CPI do Café apura desvio e empréstimo federal em
Guapé
A CPI do Café vai ao município de Guapé, Sul de
Minas, nesta quinta-feira (1º/7/04), para continuar as investigações
sobre o desvio de 30 mil sacas estocadas na Cooperativa de
Cafeicultores de Guapé (Coocafeg) e trocadas por palha, na
entressafra de 2002 e 2003. Também estará em pauta um empréstimo do
Banco do Brasil à Cooperativa dos Produtores de Café de São
Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), por meio do Programa de
Recuperação de Cooperativas (Recoop). Para subsidiar os trabalhos em
Guapé, a CPI aprovou requerimento pedindo à Justiça Federal em Belo
Horizonte cópia dos autos do inquérito policial que apura o
empréstimo e convidou autoridades investigativas da cidade para
esclarecer os fatos envolvendo a Coocafeg. Os envolvidos no caso
foram intimados a prestar depoimento à comissão. A reunião será às
9h30, no Ipê Campestre Clube.
Em reunião da CPI no dia 3 de junho, o delegado de
Guapé, João Bosco da Silva Penha, que investiga o caso, relatou aos
deputados que a diretoria da cooperativa teria usado os produtores
locais como "laranjas". A denúncia é de que eles emprestavam seus
nomes para cadastrar lotes de café sem qualidade comprados pela
empresa, que os classificava como bons, armazenava o produto e
vendia as sacas de qualidade ali estocadas. Ainda segundo o
delegado, os produtores eram iludidos, entre outros fatores, por
facilidades de crédito. O inquérito policial já está em fase de
relatório e, segundo João Bosco da Silva Penha, deverá indiciar
todos os envolvidos.
Empréstimo federal será apurado
Na reunião, os deputados também vão colher
informações sobre um empréstimo contraído pela Cooperativa dos
Produtores de Café de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), via
Banco do Brasil, por meio do Recoop. De acordo com o delegado da
Polícia Federal em Varginha, Célio Jacinto, responsável pela
investigação do empréstimo, que participou da reunião da CPI no
último dia 17 de junho, o indício de mau uso de R$ 313 mil
liberados para a Cooparaíso veio do fato de que parte do
dinheiro foi repassado à Coocafeg.
No processo investigativo constatou-se que a
Cooparaíso tinha um convênio de cooperação com a Coocafeg e que o
empréstimo teria sido para sanear dívidas da última. Para o
delegado, esta é a principal irregularidade, já que a Cooparaíso não
tinha dívidas, requisito para esse financiamento. Célio Jacinto
informou aos deputados da comissão que está tentando levantar a
documentação sobre o empréstimo desde março, mas que até o momento
não conseguiu nada, apesar de já a ter requisitado junto ao Banco do
Brasil e às cooperativas. Ele disse ainda que o empréstimo foi
autorizado diretamente em Brasília, no Banco do Brasil, com a
participação do deputado federal Carlos Melles (PFL-MG), presidente
da Cooparaíso e, na época, ministro do Turismo e Esportes.
Convidado e intimados
Foram convidados para a reunião de quinta-feira
(1º) a juíza de Direito, o promotor de Justiça, e o delegado de
Polícia Civil da Comarca de Guapé, respectivamente, Maraíza
Francisca Escolásticas Maciel Costa; Vítor Corrêa de Oliveira; João
Bosco da Silva Penha; além do juiz de Direito da Comarca de Morada
Nova de Minas, Sebastião Novato Martins.
Também foram intimados, pela Coocafeg, o
diretor-presidente, Nélson Lara; o ex-empregado, Douglas Soares
Aguiar; o ex-diretor-presidente, José Luiz Laudares; o ex-membro da
diretoria, Messias Benjamin; o ex-diretor Administrativo e
Financeiro, Marcelo Ávila; o ex-fiel depositário do armazém, Luílio
Antônio Bernardes; o ex-coordenador da contabilidade, Edilson
Antônio Oliveira; o ex-funcionário do departamento de pessoal e
escrituração contábil, Carlos Wagner de Lima; o responsável pela
armazenagem de café, Eugênio Rita; o caminhoneiro que prestava
serviços à Coocafeg, Nézio José Miranda; o membro da comissão
provisória que fez o levantamento do armazém, Severiano Antônio
Lara; o produtor de café, Altedes Moscardini Damasceno; o empresário
Geraldo Magela Parula Teixeira; o gerente-geral da agência do Banco
do Brasil de Boa Esperança, Ademir Fagundes; e Pedro Edison de
Castro, que fez parte da comissão que apurou possíveis fraudes na
Coocafeg, além do ex-empregado da Cooparaíso, Sérgio Ricardo
Salvador dos Santos.
CPI tem prazo de 120 dias
A CPI do Café foi criada para investigar casos de
desaparecimento de milhares de sacas desse produto em vários
municípios de Minas Gerais. Também estão sendo apuradas outras
irregularidades encontradas em cooperativas e armazéns de café, como
sonegação fiscal. A CPI já conta com apoio técnico da Secretaria de
Fazenda e do Ministério Público. Já foram realizadas audiências
públicas nos municípios de Carmo do Rio Claro (Sul de Minas) e
Espera Feliz (Zona da Mata). As reuniões ordinárias acontecem sempre
às quintas-feiras, às 9h30.
São membros da CPI do Café, como titulares, os
deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente; Sargento
Rodrigues (PDT), vice-presidente; Rogério Correia (PT), relator;
Adalclever Lopes (PMDB), relator auxiliar; Fábio Avelar (PTB); Irani
Barbosa (PL); e Zé Maia (PSDB).
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