Comunidade é contrária à construção de cadeião no bairro Serra Verde

Cerca de 600 pessoas lotaram o Salão Paroquial Santa Edwiges, no bairro Serra Verde, região Norte de Belo Horizonte, ...

24/06/2004 - 00:00
 

Comunidade é contrária à construção de cadeião no bairro Serra Verde

Cerca de 600 pessoas lotaram o Salão Paroquial Santa Edwiges, no bairro Serra Verde, região Norte de Belo Horizonte, durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, na noite desta quarta-feira (23/6/2004). Eles participaram do encontro para protestar contra a construção de um cadeião no bairro para abrigar 800 detentos. A comunidade local e os convidados também discutiram uma sugestão de solução para o caso, que seria construir nove unidades prisionais nos moldes da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), distribuídas nas administrações regionais da Capital mineira. A reunião desta quarta-feira foi a primeira de uma série, solicitada pelos deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PL), para mostrar à comunidade o significado das Apacs e seus resultados na ressocialização dos presos. Nesta quinta (24), às 20 horas, a reunião será no Salão Paroquial da Igreja Mãe da Divina Providência, na regional Pampulha.

A idéia contrária à construção de um Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) no bairro Serra Verde também foi unânime entre todos os convidados presentes à reunião. O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo, lembrou que na reunião ocorrida na Assembléia para debater o assunto, no último dia 2, ficou expressa também a vontade contrária de construir grandes presídios na cidade. Ele destacou ainda a Lei 12.936, de 1998, que proíbe a construção de presídios com mais de 170 detentos em Minas Gerais. A solicitação de construção do cadeião no bairro Serra Verde partiu, segundo o deputado, da Secretaria de Estado de Defesa Social.

O pároco da Paróquia Santa Edwiges, padre José Haroldo Corrêa Pinto, disse que uma construção desse tamanho não traria benefícios para a comunidade local. "Temos que lutar para impedir a construção desse cadeião na região e estamos dispostos a colaborar no direito do preso de se recuperar", opinou. Já o juiz da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Belo Horizonte, Herbert José Almeida Carneiro, insiste em acreditar que não passa de cogitação a construção desse presídio, já que ele afirmou que não recebeu nenhum comunicado oficial sobre o assunto. "Construir o presídio é esquecer a realidade dos condenados nos Ceresps. É agir na ilegalidade e desprezar a dignidade humana", disse. O administrador a Regional Venda Nova, Geraldo Afonso Herzog, confirmou que não existe nada oficial em relação à construção do presídio.

Ausência - O juiz Herbert Carneiro estranhou a ausência dos representantes do governo que foram convidados a participar da reunião. Assim como ele, dezenas de pessoas que fizeram uso do microfone criticaram a ausência do Executivo e a imposição na construção do presídio. Essas pessoas pediram ainda que o parque ecológico e o centro industrial não-poluente sejam instalados no bairro, conforme foi prometido. Com o slogan "cadeião não, emprego sim", eles resumiram o sentimento da comunidade.

Participantes defendem modelo das Apacs

A construção de estabelecimentos prisionais nos moldes da Apac foi apontada pelo juiz Herbert Carneiro como um caminho para ressocialização dos presos. Opinião defendida também pelo presidente do Conselho da Comunidade de Belo Horizonte, Joaquim Dimas Gonçalves: "Nós não podemos rejeitar os presos e a implantação do regime aberto, como nas Apacs, é mais humano e digno". Também defendendo o modelo das Apacs, o deputado Roberto Ramos, vice-presidente da comissão, afirmou que a Apac é única forma de reintegração social do preso e a construção do cadeião só aumentaria a dívida social com essas pessoas.

Para mostrar como vivem os presos nas Apacs, participaram da reunião a presidente e a tesoureira da Apac Nova Lima, Sandra Tibo e Ana Fortes, respectivamente, e internos-recuperandos da instituição. O recuperando Geraldo Souza Fraga, condenado a 27 anos, disse que na Apac de Nova Lima recebe apoio e não é maltratado. "No sistema tradicional fugi muitas vezes das prisões e quando saía de lá, aprontava mais ainda. Lá eles me tratavam como animal", disse. "Sou dono da minha culpa e sei que cabe somente a mim mostrar para a sociedade que me recuperei", completou. Para outro recuperando, que se identificou apenas como Said, a Apac é "uma benção" na sua vida e que lá é bem tratado.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PL), presidente e vice, respectivamente. Além das autoridades citadas na matéria, participaram da reunião a presidente da Associação Comunitária do bairro Serra Verde, Inêz Maria de Assis e os vereadores de Belo Horizonte Antônio Pinheiro, Alexandre Gomes, Silvinho Rezende e Conceição Pinheiro.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715