CPI do Café deve apurar denúncias sobre Guapé e
Paraíso
A CPI do Café aprovou, nesta quinta-feira
(24/6/04), requerimentos com providências para esclarecer denúncias
sobre a Cooperativa dos Cafeicultores de Guapé (Coocafeg) e a
Cooperativa dos Produtores de Café de São Sebastião do Paraíso
(Cooparaíso), esta presidida pelo deputado federal Carlos Melles
(PFL-MG). Um dos requerimentos é para que o parlamentar - que já
havia enviado correspondência colocando-se à disposição para
comparecer em reunião da CPI -, seja convidado a prestar informações
sobre verbas do Programa de Recuperação de Cooperativas (Recoop)
adquiridas pela Cooparaíso. De acordo com o delegado da Polícia
Federal em Varginha, Célio Jacinto, que participou de reunião da CPI
no dia 17 de junho, a Cooparaíso teria contraído empréstimo pelo
Recoop para sanear dívidas da Coocafeg, o que seria uma
irregularidade, uma vez que a primeira não tinha dívidas, conforme
requisito desse financiamento.
Ainda nesse requerimento, apresentado pelo relator,
deputado Rogério Correia (PT), a comissão convida diversas pessoas e
representantes de instituições, incluindo a Coocafeg, que receberam
verbas do Recoop, via Cooparaíso, conforme confirmou o prefeito de
Guapé, José Rogério Lara (PMDB). O prefeito compareceu
espontaneamente na reunião desta quinta-feira com o objetivo de se
defender de denúncias feitas pela ex-funcionária da Cooparaíso
Fabiana Alves, que, em depoimento prestado também no dia 17 de
junho, afirmou que aquela cooperativa teria feito pagamentos em
cheques a ele. José Lara afirmou aos deputados que tem como provar
que não recebeu esses valores e classificou como calúnia as
denúncias, que resultariam de rivalidades políticas.
Ainda segundo o prefeito, a cooperativa de Guapé,
endividada, firmou parceria com a Cooparaíso na tentativa de
melhorar a situação dos cooperados. Ele afirmou que só soube do
rombo de 30 mil sacas em Guapé, trocadas por palha, quando a
Cooparaíso, alertada sobre as dificuldades da outra cooperativa,
retirou cerca de seis mil sacas que estavam armazenadas em Guapé.
Ele citou nomes de funcionários e compradores envolvidos que
acredita serem os responsáveis pela situação. O inquérito policial
sobre o caso, segundo informou Rogério Correia, deve estar concluído
na semana que vem.
CPI vai a Guapé
Para dar prosseguimento às investigações sobre a
Coocafeg, em Guapé, o presidente Sebastião Navarro Vieira (PFL)
informou que está agendada para a próxima quinta-feira (1º/7) uma
audiência pública naquele município. De forma a subsidiar os
trabalhos da comissão, o deputado Rogério Correia apresentou
requerimento, aprovado, pedindo à Justiça Federal em Belo Horizonte
cópia dos autos do inquérito policial que apura os fatos envolvendo
a cooperativa da cidade. Serão intimados, a requerimento de Correia
e do vice-presidente da CPI, deputado Sargento Rodrigues (PDT), oito
pessoas. Outro requerimento, do deputado Adalclever Lopes (PMDB),
relator auxiliar, pede que seja realizada uma inspeção física e
contábil na cooperativa de café de São Sebastião do Paraíso. O
requerimento teve voto contrário do presidente da CPI, Sebastião
Navarro Vieira, e do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).
Comissão prossegue investigação sobre Espera
Feliz
Na segunda parte da reunião, os membros da CPI
ouviram cinco intimados sobre o rombo de cerca de 200 mil sacas da
cooperativa de Espera Feliz, na Zona da Mata, dando continuidade à
reunião realizada naquela cidade em 18 de junho. O hoje liquidante
da Cooperativa Agrícola dos Pequenos Produtores Rurais do Vale do
Paraíso (Coavap), Wilson Ferreira da Fonseca, o primeiro a depor,
contou à CPI que, no período em que havia assumido a presidência da
cooperativa (setembro 2002/novembro 2003), recebeu o balanço
financeiro de 2001 registrando déficit de 75 mil sacas.
"Assumimos um mandato tampão, mas sem qualquer
responsabilidade", disse, afirmando que o grupo gestor da época
procurou a Polícia Civil para fazer denúncia contra o ex-contador da
empresa, Derly Rodrigues, mas o delegado considerou que não havia
elementos suficientes para abertura de inquérito. Ele disse que
registrou o caso no Conselho Regional de Contabilidade. Segundo o
liquidante, a Coavap tem dívidas com 1.049 dos 5.711 cooperados.
