação de 1% do valor total da obra em projetos
de compensação ambiental. São cerca de R$ 7 milhões, que foram
destinados aos parques de Sete Salões, Caparaó e Comboios. A
aprovação desses projetos coube à diretoria técnica do Ibama em
Brasília.
Cabe também ao Ibama conceder a licença de operação
da usina, depois de avaliar se todas as condicionantes ambientais
foram cumpridas. Na disputa iniciada pelo Ministério Público, o
Ibama não aceita que o depósito seja feito em juízo. O consórcio não
aceita que seja corrigido monetariamente, como o Ministério Público
exige. O deputado José Henrique anunciou que o consórcio está
disposto a fazer investimentos na reserva krenak para resolver o
impasse, e espera que seja possível definir outra área para receber
os recursos e cumprir as exigências para a licença de operação,
enquanto durar a disputa judicial em favor dos indígenas.
Presenças - Deputado José
Henrique (PMDB), relator da Cipe Rio Doce; José Adércio Leite
Sampaio, procurador chefe da Procuradoria da República em Minas;
procurador Adailton Ramos do Nascimento; Cristina Carneiro
Vasconcelos (gabinete dep. Márcio Passos); Veríssimo Gonçalves
(gabinete dep. Cecília Ferramenta).
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