CPI investiga prejuízos de 540 cafeicultores em Guapé

A CPI do Café realizou sua terceira reunião no interior de Minas nesta quinta-feira (1º/7/04) em Guapé, no Sul do Est...

01/07/2004 - 00:05
 

CPI investiga prejuízos de 540 cafeicultores em Guapé

A CPI do Café realizou sua terceira reunião no interior de Minas nesta quinta-feira (1º/7/04) em Guapé, no Sul do Estado, onde a Cooperativa de Cafeicultores (Coocafeg) foi responsabilizada pelo desaparecimento de 30 mil sacas de café, fato que veio a público em abril de 2003. De acordo com o primeiro intimado a depor, Nelson Lara, que assumiu a presidência da cooperativa após a descoberta da fraude, 540 produtores foram lesados, com a diminuição brusca das 39.525 sacas estocadas no galpão da cooperativa. O cálculo foi feito por uma comissão eleita pelos produtores. As 9 mil sacas restantes teriam sido usadas, segundo Nelson Lara, para saldar dívidas contraídas no programa de recuperação de cooperativas, Recoop. As demais sacas teriam sido repartidas entre os cooperados. Até as 18 horas, faltavam 11 depoimentos para serem colhidos pelos deputados da CPI.

O segundo depoente, o ex-classificador de café da Coocafeg, Douglas Soares Aguiar, que responde a um processo movido na Justiça pelos então diretores da cooperativa e chegou a ser preso, afirmou aos deputados que o déficit teria sido causado por má gestão e dívidas da Coocafeg, desconhecidas dos cooperados. Segundo ele, em 1998, com dois anos de criação, a entidade já tinha um prejuízo calculado em 6 mil sacas, montante que teria aumentado quando a cooperativa começou a vender café na bolsa de valores, por meio de empresas de Varginha e Guaxupé, dando como garantia parte do estoque. Os negócios estavam sujeitos à variação cambial, e com a alta do dólar o café teria sido perdido.

Com a parceria firmada em março de 1999 com a Cooperativa dos Produtores de Café de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), outro problema teria agravado a situação da Coocafeg: a Cooparaíso, única com permissão para comprar a produção de Guapé, estocava ali café misturado (escolha baixa), mas vendia só o café de boa qualidade, a um valor muito maior.

Deputados questionam intimados

Os deputados fizeram vários questionamentos sobre a relação de Douglas com o ex-classificador e corretor da Cooparaíso em Guapé, Sérgio Ricardo Salvador dos Santos, que segundo o depoente teria pedido emprestado sua conta bancária para depositar valores recebidos com corretagem. O promotor de Justiça da comarca de Guapé, Vítor Correia de Oliveira, afirmou que o Ministério Público está esperando a conclusão do inquérito policial que investiga o caso para dar inicio às investigações. Os trabalhos da CPI também vão subsidiar a investigação.

Nos depoimentos seguintes, o ex-diretor-presidente da Coocafeg, José Luís Laudares, disse que soube do desfalque da cooperativa em 2003, quando foi surpreendido ao constatar que o estoque continha palha ao invés de café. Ele afirmou que não foi feito o balanço de estoque na cooperativa no ano de 2002 por impossibilidade de movimentação no galpão, que estaria abarrotado de sacas após uma colheita muito positiva. Também negou que a Cooparaíso teria sido informada da fraude antes da sua divulgação.

Atendendo a requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), foi feita uma acareação entre o ex-diretor da cooperativa e Douglas Aguiar, a quem Laudares atribui a responsabilidade pelo roubo. Frente a frente, eles entraram em contradição ao responderem várias perguntas sobre dívidas da cooperativa nos anos anteriores ao desfalque e também sobre possível obtenção de vantagens pela Cooparaíso e sobre o provável acobertamento da troca de café estocado na Coocafeg.

Diretores teriam sido alertados

Após a acareação, a CPI prosseguiu com os depoimentos. Os ex-diretores da Coocafeg, Marcelo Ávila e Messias Benjamim, também acusaram como responsáveis pela situação os ex-funcionários Douglas Soares Aguiar e Sérgio Ricardo Salvador dos Santos, além de alguns empresários da região. O ex-fiel da Coocafeg, que ocupou o cargo a partir de maio de 2002, Luílio Antônio Bernardes, afirmou que chegou a alertar os diretores sobre o recebimento freqüente de café de qualidade ruim muitas vezes com retirada de café bom pela Cooparaíso. Ele confirmou que empresários da região usavam nomes de cooperados para comercializar café. O fiel que o antecedeu, Eugênio Rita, também relatou que recebia café misturado.

O ex-auxiliar contábil da Coocafeg, Carlos Wagner de Lima, disse que trabalhava apenas com escrituração fiscal e que não foi constatada qualquer diferença no balanço contábil. O ex-coordenador da contabilidade no período entre maio de 1999 e julho de 2003, Edilson Antônio Oliveira, mencionou um empréstimo que a Coocafeg teria tomado da Cooparaíso no valor de R$ 115 mil, como adiantamento de um financiamento do Recoop que seria contraído posteriormente.

O empresário Geraldo Magela Parula Teixeira, nome muito citado em vários depoimentos, confirmou que comprava café com notas fiscais de terceiros, de forma a não aparecer no negócio e não ter que declarar o lucro da corretagem para o imposto de renda. As transações, no montante de 20 mil sacas, seriam feitas com o consentimento dos funcionários Douglas e Sérgio. O empresário disse não saber responder a origem do café comercializado, mesmo com insistentes questionamentos dos deputados.

Outro depoente, o produtor Altedes Moscardini Damaceno, também reconheceu que fazia o mesmo tipo de transação comercial. Depuseram ainda o presidente da comissão provisória que fez o levantamento do armazém, Severiano Antônio Lara, a ex-funcionária Jozie Aline de Oliveira, o caminhoneiro Nésio José Miranda e o produtor José Afonso Turadi, segundo o qual a confiança dos cooperados na Coocafeg se originou do grande vínculo mantido com cooperativas de São Sebastião do Paraíso.

Requerimentos aprovados:

* Do deputado Adalclever Lopes (PMDB), para que seja solicitada ao presidente da Coocafeg cópia da ata da assembléia geral extraordinária realizada em 5 de setembro de 2002 contendo assinaturas de todos os participantes;

* do deputado Rogério Correia (PT), para que o convênio celebrado entre a Coocafeg e a Cooparaíso seja apreciado pela Assembléia sob a ótica da legalidade, de forma a se observar a viabilidade jurídica de ressarcimento dos produtores pelo prejuízo causado pela cooperativa;

* dos deputados Fábio Avelar (PTB) e Sargento Rodrigues (PDT), para que sejam intimados novos envolvidos no caso.

O presidente da CPI, deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL), afirmou que a comissão deve agendar para o dia 6 de agosto, logo após o recesso parlamentar, uma reunião em São Sebastião do Paraíso.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), Sargento Rodrigues (PDT), Rogério Correia (PT), Adalclever Lopes (PMDB), Fábio Avelar (PTB), Laudelino Augusto (PT), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); além do procurador de Justiça André Ubaldino.

 

 

 

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