Já o ex-contador Derly Rodrigues afirmou que não
houve problema no fechamento dos balancetes anuais até o ano de
2001, quando disse ter se assustado com a situação da cooperativa e
exigiu que fosse feita uma auditoria externa, da qual não teria
participado mas assinado como responsável. Derly Rodrigues confirmou
que, só em 2001, a cooperativa pagou R$ 3 milhões em juros e afirmou
acreditar que o desfalque nos estoques se deveu a "informações mal
dadas ou problemas no sistema de informática". O contador afirmou
não ter sido chamado para prestar depoimento em nenhum dos cinco
inquéritos instaurados pela Polícia Civil.
Outro intimado, Claudino Nunes de Souza negou ser o
fiel depositário do armazém. Disse ser apenas provador de café e
assumiu a responsabilidade pelo sumiço de 125 sacas da matriz da
cooperativa. Segundo ele, o café saiu do armazém em um caminhão de
sua propriedade, com nota fiscal, e foi recebido por Edmar Barbosa,
funcionário da Coavap, em uma torrefadora próxima à cidade. Claudino
se negou a revelar quem foi o responsável pela nota fiscal que
liberou o carregamento e disse que fez isso para ajudar o diretor
financeiro da cooperativa, Dejacinto Valentim, seu colega de
trabalho por 16 anos. "Não ganhei nenhum centavo com isso",
garantiu. O provador de café, que também fazia a contagem do
estoque, disse que a cooperativa só deu pela falta das milhares de
sacas desaparecidas em janeiro de 2001 e negou responsabilidade: "Se
tivesse sumido com todo esse café, hoje eu teria bastante dinheiro".
A comissão também ouviu o provador de café da
Coavap na filial de Divino, Fabrício Mota Nacarati, suspeito por ter
apresentado uma evolução patrimonial incomum. Desempregado e dono de
uma empresa de corretagem de café falida em Alegre (ES), Fabrício
tem uma casa no valor de R$ 65 mil em Espera Feliz, além de um Ford
Mondeo ano 1997 e cavalos de raça. Neste ano, ele promoveu na cidade
shows das bandas O Rappa e Planet Hemp, com cachês em torno de R$ 20
mil cada. Fabrício trabalhou na Coavap entre dezembro de 1994 e
março de 2001. No final de sua carreira na empresa, ganhava oito
salários mínimos mais uma gratificação de R$ 200.
Respondendo a questionamentos dos deputados,
Fabrício negou irregularidades na evolução de seu patrimônio e disse
que a casa foi comprada com o dinheiro de herança da esposa. O carro
teria sido adquirido com a ajuda de seus pais, e os demais veículos
que ele já teve em seu nome justificam-se porque ele já trabalhou
com compra e venda de automóveis. E o valor total de suas seis éguas
não passa de R$ 20 mil, segundo Fabrício. Já o dinheiro para a
realização dos shows de grandes bandas, que incluem também Titãs,
Skank e Frejat, viriam da venda de ingressos antecipados e
empréstimos. "Sempre tive negócios paralelos e minha situação
financeira não é privilegiada", alega, garantindo que todo o estoque
da filial era movimentado com nota.
Para investigar a evolução do patrimônio de
Fabrício, a CPI aprovou requerimento de Rogério Correia pedindo a
quebra de seu sigilo fiscal e bancário. Em outro requerimento
aprovado, do mesmo deputado, a CPI encaminha ao promotor da comarca
pedido de prisão preventiva do ex-presidente da Coavap, que já foi
pedida. Ele está foragido.
Requerimento - Outro
requerimento aprovado, de Rogério Correia, solicita ao juiz de
Direito da comarca de Poços de Caldas cópia do relatório de
auditoria de fraudes e ocorrências da Cafecredi realizada pelo Banco
Central.
Presenças - Participaram da reunião os
deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente; Sargento
Rodrigues (PDT), vice; Rogério Correia (PT), relator; Adalclever
Lopes (PMDB), relator auxiliar; Irani Barbosa (PL); Dalmo Ribeiro
Silva (PSDB); Domingos Sávio (PSDB); Laudelino Augusto (PT); e
Rêmolo Aloise (PL), 1º-vice-presidente da Assembléia, além do
prefeito de Guapé, José Rogério Lara, e dos intimados citados na matéria.
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